Bolsonarismo anti-ambiental está vivo no Congresso

A princípio, com Lula estamos no bom caminho, mas o Congresso que tome tento.

(Foto: TV Brasil/Ag. Brasil)


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Durante a campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro cogitou a saída do Brasil do Acordo de Paris, tratado internacional de preservação ecológica - e, em suma, da própria espécie humana - resultante da COP21 (21ª Convenção das Partes sobre Mudança do Clima) e da Convenção-Quatro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ambas realizadas em 2015. O Brasil era, havia tempos, protagonista do debate global sobre meio ambiente, primeiro porque a maior reserva florestal do planeta está em seu território, segundo por ter assumido as mais ousadas metas ambientais entre as nações signatárias do Acordo. Alguns desses compromissos, no entender do Bolsonaro candidato, afetariam a soberania nacional.

Diante de reações negativas tanto de ambientalistas quando da banda exportadora do agronegócio, Bolsonaro retrocedeu, afinal o que se diz “no calor de uma campanha” não pode ser levado ao pé da letra. Se não saiu do Acordo de Paris, por outro lado, reduziu drasticamente as metas brasileiras.

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Barrar o avanço do desmatamento, reduzir a emissão de gases de efeito estufa, demarcar terras indígenas cobiçadas para mineração e outras ações ambientais não só não estiveram na lista de prioridades de Bolsonaro como ele trabalhou contra tudo isso. Para o capitão medievo, a defesa do meio ambiente constituiria “ativismo ambiental xiita”, o qual atravancaria o desenvolvimento econômico, como se as nações desenvolvidas não exigissem práticas sustentáveis para realização de negócios bilaterais. 

A imagem anti-meio ambiente de Bolsonaro reforçou-se quando foi divulgado o nome de Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores. Araújo não apenas integrava a corrente cética quanto ao aquecimento global quanto acreditava que a mudança climática só existia em discurso ideológico da esquerda, parte de uma “tática globalista de instilar o medo para obter mais poder”. 

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O mundo esteve atento e o Brasil tornou-se pária global sob Bolsonaro.

O ex-embaixador Rubens Ricupero foi um dos primeiros expoentes da intelectualidade brasileira a cobrar uma união de lideranças democráticas contra Jair Bolsonaro, ainda no período eleitoral. Como se sabe, não obteve sucesso, mas permaneceu como uma voz de alerta.

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“Na União Europeia, por exemplo, França, Irlanda, Polônia e Espanha já resistem muito a acordos com o Brasil por serem países com forte proteção à agricultura. Nessa área, corremos o risco de perder mercados se descuidarmos da questão ambiental”, advertia Ricupero em 2018.

“Hoje em dia, os temas que contribuem para dar uma imagem positiva a um país são meio ambiente, direitos humanos e proteção aos indígenas”, dizia. Ainda é assim.

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Durante a campanha eleitoral em que Bolsonaro foi eleito, uma entidade denominada Coalização Brasil Clima, Florestas e Agricultura endereçou a todos os candidatos uma carta em que reafirmava o compromisso com a segurança alimentar, hídrica e climática da humanidade. Entre os 180 signatários estavam alguns dos maiores produtores agrícolas brasileiros, como Amaggi, Cargill e Fibria, e ONGs como Ipam, Imazon e WWF. Eis um trecho do documento: “A agricultura brasileira depende de condições climáticas, como chuva, umidade e temperatura. Essas condições só podem ser asseguradas pela conservação das florestas. As áreas protegidas, por exemplo, sejam elas unidades de conservação, terras indígenas ou territórios quilombolas, ajudam a preservar os serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas e fundamentais para o agronegócio, como a água, a redução da erosão, a atenuação de extremos climáticos, os polinizadores e o habitat necessário aos controladores de pragas e doenças”.

O governo Lula tem retomado os compromissos ambientais assumidos pelo Brasil no passado, mas parece que o Congresso Nacional permanece apegado aos motes bolsonaristas antimeio-ambiente, basta ver o que os deputados fizeram com a Pasta de Marina Silva e ensaiam fazer com o Marco Temporal das demarcações de terras indígenas, abrindo espaço para devastações. Não se pode ignorar que muitas áreas habitadas por indígenas guardam atrativos minerais de valor incalculável. O empenho de setores para desterrar essas populações originárias em nome de um suposto desenvolvimento revela uma face cruel dos tempos atuais: a sobreposição do valor econômico sobre os mais básicos princípios humanistas.

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Modelo para Bolsonaro e bolsonaristas, Donald Trump tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, mas o porte econômico daquele país possibilitou uma espécie de absorção das consequências. No caso brasileiro, prevalecesse o espírito destruidor de Bolsonaro seriamos retaliados comercialmente sem piedade. A princípio, com Lula estamos no bom caminho, mas o Congresso que tome tento.

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