Biden presssiona Bolsonaro a romper com Putin

"Aumentará ou não a escassez interna com aceleração consequente de preços e desemprego? Tudo é imprevisível na guerra", escreve César Fonseca

Jair Bolsonaro e Joe Biden
Jair Bolsonaro e Joe Biden (Foto: REUTERS/Adriano Machado | REUTERS/Leah Millis)


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Por César Fonseca 

O objetivo central de Joe Biden agora é compensar os europeus pela perda inflacionária do abastecimento do petróleo russo, devido às sanções econômicas americanas à Rússia; tenta garantir a eles o abastecimento do produto extraído do pré sal no Brasil. Biden joga Brasil de chofre na nova geopolítica americana na guerra na Ucrânia; o presidente capitão é convocado, imperialmente, pelo imperador, a elevar exportações para a Europa, sem se preocupar com as consequências para o mercado interno; aumentará ou não a escassez interna com aceleração consequente de preços e desemprego? Tudo é imprevisível na guerra. Uma coisa é certa: não se pode esperar o melhor, mas o pior, no curto prazo de instabilidade mundial total.

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Biden já pressiona Bolsonaro nesse sentido, o que tende a levar o Brasil a se engajar na estratégia da OTAN de manter máxima pressão sobre a Rússia; o chefe da Casa Branca quer, sobretudo, que o Brasil garanta substituição do abastecimento russo pelo abastecimento brasileiro e latino-americano; engajariam nessa tarefa Brasil, Nicarágua e México, segundo defende Biden.

Novo cenário, novas tensões; estaria dessa forma assegurada substituição do petróleo russo pelo latino-americano, na tarefa de abastecer Europa? Pintaria, como defende o império de Tio Sam, grande aliança atlântica, em plena guerra da Ucrânia, para polarizar com a união China-Rússia e Ásia?

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POLITIZAÇÃO DA GUERRA

Ganharia fôlego os BRICs, do qual Brasil é idealizador, e o assunto, em campanha eleitoral, ganha fôlego; se Bolsonaro submeter-se à pressão de Biden, Lula esquentaria ou não o discurso pelos BRICs, polarizando, internamente, a guerra geopolítica EUA x Rússia-China; em contrapartida, Bolsonaro e forças armadas brasileiras poderiam se engar nas forças imperialistas americanas?

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O eixo da economia será ancorado nas exportações do petróleo para Europa a partir de agora? A mudança de rumo da Petrobrás, no calor da guerra, já está sendo dada pelo novo presidente, Adriano Pires, lobista pela privatização da empresa, no curto prazo, como já admite, também, o presidente Bolsonaro.

Desenha-se guerra econômica; a viagem relâmpago do comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira aos Estados Unidos para receber as orientações americanas ao governo para condução na nova  política geopolítica do petróleo para a América Latina é o fato novo na política de segurança dos Estados Unidos para a América Latina.

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O choque entre duas orientações conflitantes entrou em cena. O governo tem que dizer se vai atender Biden ou Putin; está em questão a opção brasileira para geopolítica nacional: marchar para e com a América do Norte ou para e com o Leste e a Ásia, superpotência emergente, com a unidade Rússia-China-Ásia?

PRIORIDADE DO IMPÉRIO

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Qual será, a partir de agora, a prioridade: usar a Petrobrás para alavancar a indústria nacional ou reprimarizar a atividade petroleira? Agregar valor industrial ao produto primário a fim de produzir emprego de qualidade e desenvolvimento econômico sustentável ou submeter-se à recolonização extrativa mineral?

Essencialmente, a prioridade passa a ser exportações, não o mercado interno; este fica para segundo ou terceiro plano, enquanto os esforços forem canalizados para salvar os europeus da crise de abastecimento inflacionário. Quanto tempo durará essa opção geopolítica negativa para a industrialização brasileira? Novas circunstâncias em cena.

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Se Biden não garantir aos europeus o completo abastecimento por meio de oferta brasileira e latino-americana, capaz de socorrê-los, emergencialmente (por quantos anos?), a Europa tenderia abandonar OTAN; propenderão ao Leste e à Asia, coordenadas pela China-Rússia, para se ligar mais ao Leste e à Ásia? Afinal, estarão lá as fontes de comércio, indústria e finanças no mundo pós globalização unilateral.

UNILATERALISMO X PLURILATERALISMO

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 A Europa busca já furar o bloqueio americano a Putin, cuja ação estratégia é forçar o plurilateralismo para a pós-globalização, rompida hegemonia neoliberal norte-americana; a realidade não cabe mais na fôrma do neoliberalismo unilateral; a implosão do unilateralismo está acontecendo na Ucrânia e Putin, nessa disputa, sai por cima, por dispor de poder militar e econômico ancorado em nacionalismo russo; estimulado por nova força russa, Putin ensaia desdolarização da economia mundial; só recebe agora rublo pelas mercadorias russas. A desdolarização da economia mundial passa a fazer parte do plurilateralismo.

A força de Putin se faz sentir brutalmente no mercado monetário que abala a estrutura básica do sistema financeiro internacional ancorado no padrão-dólar. Ao exigir rublo para vender suas mercadorias, cria-se moeda, estimula mercado de moedas paralelo no compasso da instabilidade crescente do dólar; o dólar desperta desconfiança, enquanto fortalecem moedas ancoradas em riquezas reais, caso russo, que Putin potencializou politicamente, com a força das armas. Zelensky, presidente da Ucrânia, rendeu-se à nova realpolitik.

POLITIZAÇÃO DA PRIVATIZAÇÃO

 O governo Bolsonaro diante do cenário mundial fica entre ter que optar por Putin ou por Biden, numa polarização semelhante à que vai se configurando no plano político brasileiro; não há lugar para terceira opção, bolsonarismo x lulismo, como demonstra a desarticulação estrondosa do PSDB.

Petrobrás esquentará campanha eleitoral; sociedade aceitaria suposta opção de Bolsonaro de exportar todo o petróleo do pré sal, como quer Biden, para salvar a Europa, fragilizada diante da Rússia? 

Qual a posição de Lula, que, no Rio de Janeiro, nesta quarta feira pediu cessar fogo imediato na Ucrânia e defendeu a volta do nacionalismo para administrar a Petrobrás? A pressão de Biden sobre Bolsonaro para garantir exportações para o mercado europeu aceleraria ou não a entrada do Brasil na União Europeia? 

Sairia vitoriosa ou não a geopolítica de Biden de encanar o Brasil na União Europeia - e quem sabe à OTAN - para engordar bloco ocidental contra Vladimir Putin e Xi Jiping?

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