Biden estabelece programa de dominação sobre América Central
Os recuos do plano de Biden em relação à política de Trump são, na sua grande maioria, engodos para disfarçar sua política criminosa
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por Juca Simonard
Diante da crise de refugiados que afetou os Estados Unidos, o presidente do país, Joe Biden, apoiado pela esquerda como “mal menor” para vencer Donald Trump, estabeleceu um programa de aumento do controle econômico e policial na América Central.
Apesar de algumas concessões feitas para imigrantes - facilitando a aquisição da cidadania norte-americana, por exemplo - a política do democrata pouco se diferencia da de Trump. A própria concessão é uma expressão da amplitude da crise de refugiados para os EUA, uma vez que nos últimos anos dezenas de milhares de pessoas, fugindo dos países devastados pela própria política do imperialismo norte-americano, têm realizado caravanas para irem ao país.
A essência do plano de Biden pode ser resumida em que milhões de dólares em “ajuda” sejam aplicados no aprimoramento das forças militares e policiais locais, a fim de garantir o controle das economias locais pelos monopólios norte-americanos.
No programa, o presidente dos EUA fala em “prosperidade” e “segurança” para os países da América Central. Trata-se, efetivamente, da prosperidade dos monopólios capitalistas, que deitam e rolam em países golpeados pelos EUA, como Honduras (centro da crise de refugiados). Na questão da segurança, a política é aumentar a repressão na região e impedir que os refugiados cheguem aos EUA. Resumindo: a população local deve viver na terra arrasada promovida pelos norte-americanos, e se tentar fugir da fome, da miséria e da repressão, receberá o cassetete da polícia na nuca e irá preso.
O programa de Biden prevê “alocar investimentos privados na região”, ao mesmo tempo em que pretende destinar US$ 4 bilhões em "ajuda" a Guatemala, El Salvador e Honduras. Também pretende “colocar o combate à corrupção no centro da política dos EUA na América Central”. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que ele vai expandir o controle das economias locais pelas empresas capitalistas norte-americanas, através da “luta contra a corrupção”, o presidente norte-americano buscará controlar quais empresas devem ou não existir - ao estilo da Lava Jato no Brasil, que, lembremos, atuou junto com o Departamento de Justiça dos EUA e o FBI. Ou seja, Biden irá impor um regime de dominação econômica, policial, política e jurídica.
Mas não se resume a isso. Biden também vai “garantir que as práticas de trabalho não prejudiquem a concorrência”, pois, conforme lembra, “os EUA são a principal fonte de investimento estrangeiro direto na América Central”. Em outras palavras, o imperialismo norte-americano vai garantir que as relações trabalhistas não bloqueiem a lucratividade das empresas, através de uma profunda destruição das já frágeis leis trabalhistas nos países da América Central.
Também, para Biden, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial deverão “focar” nos países da América Central. Isto é, além do controle direto da economia pelas empresas norte-americanas, o presidente dos EUA também trava uma política de dominação através do endividamento dos países em instituições financeiras internacionais - que, na prática, respondem aos interesses dos EUA.
Para garantir o controle, o plano de Biden propõe “apoiar reformas em nível nacional para combater a corrupção nos serviços de segurança e fortalecer o judiciário” e “investir na melhoria dos padrões profissionais e no treinamento das forças policiais e de segurança da região”. O programa prevê também, a “reforma da justiça juvenil” para fortalecer a repressão contra a juventude marginalizada.
No estilo da Lava Jato, o imperialismo pretende “fornecer assistência técnica a juízes e promotores para ajudar as autoridades a combater crimes financeiros de forma mais eficaz”.
A política de Biden também pretende “fortalecer os promotores para perseguir casos de violência doméstica e colocar os perpetradores atrás das grades”, usando a situação de opressão contra as mulheres para fortalecer a repressão do Estado no lar. Aliás, no sentido da política identitária do imperialismo, a mulher é usada também na questão da dominação econômica, uma vez que o presidente dos EUA também promete dar “prioridade aos programas que empoderam as mulheres”.
Continuação da repressão imperialista
Na questão policial, Biden dá continuidade à política de George W. Bush, que através da Mérida Initiative, em 2007, iniciou um plano que direcionaria bilhões de dólares para equipamentos militares, ajuda e infraestrutura no México, para “combater o tráfico”. Na prática, isso fortaleceu a repressão nas fronteiras da América, forçando o México a militarizar sua fronteira sul para impedir o acesso de imigrantes ao país.
Durante o governo de Barack Obama, do qual Biden foi vice-presidente, em 2013, Washington financiou 12 novas bases militares ao longo da fronteira com a Guatemala e um “cordão de segurança” de 160 quilômetros ao norte dela.
Obama também pressionou o México a iniciar um novo programa para fortalecer suas fronteiras no sul. Desde então, dezenas de milhões de dólares por ano foram destinados à militarização das fronteiras, fazendo com que o país prendesse dezenas de milhares de migrantes por mês. Por isso, quando Biden fala em acabar com o problema da imigração “pela raíz”, o que realmente significa é impedir os imigrantes de chegarem ao México para não terem nenhuma chance de chegarem aos EUA.
Os programas de Bush e Obama, que Biden dá continuidade, criaram uma verdadeira zona de guerra no sul do México, com alta repressão militar, deportações, abusos dos direitos humanos, entre outras coisas. Essa política foi levada a um nível superior com Trump, que fez o México colocar mais de 10 mil militares na fronteira com a Guatemala. O republicano também avançou na construção do muro no sul dos EUA, enjaulou crianças e separou famílias como nunca antes.
Através de chantagem com a “ajuda”, Trump forçou países como Guatemala, El Salvador e Honduras a aumentarem a repressão nas fronteiras e os coagiu a assinar acordos que permitiram os EUA a deportar pessoas com pedidos de asilo válidos.
Por mais que Biden tenha feito concessões diante da crise, como a revogação de tais acordos e, na teoria, “retomando os asilos”, ele pretende continuar aumentando a repressão e elaborou uma nova ofensiva para garantir os interesses econômicos dos monopólios na região.
Programa de "desenvolvimento", farra dos monopólios
A política dos EUA na questão econômica é basicamente enviar “ajudas” em troca de incentivos fiscais e leis ambientais e trabalhistas fracas, assim como o controle da economia local por instituições fiscais internacionais. O investimento estrangeiro flui ansioso para aproveitar terras férteis, recursos naturais e mão de obra barata.
É um esquema sem erros. Você destrói a economia dos países durante décadas, promove uma terra arrasada e golpes, e depois oferece “ajuda” em troca de poder continuar explorando até o último recursos destes países.
É justamente esse modelo que levou os países em questão ao aumento da miséria, da desigualdade social, da criminalidade e da imigração. Assim, o programa econômico e de “segurança” andam juntos. Destrói-se os países e fortalece-se a repressão para impedir a imigração.
Para manter a situação caótica sob o controle, os EUA têm financiado ditaduras militares há décadas na região, além de golpes de Estado. Vale destacar, que o golpe em Honduras, em 2009, iniciou a nova série de golpes pela América Latina, impondo regimes de direita em toda a região (Brasil, Paraguai, Equador, etc.).
O golpe em Honduras foi dado pelo governo Obama-Biden, que buscou impedir algumas reformas do ex-presidente Manuel Zelaya e impôs um regime fantoche que abriu ainda mais o mercado para empresas capitalistas dos EUA. Em 2014, a “Aliança pela Prosperidade” do governo norte-americano permitiu a construção de novas infraestruturas para beneficiar as corporações imperialistas.
Todas essas características - aumento da repressão e favorecimento dos interesses dos monopólios - estão no programa de Biden, que já deu um gosto de sua política para a imigração, quando do seu primeiro mês enquanto presidente dos EUA, pressionou os governos da América Central a reprimir mais de 7 mil imigrantes em “caravanas” para os EUA.
Logo assumiu o poder, e Biden já reabriu os campos de concentração para crianças de Trump e separou-as de seus familiares.
Em pouco tempo, o democrata já conseguiu ser mais agressivo que Trump e, apenas em fevereiro, 15 mil crianças sem os pais, desacompanhadas, foram colocadas sob custódia, sendo 5 mil delas presas nas prisões “temporárias”, sendo que muitas delas se mantêm nesta condição bem além do limite legal estabelecido, de 72 horas.
No total, cerca de 10.500 crianças desacompanhadas estão mantidas atualmente em abrigos classificados como “licenciados” para “cuidados de longo prazo”.
A policial Kamala Harris responsável pela América Central
Para piorar, Biden decidiu colocar sua vice, Kamala Harris, como responsável pela operação no Triângulo Norte da América Central, composto por Honduras, El Salvador e Guatemala. Harris tem histórico repressivo, tendo sido procuradora na Califórnia na maior parte de sua carreira.
Procuradora-geral na Califórnia, Harris fez parte do imenso aparato repressivo dos Estados Unidos, moedor de gente pobre, principalmente negra. A atual vice-presidente dos EUA tem um histórico na defesa de policiais que atiraram em civis. Da mesma forma, por mais que se diga contra a pena de morte, Harris é acusada por esconder as principais evidências que teriam "libertado um homem inocente do corredor da morte".
Durante os debates eleitorais, em 2020, a ex-procuradora não escondeu sua felicidade na repressão do povo pobre. Para ela, por exemplo, o fato de inúmeras famílias pobres (a maioria negra) não conseguirem consolidar uma disciplina escolar em seus filhos é motivo para a prisão dos pais - e ela comemora o feito de ter colocado diversos pais “ausentes” na cadeia.
Entre os horrores causados pela crise migratória estão questões como trabalho infantil, tráfico sexual, sequestro, tráfico de órgãos e a guerra às drogas, que caminham lado a lado o Estado carcerário, onde Harris fez sua carreira. Lembrando que os EUA têm a maior população carcerária do mundo.
Da mesma forma, quando senador, Biden foi um dos principais defensores da lei de encarceramento em massa, que levou os EUA à atual situação. Sua política repressiva atuou em conjunto com os interesses dos presídios privados, que lucram com os presidiários.
São esses que irão "resolver" a crise migratória na América Central.
Fica claro que os recuos do plano de Biden em relação à política de Trump são engodos para disfarçar sua política criminosa.
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