Biden comanda a cúpula da hegemonia e da vergonha

O mundo mudou e a democracia não pode mais ser vendida e imposta pela vontade de uma superpotência, escreve José Reinaldo Carvalho, editor internacional do 247

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante "Cúpula pela Democracia". 09/12/2021
Presidente dos EUA, Joe Biden, durante "Cúpula pela Democracia". 09/12/2021 (Foto: REUTERS/Leah Millis)


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A chamada "Cúpula pela Democracia", realizada por videoconferência nos dias 9 e 10 de dezembro alcançou ampla repercussão mundial, em razão da propaganda da mídia a serviço da Casa Branca e do Departamento de Estado. Mas essa repercussão não necessariamente se traduzirá em resultados positivos para o imperialismo estadunidense, que poderão ser inversamente proporcionais à sua força e à propaganda das suas propostas. 

Há indicações fortes de que esta cúpula foi mais uma tentativa da superpotência do Norte para instrumentalizar a democracia e os direitos humanos como arma para o exercício de sua hegemonia.  

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Os EUA usaram o seu poder na convocação da cúpula, mobilizaram os seus aliados e tudo fizeram para depreciar países como a China, Cuba,  Rússia, Venezuela, Bolívia, entre outros. A lista de convidados foi elaborada segundo critérios arbitrários, presididos por uma lógica hegemonista e ao serviço da estratégia de contenção de países que desempenham fator decisivo para a democratização das relações internacionais, a cooperação global e a paz mundial. 

Os Estados Unidos realizaram a cúpula sob o slogan de defender a democracia e lutar pelos direitos humanos. Usaram um conceito político para fazer um show e dar um golpe publicitário para vincar uma imagem de país democrático, cada vez mais esmaecida. 

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Mas o mundo mudou e a democracia não pode mais ser vendida e imposta pela vontade de uma superpotência, hoje em franco declínio. O mundo hoje é mais diverso, as experiências de organização de sistemas políticos desautorizam qualquer tentativa de usar a democracia como uma mercadoria exportável ou um modelo a ser seguido. A evolução histórica da humanidade já demonstrou que não há modelo único de democracia. 

O sistema democrático e de direitos humanos é uma conquista revolucionária da humanidade, fruto das lutas dos povos, inclusive as revoluções populares e proletárias que levaram os comunistas ao poder em diferentes países. A democracia não é um monopólio dos países dominados pela burguesia. As democracias burguesas adoeceram e até mesmo degeneraram, exibiram limitações e defeitos que não podem ser encobertos com o show de Biden.  

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Nas discussões que se desenvolvem há pelo menos duas décadas sobre o declínio dos Estados Unidos como potência mundial, um dos assuntos sobre os quais se dá maior ênfase é a deterioração do seu sistema político, a falsidade da sua democracia, a começar do modelo eleitoral, cada vez mais prisioneiro do domínio do dinheiro, um sistema que se afigura cada vez mais como uma plutocracia e se distancia da democracia. 

A polarização social, as desigualdades, o racismo, as discriminações e violências de todo tipo contra pobres, negros e imigrantes são outros indicadores da decadência da democracia estadunidense. Isto demonstra que é falsa a imagem que os EUA querem fixar e apresentar ao mundo, para pontificar como país líder das forças democráticas.

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A cúpula de Biden é um dos instrumentos do arsenal imperialista para impor sua hegemonia nas novas condições do mundo, explicitando métodos e objetivos neocolonialistas. Neste aspecto contam com uma vasta experiência, pontilhada de ações como golpes, intervenções e guerras, inclusive a que é hoje qualificada como híbrida, todas elas feitas sob o argumento de promover os direitos humanos e derrubar presidentes que consideram autocratas e ditadores. Em nome da defesa da democracia e promoção dos direitos humanos, os EUA cometeram crimes de lesa-humanidade. 

Agora usam a democracia como slogan para justificar o escopo central de sua política externa - lutar para conter a ascensão da China e o poderio nacional da Rússia. Com isso, dividem o mundo e introduzem fatores de confrontação no sistema internacional, demonstrando que sua política externa está a anos-luz de distância do multilateralismo que apregoam. 

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Os EUA querem também esmagar experiências revolucionárias, socialistas, a resistência e a luta anti-imperialistas conduzidas por partidos revolucionários e comunistas.

Estes, por sua vez, procuram dar uma contribuição ao mundo, construindo sistemas de democracia popular com estabilidade política e promoção de direitos humanos, políticos e sociais. 

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Biden preparou a sua cúpula da democracia para deixar uma herança positiva, revertendo o declínio do imperialismo estadunidense e afirmando sua liderança. Pode ter colhido um fracasso. Nem todos os países que compareceram concordam com os objetivos de sua política externa e suas ações. Muitos estavam ali protocolarmente, em atitude diplomática. Não querem derrubar pontes nem queimar navios com um país que ao estabelecer boas relações só lhes traz benefícios, como a China. 

Na verdade, com sua cúpula em busca da hegemonia, Biden pode ter deixado um legado de vergonha.   

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As forças progressistas e da paz no mundo percebem que a Cúpula de Biden nada tem a ver com democracia, direitos humanos e cooperação internacional. Foi uma trincheira para a imposição da hegemonia estadunidense.

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