Bernie Sanders: Lula americano x Trump
Lula não é marxista, mas o raciocínio dele é, por entender, como Marx, que a crise essencial do capitalismo decorre de insuficiência crônica de consumo, da qual o sistema capitalista padece desde o seu início

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Hanauer, empresário lulista
Lula não é marxista, mas o raciocínio dele é, por entender, como Marx, que a crise essencial do capitalismo decorre de insuficiência crônica de consumo, da qual o sistema capitalista padece desde o seu início.
É o mesmo que o candidato socialista democrata americano Bernie Sanders, favorito nas primárias para disputar com Trump, está pregando, mais distribuição da renda, mais justiça social.
Nick Hanauer, destacado empresário americano, que comunga com Sanders, vai na linha Lula-Bernie, dizendo, como destaca, hoje, o 247, que os trabalhadores e os pobres não são problema, mas solução, desde que estejam com os pés no orçamento da União, para fazer economia crescer.
Essa máxima, também, é de Getúlio Vargas, que chegou a chamar os capitalistas brasileiros de burros, como está no livro “Minha razão de viver”, de Samuel Wainer, por não entenderem que produção e consumo precisam andar juntos, por ser o sistema capitalista dependente, visceralmente, dessa dualidade intrínseca, no seu silogismo essencial: renda, consumo, produção, arrecadação e investimento.
Não adiantaria promoverem as bases da industrialização nacional, dizia Gegê, se, ao mesmo tempo, não promovessem conquistas trabalhistas, como as que assegurou na Constituição de 1937.
A Constituição de 1988 prossegue nesse caminho social democrata, depois de 20 anos de ditadura militar nacionalista, sem distribuir renda, inscrevendo direitos e garantias dos trabalhadores, agora, destruídos pelo bolsonarismo, apoiado, pela Fiesp, CNI, CNA etc.
Economia da solidariedade, não da ganância
No Brasil, caiu a classe empresarial no erro que aponta Nick Hanauer, defensor da economia solidária teorizada, no PT, pelo economista Paul Singer e muitos outros.
Os neoliberais, que deram o golpe de 2016, são, portanto, para a visão avançada de Nick, a grande desgraça da economia capitalista nacional, ao apoiarem, justamente, o contrário.
Procuram os capitalistas tupiniquins exterminar direitos e garantias trabalhistas e previdenciárias, ao mesmo tempo em que apoiam congelamento dos gastos públicos por vinte anos, justamente, os que representam renda disponível para o consumo.
Eis a burrice que Vargas apontava.
Por isso, estão morrendo de inanição, como se verifica, no momento, graças à desigualdade social, que produz fuga de capital, crise cambial, avanço da fome, miséria, tensão social e, claro, ameaça à democracia.
Sem consumidores, os capitalistas tupiniquins correm ao governo para pedir socorro em forma de Proer(banqueiros) e refis(empresários).
Caso contrário, entram em colapso por falta de consumidores.
Tiro no pé
O fato é que os empresários deram tiro no próprio pé.
Ao apoiarem congelamento, por 20 anos, dos gastos não-financeiros do orçamento público da União, expulsando os pobres e trabalhadores da sua composição orgânica, para privilegiar gastos financeiros, dando vida boa aos especuladores, colhem, quatro anos depois do golpe neoliberal, o desastre do PIB de 1% e todo o seu corolário nefasto.
Desesperado, o BC, diante da crise de insuficiência de consumo, lança mão do dinheiro empoçado da especulação.
Joga R$ 135 bilhões nos bancos, ao renunciar recolhimento de parte do depósito compulsório, reduzindo percentual recolhido de 31% para 25%, na tentativa de estimulá-los a emprestar.
Mas, não adianta: quem vai tomar esse dinheiro, se não tem salário para gastar?
Nick Hanauer, empresário realista, como Lula, político pragmático, como Marx, economista e filósofo materialista dialético e, também, como Malthus, crítico dos liberais puros adeptos do lassair faire de Adam Smith, entendem o oposto: sem consumo, o capitalismo não consegue sair da crise de realização de lucros.
Bernie Sanders avança espetacularmente nas primárias por causa disso: prega distribuição da renda nacional, vê o pobre como solução, não problema, como o veem Bolsonaro e Paulo Guedes.
Subconsumismo crônico
Como vencer o subconsumismo instalado pela macroeconômica ultraneoliberal de Guedes: austeridade fiscal ou distribuição de renda, expulsão do pobre e dos trabalhadores do orçamento ou sua inclusão?
Keynes, no seu tempo, primeira metade do século 20, para não contrariar os capitalistas e não ser demonizado por eles, viu a crise capitalista de 1929 como produto da escassez de investimento, não de consumo, como viam as crises capitalistas Marx e Malthus e como as vê, agora, Lula e Hanauer.
Por isso, diagnosticou falsamente que a bancarrota do lassair fair decorreu de insuficiência de investimento e não de consumo.
Que pregou?
Moeda estatal para puxar demanda global via dívida pública, que, agora, em escala global, financeirizada, virou problema, porque não pode mais suportar juro positivo e sequer novos investimentos, em meio à miséria exponencial globalizada.
A solução é, como defende Lula e Hanauer, bem como Marx e Malthus, melhor distribuição de renda, sem a qual não se combate insuficiência de consumo.
O remédio eterno dos liberais e, também, dos keynesianos e neokeynesianos é mais e mais investimento, em vez de melhor distribuição da renda.
No Manifesto Comunista, Marx e Engels pregam o que os comunistas chineses estão fazendo: taxar fortunas, heranças e rendas altas e centralizar o crédito e o câmbio no Banco Central, para dinamizar demanda global.
Super-capacidade de produção eleva exponencialmente a oferta em face de consumo insuficiente, que joga o sistema na guerra comercial deflacionária, se a continua sendo concentrada, tendo como resultado o desastre da desigualdade social.
Mea culpa tucano
Os próprios neoliberais tucanos estão rachados, depois que o economista André Lara Resende disse que o grande erro deles, a partir de 1994, com FHC, foi fixar taxa de juro acima, bem acima, do crescimento do PIB.
Disparou, com isso, desigualdade social, fuga de capital, instabilidade cambial, dívida, desindustrialização etc e tal.
O grande equívoco dos liberais e, também, dos keynesianos, neokeynesianos e que tais, como destaca o marxista Lauro Campos, em “Crise da ideologia keynesiana” e a “A crise completa – a economia política do não”, é inverter a causa da colapso capitalismo, apontando para escassez de investimento, quando, na verdade, tudo decorre da insuficiência crônica de consumo, como aponta o autor de “O capital”.
Adianta aumentar investimentos, se o sistema tem por objetivo, como diz Marx e outros grandes, como Malthus, destruir salários, para aumentar lucros do capital, já excessivamente sobreacumulado, via mais valia relativa e absoluta?
Segredo de polichinelo
Nick Hanauer está dizendo segredo de polichinelo, que a prática atual do capitalismo bárbaro brasileiro está demonstrando: não adianta reduzir juro real a 2%, 1%, zero ou negativo, se Bolsonaro/Guedes impõe salário mínimo regressivo com reajuste real zero ou negativo.
Como Lula, Hanauer afirma o óbvio ululante: o capital sem consumidor vira pó, promove, não o crescimento, mas desigualdade, diante da qual o investidor foge.
Quando, então, os capitalistas brasileiros, realmente, burros, vão entender que a solução, para eles, é Lula?
Bolsonaro é solução para Tio Sam, minha gente!
Com o trabalhador sem pé no orçamento, como diz Lula, repetido por Nick Hanauer, a vaca vai para o brejo.
É o que estamos assistindo ao vivo de camarote, nesse carnaval.
Alá, lá, ô, ô, ô, ô, ô!
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