Banco Mundial e Banco dos BRICS têm novos líderes e perspectivas diferentes

Ajay Banga vem do mundo das corporações internacionais; Dilma Rousseff traz um legado de redução da pobreza

(Foto: Ricardo Stuckert/PR | REUTERS/Eduardo Munoz)


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Publicado no Globetrotter em 10/4/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

No final de fevereiro de 2023, o presidente estadunidense Joe Biden anunciou que os EUA indicaram a nomeação de Ajay Banga para ser o próximo chefe do Banco Mundial, estabelecido em 1944. Não haverá outros candidatos oficiais para esta função, já que — por convenção — o nomeado pelos EUA é automaticamente selecionado para o cargo. Este foi o caso para os 13 presidentes anteriores do Banco Mundial — a única exceção foi a presidente interina Kristalina Georgieva, que ocupou a função durante dois meses em 2019. Na história oficial do Fundo Monetário Internacional (FMI), J. Keith Horsefield escreveu que as autoridades estadunidenses “consideram que o banco teria que ser encabeçado por um cidadão estadunidenses a fim de merecer a confiança da comunidade dos bancos e que seria impraticável nomear cidadãos estadunidenses para chefiar ambos, o Banco e o Fundo”. Portanto, por uma convenção não-democrática, o chefe do Banco Mundial deve ser um cidadão dos EUA e o chefe do FMI deve ser um nacional europeu (atualmente, Georgieva é a diretora-gerente do FMI). Portanto, a nomeação de Banga garante a sua ascensão ao posto.

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Um mês depois, o Conselho de Governadores do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que inclui representantes do Brasil, da China, da Índia, da Rússia e da África do Sul (os países do BRICS), bem como uma pessoa para representar o Bangladesh, o Egito e os Emirados Árabes Unidos, elegeram a ex-presidenta do Brasil Dilma Roussef, para chefiar o NBD, popularmente conhecido como o Banco dos BRICS. O Banco dos BRICS, que foi discutido pela primeira vez em 2012, começou a operar em 2016, quando emitiu os seus primeiros títulos financeiros verdes. Houve apenas três diretores-gerentes do Banco dos BRICS — o primeiro era da Índia (K.V. Kamath) e os dois seguintes do Brasil (Marcos Prado Troyjo e agora Rousseff, para concluir o mandato de Troyjo). O presidente do Banco dos BRICS será eleito pelos seus membros, não apenas de um único país.

Banga chegará ao Banco Mundial, cujos escritórios localizam-se em Washington, D.C., vindo do mundo das corporações internacionais. Ele passou a sua carreira inteira nestas corporações multinacionais, desde os seus primeiros tempos na Nestlé da Índia até a sua carreira seguinte no Citigroup e no Mastercard. Mais recentemente, Banga foi o chefe da Câmara Internacional de Comércio, uma instituição “executiva” das corporações multinacionais fundada em 1919 e baseada em Paris, França. Como diz Banga, durante o seu tempo no Citigroup, ele operou a sua divisão de microfinança e, durante o seu período no Mastercard, ele fez vários penhores concernentes ao meio-ambiente. No entanto, ele não tem experiência no mundo de finanças e investimentos para o desenvolvimento. Ele disse ao Financial Times que ele apelará ao setor privado para conseguir fundos e ideias. O seu currículo não difere da maioria dos nomeados pelos EUA para chefiar o Banco Mundial. O primeiro presidente do Banco Mundial foi Eugene Meyer, que construiu a multinacional química Allied Chemical and Dye Corporation (depois renomeada como Honeywell) e que foi do proprietário do jornal Washington Post. Tampouco ele tinha qualquer experiência na erradicação da pobreza nem na construção de infraestruturas públicas. Foi através do Banco Mundial que os EUA empurraram uma pauta para privatizar as instituições públicas. Homens como Banga têm sido integrais para a realização daquela pauta.

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Neste ínterim, Dilma Rousseff chega ao Banco dos BRICS com um currículo diferente. A sua carreira política começou na luta democrática contra a ditadura militar de 21 anos (1964 – 1985) que foi infligida ao Brasil pelos EUA e os seus aliados. Durante os dois mandatos de Lula da Silva como presidente (2003 – 2010), Dilma Rousseff foi uma ministra do gabinete e a sua chefe de gabinete. Ela assumiu o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o qual organizou o trabalho contra a pobreza do governo. Devido ao seu trabalho na erradicação da pobreza, Dilma se tornou conhecida popularmente como a “mãe do PAC”. Um estudo do Banco Mundial de 2015 mostrou que o Brasil havia “tido sucesso em reduzir significativamente a pobreza na última década”; a pobreza extrema diminuiu de 10% para 4% em 2013. “Aproximadamente 25 milhões de brasileiros escaparam da extrema ou moderada pobreza”, diz o estudo. Esta redução da pobreza não foi um resultado da privatização, mas sim de dois esquemas governamentais desenvolvidos e estabelecidos por Lula e Dilma: Bolsa Família e Brasil sem Miséria (que ajudaram as famílias com empregos e construiu infraestruturas como escolas, água corrente e sistemas de esgotos em áreas de baixa renda). Dilma Rousseff traz a sua experiência nestes programas, benefícios revertidos sob os seus sucessores (Michel Temer e Jair Bolsonaro).

Banga, que vem dos mercados internacionais de capital, gerenciará o portfólio de investimentos do Banco Mundial — de US$ 82,1 bilhões em junho de 2022. Haverá uma considerável atenção ao trabalho do Banco Mundial, cujo poder é alavancado pela autoridade de Washington e pelo seu trabalho com as práticas de empréstimos de austeridade de dívidas do FMI. Em resposta às práticas de austeridade de dívidas do FMI e do Banco Mundial, os países dos BRICS — quando Dilma foi a presidenta do Brasil (2011 – 2016) — estabeleceram instituições como o Arranjo Contingente de Reservas (Contingent Reserve Arrangement), como uma alternativa ao FMI, com um fundo de US$ 100 bilhões — e o Novo Banco de Desenvolvimento, com uma alternativa ao Banco Mundial, com outros US$ 100 bilhões como o seu capital inicial autorizado. Estas novas instituições buscam prover financiamentos para desenvolvimento através de uma nova política de desenvolvimento que não conduz a dívidas endêmicas. Ainda está para ser visto se a nova Rede de Think-tanks de Finanças dos BRICS conseguirá romper com a ortodoxia do FMI.

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Rousseff presidiu a sua primeira a reunião do Banco dos BRICS em 28 de março. Banga provavelmente será nomeado durante a reunião do Banco Mundial-FMI em meados de abril.

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