Bamiyan, Babilônia, Palmyra, Notre-Dame

Após um incêndio consumir a catedral gótica Notre-Dame, o jornalista Pepe Escobar afirma "a proposta do Estado francês para minimizar o desastre; organizar uma loteria beneficente. Isso é, privatizar o que é um compromisso e uma obrigação do Estado"; "Pinault (Gucci, St. Laurent) prometeu 100 milhões de euros de sua fortuna pessoal para a restauração. Arnault (Louis Vuitton Moet Hennessy) dobrou por baixo, prometendo 200 milhões de euros", relata; "Então, por que não privatizar de vez essa delicada obra imobiliária bem ao estilo capitalista de tragédia anunciada? Bem-vindos ao condomínio de luxo Notre-Dame, hotel e shopping anexados", critica  

Bamiyan, Babilônia, Palmyra, Notre-Dame
Bamiyan, Babilônia, Palmyra, Notre-Dame (Foto: REUTERS/Charles Platiau)


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Por Pepe Escobar, com tradução de Sylvie Giraud – Os Budas de Bamiyan foram destruídos por uma seita intolerante que se autointitulava seguidora do Islã. O Budismo em toda a Ásia ficou desconsolado. O Ocidente mal prestou atenção.

As ruínas remanescentes da Babilônia e o museu anexo foram ocupados, saqueados e vandalizados por uma base da Marinha dos EUA durante a invasão do Iraque em 2003. O Ocidente não prestou atenção.

Vastas extensões de Palmyra - um lendário oásis da Rota da Seda - foram destruídas por outra seita intolerante pretensamente seguidora do Islã, mas muito bem protegida por setores de "inteligência" ocidental. O Ocidente não prestou atenção.

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Dezenas de igrejas católicas e ortodoxas na Síria foram queimadas até o chão pela mesma seita intolerante que finge seguir o Islã, patrocinada e armada, entre outros, pelos EUA, pela Grã-Bretanha e pela França. O Ocidente não prestou atenção alguma.

Notre-Dame, que em muitos aspectos pode ser considerada como a Matriz do Ocidente, é parcialmente consumida por um incêndio teoricamente acidental.

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Especialmente o telhado; centenas de vigas de carvalho, algumas datadas do século XIII. Metaforicamente, isso poderia ser interpretado como a incineração do céu sobre as cabeças coletivas do Ocidente.

Carma ruim? Ou até que enfim?

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Agora voltemos ao âmago da questão.

Notre-Dame pertence ao Estado francês, que pouco prestou atenção, senão nenhuma a uma joia gótica que atravessou oito séculos.

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Fragmentos de arcadas, quimeras, relevos, gárgulas estavam sempre caindo no chão e eram guardados em um depósito improvisado no fundo da catedral.

Somente no ano passado, Notre-Dame conseguiu um cheque de 2 milhões de euros para restaurar a flecha - que ardeu no chão ontem.

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Restaurar toda a catedral teria custado 150 milhões de euros, segundo o principal especialista mundial em Notre-Dame, que por acaso é um americano, Andrew Tallon.

Recentemente, os conservadores da catedral e o Estado francês estavam em guerra.

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O Estado francês estava ganhando pelo menos 4 milhões de euros por ano, ao cobrar dos turistas sua entrada nas Torres Gêmeas, mas devolvia apenas 2 milhões de euros para a manutenção da Notre-Dame.

O reitor de Notre-Dame recusou-se a cobrar ingresso para entrar na catedral - como acontece, por exemplo, no Duomo de Milão.

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Notre-Dame sobrevive basicamente de doações - que pagam os salários de apenas 70 funcionários que precisam não apenas supervisionar as multidões de turistas, mas também organizar oito missas por dia.

A proposta do Estado francês para minimizar o desastre; organizar uma loteria beneficente. Isso é, privatizar o que é um compromisso e uma obrigação do Estado.

Então sim: Sarkozy e Macron, e suas administrações, são integralmente, direta e indiretamente, responsáveis ​​pelo incêndio.

Agora vem a Notre-Dame dos bilionários.

Pinault (Gucci, St. Laurent) prometeu 100 milhões de euros de sua fortuna pessoal para a restauração. Arnault (Louis Vuitton Moet Hennessy) dobrou por baixo, prometendo 200 milhões de euros.

Então, por que não privatizar de vez essa delicada obra imobiliária bem ao estilo capitalista de tragédia anunciada? Bem-vindos ao condomínio de luxo Notre-Dame, hotel e shopping anexados.

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