Balzac e o mercado de reputações

Adaptação de "Ilusões Perdidas" tem moldes clássicos, mas enfatiza as relações entre a imprensa e a sociedade da época, o que dialoga com as fake news de hoje



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Antes que Truffaut, Godard, Rohmer e a Nouvelle Vague lançassem sua revolução em fins dos anos 1950, o cinema francês era dominado por filmes como este Ilusões Perdidas (Illusions Perdues): transposições literárias de recorte clássico, bem vestidas e bem intencionadas, o chamado "cinema de qualidade". Um cheirinho de naftalina emana do filme de Xavier Giannoli, que traz à tela o romance de Honoré de Balzac com a pompa e a circunstância devidas a um verdadeiro tesouro nacional.  

O que não significa que não haja prazer em desfrutar da história do jovem poeta provinciano Lucien de Rubempré (ou será simplesmente Lucien Chardon?) em sua tentativa de vencer na Paris do início do século XIX. período da Restauração da monarquia. Giannoli comanda com galhardia um espetáculo envolvente, com um elenco de grandes astros (Cécile de France, Gérard Depardieu, Xavier Dolan, etc) e uma produção exuberante.  

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Quase tudo no filme remete ao classicismo e se prende a uma fórmula de superprodução de época. Uma única tomada parece saída de um filme mais contemporâneo, qual seja o close do pênis de Lucien associado ao dinheiro que ele recebe da Madame de Bargeton (Cécile de France). Mas há pelo menos um aspecto que dialoga com a atualidade. A adaptação enfatiza o retrato que Balzac pintou das relações entre a imprensa e a sociedade daquele momento. O termo fake news não existia, mas era disso que tratava o escritor no pano de fundo do romance.  

Levado pela ambição de reconquistar um título de nobreza, Lucien (Benjamin Voisin) usa o affair extra-conjugal com Madame de Bargeton para se aproximar do grand monde parisiense. Faz sucesso como jornalista da oposição liberal, apaixona-se por uma atriz de boulevard e, num lance de oportunismo, tenta cruzar a linha para o lado dos monarquistas. Através das aventuras de Lucien, Balzac descreve a imprensa e a ribalta como um mercado de reputações, onde quem melhor pagasse ganhava as melhores críticas e os aplausos mais sonoros.  

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O filme retrata esse ambiente com muita verve, ao mesmo tempo que traça o percurso desencantado dos personagens centrais, cujas origens e meio cultural os condenavam a permanecer à margem dos "salões". A falta de mobilidade social não permitia nada além de ilusões.   

 

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