Autoritarismo e machismo são o pano de fundo das críticas a Dilma
O maior motivo do ódio das elites contra contra Dilma, Lula e o PT é exatamente por seu maior feito: ter conseguido fazer as senzalas invadirem e compartilharem das benesses da Casa Grande
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Para grande parcela da sociedade brasileira a cultura machista ainda predomina e distorce o papel real que a mulher brasileira já alcançou na sociedade.
Muitos creem que ela é boa para ser dona de casa, cozinheira, faxineira, lavadeira mas não para ser engenheira, médica e muito menos para ser uma deputada, senadora ou dirigente política em altos escalões do governo.
A pouca quantidade de mulheres existentes hoje em cargos no Legislativo estadual e federal em relação ao que a própria lei eleitoral exige é prova disso. A lei não é cumprida porque os homens não fazem questão de terem mulheres na política. Apenas engolem a exigência.
E essa visão não é disseminada apenas por homens mas compartilhada também por mulheres. O machismo e o autoritarismo estão tão arraigados na cultura deste país que muitas mulheres ainda não conseguem enxergar que criticar publicamente e gratuitamente uma presidente da república mulher significa contribuir para que as conquistas femininas retroajam na história.
Quando Dilma chegou ao poder, e se manteve nele mais um mandato, fez feliz a muitas mulheres que viram ai reconhecidos os seus valores femininos, mas desagradou a milhares de machistas que se acham no direito de não aceitar que uma mulher chegue ao cargo mais alto da direção de uma Nação.
Aliada ao machismo de fundo, a situação de Dilma fica mais crítica devido à visão autoritária da oposição que não aceita perder, que não aceita que os interesses das classes dominantes deste país sejam contrariados.
Iniciada bem antes das eleições para impedir a reeleição de Dilma, a estratégia de tirar Dilma do poder se encontra hoje totalmente enraizada em setores da imprensa, justiça e parlamento nacionais. Todos estão de acordo em encontrar uma vítima para levar à forca, à guilhotina, para acalmar os ânimos acirrados da turba insatisfeita.
Para a oposição, o que vem depois não importa, desde que não seja o PT, e a continuidade da defesa de crescimento do país com distribuição de renda. Distribuir pra que ? Não querem que seus filhos estudem com negros nas universidades, nem que seu porteiro se sente ao lado deles no mesmo avião.
A campanha da elite brasileira para enfraquecer, humilhar e ou derrubar Dilma levou milhares de despreparados politicamente as ruas pedindo a volta da ditadura e o impeachment da presidente. Como não são organizados o movimento arrefeceu em termos de multidão mas permanece gangrenando a imagem da presidente na internet e na grande mídia.
Cada dia que passa me surpreendo mais com o desrespeito galopante que toma conta das redes sociais contra a figura de Dilma como presidente - o que poderíamos considerar um posicionamento político - mas principalmente me assusta o desrespeito pela figura de Dilma como mulher, que poderia ser a mãe, ou a irmã de cada um de nós. Este é um desrespeito aceito pela cultura autoritária e machista que ainda é forte no Brasil.
Chamar Dilma de gorda é um comportamento machista puro e simples. Vi muitas pessoas repetirem isso, rindo. Depois que a presidente emagreceu e ficou mais bonita, não vi as mesmas pessoas elogiando este fato. Se estava gorda era gorda, se emagreceu está “acabada “.
No meio da crise econômica mundial, que obviamente tem desdobramentos no Brasil, um dos mais conhecidos chargistas deste país desenhou Dilma de joelhos sendo decapitada. Com certeza ele acha bonito os vídeos de algozes do Estado Islâmico cortando cabeças na internet. Ele devia se envergonhar disso.
Adesivos vendidos pela internet mostram Dilma num posto de combustíveis com a mangueira da bomba de gasolina entre as pernas abertas; Mesmo após a ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, ter pedido "ação urgente" ao Ministério Público e à Polícia Federal para "impedir a produção, veiculação, divulgação, comercialização e utilização do material" criminoso, vários sites na internet continuam anunciando o produto.
Entender como normal ou se calar diante a propagação desse tipo de mensagem é referendar a violência contra as mulheres como algo aceitável dentro dos padrões de nossa cultura.
Até mesmo Joaquim Barboza, ex presidente do STF, surge das cinzas com saudades dos holofotes e decide dizer que Dilma comete crime de responsabilidade ao atentar contra o andamento do judiciário.
Quando Dilma atentou contra o andamento do Judiciário? Por acaso não gostar de delatores é atentar contra o Judiciário? Enlouqueceu de vez.
Ao afirmar que “a Constituição não autoriza o Presidente a ‘investir politicamente’ contra as leis vigentes, minando-lhes as bases”, a intenção de Barboza é clara : enfraquecer a imagem de Dilma perante a opinião pública, ajudar a campanha difamatória da oposição contra Dilma e o PT.
Ainda bem que existem ainda homens e mulheres que percebem e se preocupam com o que está acontecendo no Brasil. Esta semana me identifiquei profundamente com uma carta enviada a Dilma por Julia Dworkin, uma moradora do Rio de Janeiro e que se diz não petista.
Ela diz: “apesar das divergências políticas que tenho com o governo, te admiro profundamente Dilma. Admiro sua história, sua postura, sua coragem. Sofro com você todas as vezes que te atacam de forma pessoal, cruel e criminosa. Dói em mim. Toda vez que me deparo com esses ataques, sempre penso em como você está se sentindo ao ver aquilo. E penso em todas as vezes que isso aconteceu comigo e com mulheres que gosto. Quando vejo a forma que falam de você, lembro-me de quantas vezes homens me olhavam com aquele mesmo olhar de desprezo, e quantas vezes falaram de mim de forma desrespeitosa e cruel. Seu rosto abatido da última semana me representa. Representa todas as mulheres atacadas, agredidas, silenciadas e humilhadas deste país”.
A situação é preocupante mas quando vejo mulheres comuns que que saem do silêncio para defender Dilma em meio de uma campanha de pregação do ódio contra a presidente, percebo que pelo Brasil afora existem muitas júlias, apesar dos Aécios, dos Barbozas, dos Cunhas ...
O virulento e desrespeitoso ataque verbal sofrido por Dilma durante visita a universidade de Stanford, nos EUA, por dois jovens brasileiros que furaram o esquema de segurança, foi criticado por Paulo Blikstein, professor daquela instituição.
Em carta enviada ao Painel do Leitor da Folha, Blikstein afirma que a ação dos dois jovens ( que tem fotos juntamente com Bolsonaro em seus facebboks ) lembra a virulência de grupos políticos fascistas que infelizmente proliferam pelo mundo.
O professor dá um alerta ao Brasil: Entre erros e acertos do governo e da oposição, há um que ambos devem evitar a todo custo: ignorar o perigo do crescimento desse tipo de ideologia violenta e fascista, normalmente acompanhada de homofobia e racismo.
Neste momento é importante e decisivo que os movimentos sociais provoquem e incentivem o debate em torno do fim da pregação do ódio e sobre a democratização da mídia. Assim teremos melhores canais para expor a verdade e os pontos positivos das ações governamentais.
Este deve ser o objetivo da sociedade. Se unir em torno de novas conquistas, e não se dividir em nome do ódio e da humilhação de sua presidente. Chega de autoritarismo. O Brasil tem leis conquistadas ao longo de décadas de lutas e elas devem ser cumpridas.
Abaixo o machismo secular das fazendas e senzalas. O maior motivo do ódio das elites contra contra Dilma, Lula e o PT é exatamente por seu maior feito: ter conseguido fazer as senzalas invadirem e compartilharem das benesses da Casa Grande. Isso eles não conseguem aceitar.
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