Aumento da produção de cloroquina pelo laboratório do Exército pode causar mortandade de peixes no Rio de Janeiro

"Na melhor das hipóteses, vamos ter mortandade de peixes, por arritmia, no Rio de Janeiro, nos próximos dias. E, na pior... O uso abusivo do remédio de quem Bolsonaro se tornou o garoto-propaganda", alerta Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Reuters)


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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Nelson T®eich não só fez campanha, mas atuou como consultor informal da equipe do então candidato Jair Bolsonaro. É médico, mas ainda assim acabou preterido na escolha do primeiro escalão, para a pasta da Saúde. Foi, enfim, alçado ao cargo numa quinta-feira, dia 16 de março. Ao final de 29 dias e algumas horas, deixou o posto. Dá para reduzir assim, em três linhas e meia, a sua trajetória pelo (des)governo. Isto, porque já chegou lá derrotado. Ao aceitar substituir Luiz Henrique Mandetta, depois de ignorado na lista inaugural do mandato, deixou de lado os próprios brios. Na posse, fez cara de vaquinha de presépio. Tinha ombros caídos, o olhar sonolento e a voz, parecia vir do pé. No dia 2 de abril, ou seja, pouco menos de um mês antes de substituir Mandetta à frente da pasta, escreveu artigo postado em sua página na plataforma profissional LinkedIn, defendendo os princípios que solaparam os créditos do seu antecessor junto ao chefe: o isolamento horizontal e o uso do medicamento cloroquina.

Seu discurso ao assumir o cargo foi quase inaudível, tangenciou no principal, o tema do isolamento. Sem ser filiado a nenhum partido político (e, portanto, sem apoio), topava tomar o comando de uma linha de gráfico que subia como um foguete, registrando a morte dos brasileiros. Naquele momento, na casa de dois mil óbitos. Hoje, esbarrando nos 15 mil. O Dr. Nelson disse que aceitou o cargo para “ajudar o Brasil”. Teria ajudado mais se tivesse ficado onde estava. Na posição de um gestor bem sucedido, sua verdadeira vocação. Longe do serviço público.

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Sofreu a humilhação de ser questionado por um repórter, que acabou dando-lhe a notícia que Bolsonaro sonegou. Iria transformar em serviços essenciais atividades como a dos salões de beleza. Ali ficou patente a sua queda. Dr. Nelson permaneceu. Como todo homem tem um limite, o seu foi a recusa em assinar um protocolo instituindo a cloroquina como panaceia para todos os males do coronavírus, poucos dias depois. Ao dizer que escolheu sair, sua voz soou firme. Era outra pessoa. Decisões têm poder revigorante. 

Para o seu lugar, vai o general Eduardo Pazuello, que ocupava o segundo posto e agora ficará à frente da pasta por uma semana. Tempo suficiente para assinar o protocolo que institui a indicação da cloroquina a pacientes com Covid-19. Como militar, ciente da hierarquia, fará o dever de casa, assinando conforme indicação do chefe, o tal protocolo. 

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Antes de se arvorar na área médica, Bolsonaro tratou de se precaver de futuras acusações de culpa pelas mortes na pandemia. Editou uma medida provisória que isenta agentes públicos de “responsabilidades nas esferas civil e administrativa se agirem ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro pela prática de atos relacionados direta ou indiretamente, com as medidas de combate ao coronavírus” ...

O que ele não confessa publicamente – bem de acordo com a covardia do seu perfil – é que se precipitou ao dar ordem para que o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército aumentasse em quase 100 vezes a produção de cloroquina. Para se ter uma ideia, os comprimidos destinados ao tratamento de lúpus e malária, eram produzidos em escala de 250 mil a cada dois anos. Em um mês e meio este total saltou para 1,2 milhão, com direito à reportagem ufanista no portal do Exército, onde a ação é descrita do seguinte modo:

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“Considerando o atual cenário de aumento do número de casos de infecção pela COVID-19 em território nacional, combatendo a disseminação do novo vírus e focando na produção de possíveis medicamentos para o tratamento, ainda que permaneçam em fase de estudos para a comprovação de sua segurança e sua eficácia, o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) intensificou a produção do medicamento Cloroquina 150 mg, apoiado pelo Laboratório Farmacêutico da Marinha (LFM) e pelo Laboratório Químico Farmacêutico da Aeronáutica (LAQFA). (...) A pronta resposta à demanda nacional traduz todo o esforço contínuo de uma equipe de profissionais altamente especializados que labuta diariamente para o fornecimento de produtos essenciais para o Exército Brasileiro e para o Brasil”.

Vamos convir que mesmo sendo o comandante-em-chefe das Forças Armadas, tal erro de avaliação não só será sentido, como também há que ser desaguada em algum canto, esta produção excessiva de cloroquina. Na melhor das hipóteses, vamos ter mortandade de peixes, por arritmia, no Rio de Janeiro, nos próximos dias. E, na pior... O uso abusivo do remédio de quem Bolsonaro se tornou o garoto-propaganda.  

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