Auge da crise pode ser início do fim
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Toda crise, diz o senso comum na política, precisa piorar antes de melhorar. O rompimento de Eduardo Cunha com o governo, depois de atingido por uma denúncia explosiva, está sendo apontado, com quase unanimidade, como a abertura das portas do inferno para o Governo Dilma. No curto prazo, tudo tende mesmo a piorar mas este pode ser o episódio delimitador do início do fim da crise.
Não faz sentido? Na política, nem sempre prevalecem os caminhos óbvios e retos.
Por mais forte que seja, por mais apoio que tenha nos baixos cleros da Câmara, Eduardo Cunha em poucas horas deixou de ser o que era. Basta ver que sua decisão de romper com o governo não foi seguida por nenhum grupo do PMDB e por nenhum partido da base governista. Ficou só. Nem os partidos de oposição, com quem já andou tratando do projeto do impeachment de Dilma, saíram em sua defesa. O poder é doce mas é cruel. Os que gravitam em torno dele são dotados de um fino sensor que mede seus movimentos de fuga e de concentração. Neste momento, o poder de Cunha está em maré vazante, e dificilmente haverá movimento inverso.
Logo que o recesso acabar ele dará sequência aos movimentos vingativos que já deflagrou. Colocará em votação todas as contas de governo pendentes para deixar a de Dilma em ponto de votação, logo que o parecer do TCU for apresentado. Instalará as duas CPIs que podem incomodar muito o governo. Deixará instruídos os procedimentos para instalação do pedido de impeachment do Movimento Brasil Livre e alguns de outros autores que guarda na gaveta – nem todos aptos a serem apreciados. Mas todas estas iniciativas, para serem frutíferas, precisarão do apoio de seus aliados no PMDB e de parte da oposição. Tal apoio vai se escassear se o Ministério Público apertar o cerco contra o presidente da Câmara.
E tudo indica que apertará. Cunha cometeu o erro de desafiar o procurador-geral Rodrigo Janot logo que seu nome foi incluído na lista dos políticos a serem investigados. Se não bastasse o espírito de corpo da sagrada confraria do Ministério Público, Janot está disputando sua recondução ao cargo. Se não levar em frente a ação contra o presidente da Câmara, pode dar a alguns pares a impressão de conciliar para obter a indicação de Dilma, que por sua vez estará também entre a cruz e a caldeirinha: se propuser a recondução ao Senado, afrontará os aliados. Se não o fizer, será acusada de contribuir para o acobertamento das investigações da Lava Jato. Não é improvável, portanto, que Janot peça ao STF o afastamento de Cunha do cargo alegando, tal como faz Moro em relação a empreiteiros e outros investigados da Lava Jato, seu poder de obstruir investigações.
Também logo que o recesso acabar, Cunha precisará de votos para derrotar, na CPI, o pedido de acareação entre ele e o delator Julio Camargo. É pouco provável que a Câmara sujeite seu presidente a tal humilhação mas só o fato de ter que lutar contra tal hipótese debilitará Cunha aindamais.
A pergunta relevante é: qual a extensão dos danos que Cunha poderá causar ao governo antes de ser ferido de morte? Talvez muitos, mas uma condição ele já perdeu, a de ser o condutor de um processo de impeachment contra Dilma. Enquanto ele estiver no centro do furacão, o Governo poderá, se tiver competência, desarmar os canhões voltados contra Dilma.
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