Atuação eleitoral virou mico para as Forças Armadas

A "apuração paralela" das eleições pelas Forças Armadas poderá, segundo Helena Chagas, acabar com "os militares ridicularizados perante a nação"

Fachada do TSE, exército e urna eletrônica
Fachada do TSE, exército e urna eletrônica (Foto: Roque de Sá/Agência Senado | Valter Campanato/Agência Brasil | Fernando Frazão/Agência Brasil)


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Por Helena Chagas, para o 247

Nossas Forças Armadas – digo “nossas” porque são instituições de Estado, a serviço da nação, e não de governantes temporários – não merecem o acelerado desgaste de imagem pelo qual estão passando. Representantes do Ministério da Defesa passaram a semana passada dentro do TSE catando imperfeições no sistema eletrônico de voto. Tudo indica que não acharam nada, só o vexame de ter seu indicado para o serviço, coronel Ricardo Santana, descredenciado pelo TSE. É, reconhecidamente, um propagador de fake news sobre as urnas nas redes.

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O ofício do TSE à Defesa é assinado por dois presidentes do TSE - o que sai, Edson Fachin, e o que entra, Alexandre Moraes.E evidentemente está criada mais uma crise entre militares e Justiça eleitoral. Não será a última, mas certamente deixará a opinião pública ao lado do TSE.  

Mais um vexame para as Forças Armadas, que podem chegar a 2023 com sua reputação no fundo do poço - e não só por isso. A intenção do Ministério da Defesa de fazer a vontade do presidente da República com uma “apuração paralela” dos votos no dia 2 de outubro pode virar um grande mico para os militares.

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Além do risco de se imiscuir num tema que não faz parte de suas prerrogativas constitucionais, os militares correm o risco de acabar ridicularizados perante a nação. A contagem paralela de votos pode, sim, ser feita - e partidos políticos e outras entidades até já costumam fazer isso para checar resultados pontuais aqui e ali.

Isso é possível via boletins de urna, cada um referente a uma dessas unidades, emitidos logo após o encerramento da votação, em cada seção eleitoral do país. O problema é que, nas eleições de outubro, serão utilizadas 577 mil urnas, espalhadas nos mais de cinco mil municípios.

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Este ano, esses boletins, que costumam ser afixados em papel na entrada de cada seção, estarão disponíveis para consulta na internet, o que até facilita as coisas. Mas será preciso acessar cada um e somar os votos - o que o TSE faz num supercomputador. É evidente que, sem expertise no ramo, os militares vão demorar mais para fazer essa totalização, mesmo que usem um software com programas de contagem rápida.

É grande, enorme, o risco de que a apuração paralela saia muitas horas depois da apuração oficial, talvez até no dia seguinte - e para dar o mesmo resultado que o país, espera-se, já estará comemorando.

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É por isso que militares da ativa tentam hoje convencer o ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, a desistir dessa empreitada, ou reduzi-la a uma pequena amostragem. A imagem das Forças Armadas está em jogo, e uma parte delas não está disposta a se jogar no fundo do poço com Jair Bolsonaro.

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