Até quando bandidos substituirão 54 milhões de votos?

A farsa chegou ao fim. O tribunal de exceção encerrou seus trabalhos. Consumado está o golpe de estado. Não se esqueçam, porém, os traidores: o impeachment de Dilma Rousseff, longe de solucionar, agravará a crise brasileira

A farsa chegou ao fim. O tribunal de exceção encerrou seus trabalhos. Consumado está o golpe de estado. Não se esqueçam, porém, os traidores: o impeachment de Dilma Rousseff, longe de solucionar, agravará a crise brasileira
A farsa chegou ao fim. O tribunal de exceção encerrou seus trabalhos. Consumado está o golpe de estado. Não se esqueçam, porém, os traidores: o impeachment de Dilma Rousseff, longe de solucionar, agravará a crise brasileira (Foto: Chico Vigilante)


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A farsa chegou ao fim. O tribunal de exceção encerrou seus trabalhos. Consumado está o golpe de estado. Não se esqueçam, porém, os traidores: o impeachment de Dilma Rousseff, longe de solucionar, agravará a crise brasileira.

A presidenta da República do Brasil foi oficialmente afastada e o Congresso Nacional - onde todos os representantes chegam pelo voto popular - numa crise de esquizofrenia política, considerou esbulho a vontade de 54 milhões de brasileiros.

É sim esquizofrênico, um processo onde a ré Dilma Rousseff, contra quem não se provou crime de responsabilidade, é julgada por uma quadrilha cujo chefe, Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, chantageou o governo para salvar a própria pele, após uma explosão de denúncias contra ele.

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Dilma não cedeu, por isso sofreu impeachment. Se tivesse cedido e se unido aos mensageiros do atraso entraria para a história como entrarão agora seus algozes.

Seus filhos e netos deles se envergonharão, será difícil caminhar nas ruas porque cidadãos honestos vão escrachá-los ou até cuspir neles.

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Que chances tinha Dilma de encontrar justiça num tribunal onde senadores envolvidos na trama do golpe são juízes? Nenhuma, porque este foi um jogo de cartas marcadas. Deputados e senadores pisaram na Constituição e incluíram em seus currículos o título de traidores do Brasil.

O que está por traz de tudo isso é a disputa política entre a luta do PT pelo fim das desigualdades sociais no país e as forças do atraso, de defesa dos interesses das elites. Batalha histórica não só aqui, mas em todo o mundo.

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O golpe contra Dilma é também o recado do machismo, do patriarcado, do colonialismo. Em pleno século XXI, eles continuam dizendo: mulher não pode.

Dilma nunca coube no esboço de presidente desenhado pela elite conservadora deste país, que prega o ditado de recatadas e do lar para as ricas e domésticas escravizadas para as pobres.

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Página infeliz de nossa história... como diz a música... sobre um outro golpe – aquele militar que prendia, torturava, matava e escondia os cadáveres – este, se repete com uma cara nova: seus aliados são a imprensa, o parlamento e setores do Judiciário.

Suas armas são a omissão, a mentira, o engôdo, os vazamentos seletivos de dados de processos na Justiça, a publicação de gravações telefônicas legais e ilegais, com ou sem permissão da justiça.

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Testemunha da última cena do teatro de horrores, na plateia, o autor da canção, Chico Buarque divide lado a lado com o ex-presidente Lula e o ex ministro de Dilma, e ex-governador da Bahia, Jacques Wagner, o cenho franzido e, provavelmente, tristeza na alma.

Aqui os algozes de Dilma não colocaram as mãos nos rostos como na sua juventude, mas a certa altura reclamaram de estarem sendo filmados e fotografados pelos celulares da plateia.

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Com certeza prefeririam ficar invisíveis neste momento em que enfrentam uma mulher sexagenária que discursou por 40 minutos e durante horas a fio, cerca de 14 horas, no primeiro dia, derrubou de forma clara e precisa cada uma das falsas acusações ou provocações baratas por parte de senadores intrujões, potoqueiros, engabeladores de seus eleitores e da Nação.

Do lado de fora, sob um sol escaldante desde a manhã da segunda feira, na chegada de Dilma ao Senado, uma multidão resistia, cantando ou gritando palavras de ordem em apoio a ela e ao que representa: a defesa à democracia e à continuidade dos avanços sociais, políticos e econômicos no Brasil.

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Dentro do plenário do Senado, Dilma encarou os senadores que a atacavam com a mesma altivez que enfrentou o tribunal militar na época da ditadura.

Quem esperava encontrar uma mulher fragilizada, a ponto de se suicidar, renunciar, ou fugir para o Uruguai, se surpreendeu com uma Dilma altiva e segura.

Dilma não agia como ré, não demonstrava cansaço, desânimo ou impaciência. Em muitos casos suas respostas fizeram suas excelências parecerem decrépitos e confusos.

Surpreendeu a muitos demonstrando didatismo extremo ao responder, sem exceção, a todas as perguntas e comentários, com leis, datas e cifras, derrubando um a um os argumentos contra ela, com firmeza e segurança.
É claro, os golpistas declaravam à imprensa mais tarde que Dilma se repetia, que decorou as respostas, que não convenceu ninguém. Mentira.

Eles sim, faziam as mesmas perguntas, misturavam as estações, jogavam para a plateia um discurso de acusações que nem parte parte do processo fazia. Em muitos casos me perguntei: onde está a assessoria destes senhores que lhes permite se transformar em mico para a Nação?

Em dois dias de julgamento muitas declarações me marcaram pela beleza das palavras, pela lucidez do raciocínio e pela compreensão histórica desse momento, muitas dessas por parte de mulheres senadoras.

O olhar feminino consciente no Senado da República acusou o governo golpista, sem mulheres, de ter tirado do poder a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da República no Brasil, pelo voto direto e democrático.

Houve manifestações, no entanto, que chocaram a mim e certamente ao Brasil pela hipocrisia, pela reincidência de argumentos falsos, pela prepotência em sugerir a retirada de parlamentares que falavam do golpe no plenário, ou pela perfídia das lágrimas de crocodilos vertidas por acusadores, quando a ré se mantinha serena e focada.

Aquela advogada de acusação, até pouco tempo ilustre desconhecida, vaiada em sala de aula por seus próprios alunos e paga pelo PSDB para montar o processo, caiu mais uma vez no ridículo.

Tentou no Senado, criar outro factóide e renovar seus 3 minutos de fama conseguidos na sessão de abertura do impeachment na Câmara, quando gritava em nome de Deus e rodopiava descontroladamente com uma bandeira do Brasil.

Infelizmente, este julgamento foi um jogo de cartas marcadas, com resultado definido antes de começar. Ali não se buscava a verdade, convencer ou ser convencido. O que estava sendo considerado eram os cargos a serem ocupados, as melancias, como disse um senador, que não teve um voto sequer em Brasília, o senhor Hélio José.

O mais grave é que 61 senadores que votaram a favor do impeachment de Dilma se transformaram num colégio eleitoral para substituir 110 milhões de eleitores colocando na presidência da República um impostor, sem legitimidade para ocupar o cargo.

No Brasil não se vota em vice. Os brasileiros votaram em Dilma e em seu programa de governo, que com certeza não será aquele aplicado por Michel Temer.

Claro que não. Temer é cúmplice de Cunha e come no mesmo prato de Romero Jucá, o senador que se licenciou após o vazamento de gravação onde confessa que uma mudança no governo federal resultaria em um pacto para estancar a sangria representada pela operação Lava Jato, onde todos eles deveriam ser investigados.

Deveriam ser, mas com o golpe tudo ocorre conforme o planejado. O ministro do STF, Gilmar Mendes critica desmandos da Lava Jato., criando clima para "estancar a sangria". O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot suspende delações que envolvem políticos envolvidos no golpe, após provocação da Revista Veja. Alguma surpresa? Não.

As máscaras caíram todas. A hora é de seguir adiante. Com coragem e determinação, principal lição deixada por Dilma. O próximo passo deve ser a mobilização da sociedade em torno da luta por eleições diretas em todos os níveis, assim como a realização de uma ampla reforma política.

A realização de eleições diretas, como venho defendendo há dois anos, independe de plebiscito. Hoje, sessenta por cento dos brasileiros são a favor da realização delas, segundo várias pesquisas de opinião.

Quem resolve problema de crise é o povo. Se não querem entender isso pelo bem, entenderão pelo mal. Os cidadãos que nos últimos dias vem se manifestando em todo o país não abandonarão a bandeira de luta de renúncia deste presidente corrupto e sua camarilha.

Faço minhas, assim como milhares de brasileiros o farão, as palavras da presidente Dilma Rousseff em seu discurso no Senado: Não esperem de mim o silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje com a retórica jurídica, pretendem acabar com o estado de direito... Não luto por vaidade ou apego ao poder. Luto pela democracia, a verdade e a justiça.

CHICO VIGILANTE
Dep. Distrital pelo PT/DF

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