Ataque de Bolsonaro lembra 1977 - com sinal invertido
"Investida bolsonarista enfrenta resistência das parcelas majoritárias do país, mas não pode ser vista como inofensiva, nem pouco preocupante", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Analogias históricas são um exercício complicado, que envolvem personagens e conjunturas diferentes. Mesmo assim, a noção de que o confronto entre Bolsonaro e o ministro da Defesa Fernando Azevedo tem inspirado uma comparação com a demissão do ministro do Exército Sylvio Frota, colocado para fora do governo por Ernesto Geisel em 1977.
A comparação faz sentido -- com sinais invertidos.
A demissão de Sylvio Frota foi uma medida decisiva de Geisel para encaminhar um projeto que pretendia fazer a transição de um regime de exceção, a ditadura de 64, em direção a institucionalização, através de uma "distensão lenta, gradual e segura".
Em 2021, a queda de Fernando Azevedo, acompanhada da demissão dos três comandantes militares, é um movimento de Bolsonaro pelo retrocesso, que busca o enfraquecimento de garantias democráticas e o avanço de medidas de exceção.
A queda de Frota foi um passo coerente com a evolução da conjuntura, na metade da década de 1970, e deu início a um declínio de décadas na influência das forças de extrema-direita no país.
Naquela década as ruas se mobilizavam em protestos contra a ditadura, como no culto ecumênico para denunciara morte do jornalista Vladimir Herzog, além de manifestações contra a carestia. O movimento estudantil se animava e os sindicatos de trabalhadores ganhavam novo fôlego e no ano seguinte o país assistiu ao retorno das grandes greves de trabalhadores -- e assim até a campanha por diretas, a Constituinte.
Em 2021, a investida de Bolsonaro para acumular novas fatias de poder é uma tentativa de confrontar as parcelas majoritárias da sociedade brasileira, que tem produzido manifestações cada vez mais claras de cansaço e repúdio a seu governo, inclusive no empresariado e no judiciário.
Fruto de uma conjuntura muito específica, do Brasil de 2018, quando se vivia uma situação política que não existe mais, os movimentos do governo Bolsonaro estão condenados a provocar reações cada vez mais vigorosas de oposição e mesmo resistência.
Isso não quer dizer, contudo, que sejam inofensivos, em particular numa conjuntura onde a pandemia funciona como um estímulo poderoso a manter as pessoas dentro de casa.
Alguma dúvida?
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247