Assim como para Trump, para Bolsonaro também interessa o caos

"Assim como Trump, se continuar desfrutando da garantia de impunidade, Bolsonaro também deverá lucrar com seu 'Capitólio de Brasília'”, escreve Jeferson Miola

Jair Bolsonaro e Donald Trump
Jair Bolsonaro e Donald Trump (Foto: Alan Santos - PR)


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Por Jeferson Miola 

No último dia 6 de janeiro se completou o “1º aniversário” do atentado à sede do Congresso dos EUA, o Capitólio, liderado por Donald Trump desde a Casa Branca.

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O mundo inteiro ficou estupefato com aquele cenário – que oscilou entre o bizarro e o distópico – no coração da suposta “maior” democracia mundial.

Nos dias seguintes, muito se profetizou sobre o desgaste inexorável e irrecuperável de Trump. Não faltaram, inclusive, previsões de que o bufão estaria definitivamente proscrito da política.

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Estas profecias não só não se confirmaram, como ocorreu exatamente o inverso. O ex-presidente desfrutou da impunidade para continuar ocupando o centro da política partidária republicana.

Não há, além disso, indicativo de que ele venha a ser responsabilizado politicamente e/ou criminalmente. Até agora, mais de 700 pessoas foram indiciadas, denunciadas ou presas; todavia, Trump, seus familiares e demais arquitetos políticos e intelectuais do atentado não foram punidos.

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Com isso, o líder da ultradireita estadunidense segue vivo e ativo política e eleitoralmente. Ele desalojou tradicionais lideranças republicanas, se adonou do Partido e pavimenta o caminho para sua candidatura presidencial em 2024, considerada bastante competitiva.

A retórica trumpista de fraude na eleição fideliza e engaja milhões de seguidores lunáticos e fanáticos. Além disso, serve de combustível para mudanças legislativas antidemocráticas que deputados republicanos já promoveram em mais de 30 Estados do país para dificultar o voto do potencial eleitorado do Partido Democrata em 2024.

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Para Martin Wolf, editor-chefe de economia do Financial Times, “o Partido Republicano é [hoje] definido não por sua ideologia, mas por sua lealdade a Trump”. Em decorrência disso, na visão dele, “os republicanos já cruzaram o Rubicão”, e já não têm compromisso com a democracia. Vários estudiosos sobre democracia pensam na mesma direção.

Com a pregação de fraude eleitoral, Trump reforça no imaginário da ultradireita o delírio de que é uma “pessoa antissistema”, que foi roubada pelo próprio sistema pois representa uma “ameaça” à sobrevivência do status quo [sic].

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A partir da “batalha de Capitólio” Trump inaugurou a estratégia da luta política violenta e em estado de guerra permanente, com a qual prepara o caminho para retornar ao poder em 2024. Para Trump, a política não é um espaço de disputas legítimas e democráticas por hegemonia e poder, mas um palco de guerra permanente, engendrada com recursos sujos, ilegais e ilegítimos como propagação de ódio, desinformação, mentiras e violência.

Na mensagem da tarde daquele dia 6/1, quando “pediu” para seus seguidores desocuparem o Capitólio, Trump enalteceu o significado da batalha para a guerra permanente contra a democracia: “Estas são as coisas e eventos que acontecem quando uma sagrada vitória eleitoral esmagadora é tão sem cerimônia e cruelmente retirada de grandes patriotas que foram mal e injustamente tratados por tanto tempo. Vá para casa com amor e em paz”, e terminou com uma conclamação épica: “Lembre-se deste dia para sempre!”, disse ele.

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Assim como aconteceu com Trump, se continuar desfrutando da garantia de impunidade, Bolsonaro também deverá lucrar com seu “Capitólio de Brasília”. Por um lado, mantém sua base ensandecida fidelizada e engajada em torno de delírios e aberrações; e, de outro, se preserva como principal liderança da extrema-direita na oposição grotesca e violenta – na guerra permanente – contra o futuro governo Lula.

Com a derrota do voto impresso no Congresso em agosto passado, Bolsonaro e os generais ganharam o discurso que queriam para tumultuar a eleição e causar caos institucional. “Se não tiver voto auditável, não terá eleição”, ameaçou o inconsequente e conspirador general-ministro da Defesa Braga Netto, sem que nada lhe acontecesse.

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Toda esta retórica extremista, em conjunto com as políticas irresponsáveis do governo, sobretudo acerca da vacina e da pandemia, serve para Bolsonaro conservar seu eleitorado-raiz caninamente fiel, engajado e disposto a qualquer sandice.

Nas últimas semanas Bolsonaro sintomaticamente voltou a questionar a lisura das urnas eletrônicas, a insinuar uma curiosa fraude na eleição de 2018, na qual foi beneficiado, e também voltou a ofender e agredir ministros da Suprema Corte – sem que nada lhe aconteça; pois, afinal, as instituições continuam “funcionando normalmente”.

Assim como para Trump, para Bolsonaro também interessa o caos institucional e o clima de guerra permanente. Naquele 6 de janeiro de 2021, Eduardo Bolsonaro, o Zero3, adquiriu expertise sobre a coisa acompanhando o ensaio diretamente da Casa Branca, transformada em quartel-general da sedição.

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