Assédio sexual

Nós, homens, temos muita dificuldade de olhar o mundo pela ótica das mulheres. Muitos de nós se julgam no direito de impor a elas as suas gracinhas, taras e exigências

Manifestação assédio sexual estupro
Manifestação assédio sexual estupro (Foto: George Campos/USP Imagens)


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Examinem os cérebros de Pelé, Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo. Em milésimos de segundos as sinapses de seus 86 bilhões de neurônios geram cálculos (distância, velocidade, potência do chute) e habilidades que lhes permitem excepcional desempenho com a bola, assim como mantemos uma conversa trivial sem pensar nas palavras que fluem pela fala.

O machismo igualmente está entranhado na estrutura cerebral dos homens. O cultural se enraizou como estrutural. Nós, homens, temos muita dificuldade de olhar o mundo pela ótica das mulheres. Muitos de nós se julgam no direito de impor a elas as suas gracinhas, taras e exigências.

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As palavras não são inocentes. Patrimônio, pai que cuida dos bens. Matrimônio, mãe que cuida da prole.

Ver a realidade pela ótica do outro é excelente exercício educativo e terapêutico. Encarcerado na Penitenciária de Presidente Venceslau (SP), organizei um grupo de teatro com os presos comuns. Nos ensaios, pedia a cada um deles para descrever o crime cometido, em geral latrocínio. Em seguida, encenávamos a narrativa. O assassino desempenhava o próprio papel. Logo, eu invertia os papéis. O assassino representava a vítima ou o policial. Isso provocava um curto-circuito na cabeça deles.

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Em 1968, Jane Elliott, professora de pequena cidade de Iowa (EUA), no dia seguinte ao assassinato de Martin Luther King demonstrou como seus alunos eram preconceituosos, embora não o admitissem. Declarou serem os melhores da classe os que tinham olhos claros. Proibiu os outros de usar o bebedouro, brincar no pátio, e pediu que usassem coleiras para, de longe, serem identificados pelos de olhos claros.

O neurocientista David Eagleman entrevistou recentemente dois daqueles alunos, agora adultos. Ambos de olhos azuis. Um deles admitiu: “Fui mau com meus amigos. Eu era o nazista perfeito. Procurava maneiras de ser cruel com meus amigos que, minutos ou horas antes, eram muito próximos a mim.”

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No dia seguinte, a professora inverteu o jogo. Os de olhos claros se sentiram muito mal nas mãos dos demais. “As crianças aprenderam que as verdades do mundo não são fixas e, além disso, não são necessariamente verdades. O exercício deu às crianças o poder de enxergar além das distorções de programas políticos e formar suas próprias opiniões.” (Cérebro, uma biografia, Rocco, 2017).

Um homem que diz gracinhas a uma estranha está convencido de sua superioridade e impunidade. Meu amigo Joel, ao soltar um gracejo pornográfico a uma estranha, levou uma chave de braço da lutadora de Muay Thai, que o soltou após ouvir o pedido de desculpas.

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Racistas, homofóbicos, preconceituosos e machistas entram em parafuso quando são eles as vítimas de discriminação, exclusão e humilhação. Colocar-se no lugar do outro é a melhor pedagogia para entender o sofrimento alheio e suscitar compaixão e solidariedade.

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