Assassinato de João Alberto tem mais responsáveis

Jornalista Marcelo Auler cobra responsabilização de mais pessoas na morte do homem negro João Alberto Silveira Freitas no Carrefour de Porto Alegre. "É o caso de Adriana Alves Dutra, agente de fiscalização do supermercado, que aparece na cena do crime filmando toda a agressão sem nada fazer para impedi-la", escreve

(Foto: Divulgação)


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Por Marcelo Auler, em seu Blog 

Apesar de apenas duas pessoas terem sido presas em flagrante pela morte de João Alberto Silveira Freitas, o Beto, de 40 anos, no supermercado Carrefour, no bairro Passo de Areia, em Porto Alegre, eles não são os únicos responsáveis que devem responder pelo crime. O homicídio, que a polícia civil classifica de triplamente qualificado – por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima – tem prováveis coautores.

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Oficialmente, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul mantém presos como responsáveis pela morte de Beto o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva e o segurança terceirizado Magno Braz Borges. São os dois que aparecem nos diversos vídeos que viralizaram espancando, imobilizando e, possivelmente, sufocando o cliente negro que faleceu no estacionamento do Carrefour, na noite de quinta-feira (19/11). Na realidade, porém, o crime pode ter mais alguns responsáveis.

É o caso de Adriana Alves Dutra, agente de fiscalização do supermercado, que aparece na cena do crime filmando toda a agressão sem nada fazer para impedi-la. Além de se omitir diante do espancamento que filmava, ela tentou impedir que um homem, de 41 anos, que trabalha como entregar de mercadorias no próprio Carrefour, também filmasse as cenas. Chegou a ameaçá-lo, conforme consta do vídeo feito pelo entregador que foi entrevistado por Tiago Boff, do jornal Zero HoraEntregador que filmou agressões no Carrefour diz que seguranças tentaram apagar vídeo e relata ter sofrido ameaças:

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Não faz isso! Não faz isso! Não faz isso senão eu vou te queimar na loja”, ameaçou Adriana, como registrou o vídeo feito pelo entregador, que pode ser visto na reportagem de Boff.

Como explicou o entregador de mercadoria que pediu ao repórter para não ser identificado, ele foi pressionado a apagar o que filmou. Mas não o fez: “Tive que guardar o celular. E eles queriam que eu apagasse o vídeo. Eu disse que não ia apagar. Eu pretendia usar o vídeo para defender o senhor, mas infelizmente aconteceu o que aconteceu“.

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Quem não impediu, também reponde pelo crime

A possível participação de Adriana em todo o episódio ainda está sendo investigada pela polícia, como admitiu ao jornal Correio do PovoPolícia Civil investiga motivação para agressões e morte de cliente de hipermercado de Porto Alegre – a delegada Roberta Bertoldo, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ªDPHPP) da Polícia Civil:

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Quem não impediu a agressão responde também ao meu ver… A moça de camisa branca é a fiscal com a qual a vítima teria se desentendido, mas não está confirmado isso ainda. Ela não impediu as agressões e ainda ameaçou pessoas para que não filmassem”, explicou a titular da delegacia ao jornal.

Mas a dúvida que a delegada alega ainda precisar esclarecer não existe para o Procurador de Justiça aposentado, professor de Direito, Cézar Roberto Bitencourt, Doutor em Direito Penal pela Universidade de Sevilha, Espanha:

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Aquela funcionária não é simplesmente testemunha do crime. Pelo contrário. Ela é coautora do crime. Ela coordenou a agressão. Ela chamou os seguranças, mandou retirarem (o cliente), acompanhou e comandou, inclusive empurrava, botava as mãos nas costas. Note que ela está do lado, ela era chefe. Ela poderia ter dito, parem! Chega! Acabava. Porque ela tinha autoridade sobre os seguranças, poderia interromper. Ela tinha o domínio do fato. Por isso ela não é simples partícipe, não era meramente participante. Ela é coautora do homicídio. Tem que ser indiciada e denunciada por homicídio qualificado, em concurso com os outros dois“.

No seu depoimento à polícia, prestado ainda na madrugada de sexta-feira (20/11), Adriana alega que Beto teria agredido uma colega sua e, ao ser carregado pelos seguranças para o estacionamento, desferiu um soco em um deles. Trata-se de algo que os jornais gaúchos dizem que a polícia não constatou pelos vídeos.

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Adriana alegou ainda que teria pedido que os seguranças parassem, mas em momento algum se ouve isso nos vídeos. Os sites dos jornais gaúcho transcreveram como depoimento dela:

Que a vítima desferiu um soco no policial, momento em que se embolaram. Que a depoente fez a solicitação para chamar a Brigada, pelo rádio, e ligou para o Samu, quando viu sangue, e que a vítima havia desmaiado. Que a vítima proferia xingamentos durante a contenção, mas não ouviu a mesma pedir ajuda. Que a depoente pediu várias vezes aos rapazes que largassem a vítima“.

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Outros coautores

A possível coautoria parece que não se encerrará no caso da fiscal Adriana. Como demonstram os vídeos feitos por clientes do supermercado, há outros empregados do Carrefour que aparecem na cena sem que nada fizessem para impedir as agressões. Um deles, inclusive, agacha-se e recolhe alguma coisa junto a Beto, quando este já está no chão, mantido preso – e sufocado – pelos seguranças.

Como admitiu a Chefe de Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegada Nadine Anflor, ao Correio do PovoMais duas pessoas são investigadas pela morte de João Alberto em Porto Alegre, há mais duas pessoas investigadas, um homem e uma mulher. A mulher é a fiscal Adriana: “Elas não foram autuadas naquele momento, pois há necessidade de apurar melhor qual é a participação delas”.

Pelos vídeos nota-se a presença de, ao menos, mais dois empregados do Carrefour, além de Adriana, próximos a Beto, caído no chão e sufocado pelos seguranças. Um deles trajando terno e gravata. Outro homem, com a camisa social branca que parece ser uniforme, é flagrado recolhendo um objeto do chão. Nenhum deles esboçou qualquer reação ou fez qualquer gesto para impedir as agressões e o consequente assassinato.

Caberá também à Polícia Civil esclarecer o que Gaspar da Silva, o policial militar temporário – algo que só existe no Rio Grande do Sul – que está preso acusado do homicídio, fazia na loja.

Ele é apontado como um dos seguranças, o que certamente se for confirmado significa que estava ali fazendo “bico”. Mas alguns empregados o indicaram como um freguês conhecido do supermercado. A roupa preta e o fato dele ter atuado junto com Braz Borges, segurança do Grupo Vector contratado pelo supermercado, demonstram que ele deveria sim estar atuando ilegalmente em função para a qual não estava habilitado.

Nesta sexta-feira, a Polícia Federal de Porto Alegre, diante da repercussão da morte de Beto, fez uma vistoria no Grupo Vector. Embora tenha confirmado que Braz Neto é vigilante profissional, com carteira nacional de vigilante (CNV), não encontrou registro do seu vínculo profissional com a firma. Ou seja, atuava ilegalmente, como divulgou Zero Hora.

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