As vítimas do regime de exceção
"A direita tenta desviar a atenção das suas responsabilidades pela morte da Dona Marisa, para não encará-las de frente. Do silêncio cúmplice e covarde de Moro às acusações a Lula de jogar na cara dos facínoras as responsabilidades e reivindicar o direito de lutar para que peçam desculpas à sua companheira, tudo revela a falta de coragem da direita de assumir as consequências dos seus atos", escreve o colunista Emir Sader; para ele, "Dona Marisa foi mais uma vítima do regime de exceção – essa nova modalidade de golpe de Estado – que assola o país"
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A direita tenta desviar a atenção das suas responsabilidades pela morte da Dona Marisa, para não encará-las de frente. Do silêncio cúmplice e covarde de Moro às acusações a Lula de jogar na cara dos facínoras as responsabilidades e reivindicar o direito de lutar para que peçam desculpas à sua companheira, tudo revela a falta de coragem da direita de assumir as consequências dos seus atos.
Dona Marisa foi mais uma vítima do regime de exceção – essa nova modalidade de golpe de Estado – que assola o país. Não fosse esse regime, não haveria a reiteração das acusações sem fundamento a Lula – que se estenderam a ela -, não haveria a invasão violenta da casa deles, a tentativa de prisão do Lula, as revelações públicas de telefonemas privados deles, as acusações a seus filhos, as acusações sobre apartamentos e sítios que, se fossem de políticos de direita, nem teriam sido mencionados.
Em suma, Lula e Marisa são vítimas do regime de exceção que assaltou o Estado por meio de um golpe parlamentar-midiático-jurídico e agora tenta asfixiá-los. Ele, tentando tira-lo, no tapetão, de uma eleição em que o povo o colocará de novo na presidência do Brasil e desfará as arbitrariedades que tem sido feitas com o país, com a democracia e com o seu povo. Ela, por colocar sobre ela toda a pressão de acusações sem provas, da compra de um apartamento, dos pedalinhos num sítio, de uma conversa telefônica privada.
Lula e Marisa estão acompanhados, como vítimas de um governo de traição ao pais, do Estado brasileiro, vítima da desconstrução feita pelo governo golpista, com a Petrobras e o pré-sal em primeiro lugar; dos trabalhadores brasileiros, que veem seus direitos atacados, por propostas de terceirização, de precarização das relações de trabalho, valendo-se do brutal nível de desemprego que impõem; do povo brasileiro, que perde os direitos conquistados nos governos do PT; da soberania nacional, avassalada por uma política externa de subordinação aos interesses das grandes potências.
O regime de exceção se vale do golpe militar, do terrorismo promovido pela mídia monopolista privada e por um STF acovardado e cumplice, para instaura no país uma forma de governo baseada na suspensão dos direitos básicos da cidadania. Se uma presidenta reeleita pelo voto popular pode ser destituída sem crimes de responsabilidade, diante do silencio cumplice do STF; se Dona Marisa pode ter sua privacidade invadida, sem nenhuma ordem judicial, sem provas nas acusações que lhe são feitas; se o Lula pode ser feito réu em tantos processos, sem nenhuma prova concreta; se se tira do povo o direito de decidir quem deve presidir o pais e se ameaça com tirar da disputa eleitoral o melhor presidente que o Brasil já teve e favorito do povo para voltar a dirigi-lo; se se cometem tantas arbitrariedades em nome de uma suposta excepcionalidade, é porque a democracia foi suspensa, substituída por um regime de exceção.
Foi a partir do golpe que o Brasil passou a viver uma situação excepcional, com a ruptura do processo democrático, com a perseguição sem provas, com a ameaça de aprovação pelo Congresso de um conjunto de leis que dariam poder absoluto a um conjunto de juízes que pretendem usurpar os direitos que o povo conquistou na democracia e se erigir como "salvadores" de uma democracia da qual eles são o grande perigo.
A luta pela reconquista da democracia é a grande batalha do Brasil hoje. Para isso é preciso construir novo grande acordo nacional com todos os que se comprometem com a recuperação das eleições diretas para presidente e com o fim do arbítrio judicial e policial. Com a extinção de todos os processos arbitrariamente constituídos, pelo poder concentrados de juízes que pretender se sobrepor ao país e à democracia. Com a restauração da prioridade do crescimento econômico com distribuição de renda. Com o resgate do patrimônio público que está hoje sendo ameaçado por privatizações ilegais e antinacionais. Com o retorno de uma política externa digna e soberana, voltando a priorizar os processos de integração regional e de intercâmbios Sul-Sul, com o aprofundamento da integração do Brasil aos Brics e à construção de um mundo de paz, de cooperação entre os governos e de multipolaridade.
Dona Marisa foi vítima desse regime de exceção. Sua morte foi política, sua doença foi resultado das perseguições cruéis e arbitrarias de que foi vítima. Lutar, como disse o Lula, para que se faça justiça a ela, é lutar para que se termine com o regime político antidemocrático, para que o perdão a ela seja pedido por um governo legitimamente eleito pelo povo.
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