As tragédias de três naufrágios e o sentido da vida
"A seletividade da percepção da tragédia diz muito sobre o que somos e sobre o que necessitamos avançar como humanidade", avalia Florestan Fernandes Júnior
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Desde o início da semana, o mundo acompanha o drama dos passageiros do submersível Titan. Compartilho da angústia e preocupação com as vidas dos excêntricos turistas, mas existem pontos de necessária reflexão.
Há uma turma de excêntricos endinheirados, quem sabe frustrados com a miudeza das próprias vidas, que decide buscar adrenalina, em cada vez mais bizarras e perigosas aventuras. Como os turistas astronautas, que são lançados ao espaço em foguetes privados, ou os passageiros de um minissubmarino que submerge nas águas profundas do oceano Atlântico à procura de boas selfies ao lado dos destroços do Titanic.
Nos dois casos, o custo financeiro das viagens é na casa dos milhões de reais, com riscos significativos à segurança e à vida dos passageiros.
No caso do submersível “Titan” da operadora de turismo OceanGate Expeditions, o provável aconteceu. A cápsula se perdeu na imensidão do mar profundo. O minissubmarino de 10 toneladas e seis metros de comprimento, mergulhou num abismo aquático de quatro mil metros, sem sinal de GPS e sem comunicação com o barco guia que repousa na superfície oceânica. Ou seja, tudo indicava uma possível tragédia.
O Titanic, que em 1912 naufragou, matando 1517 pessoas, sempre foi explorado comercialmente. As buscas pelos destroços, a reprodução do naufrágio nas telas do cinema, a fetichização da tragédia desta viagem tenebrosa ao fundo do mar. Tudo isso muito diz do poder sedutor da tragédia sobre o imaginário de todos nós. Mas nem todas as tragédias ganham a mesma repercussão. O apelo midiático é seletivo.
Prova disso são dois fatos trágicos recentes que tiveram diferentes abordagens e interesse midiático. Há cerca de uma semana, houve um naufrágio, na Grécia, de uma embarcação que levava mais de 700 refugiados. Uma das maiores tragédias humanitárias, que pouco, ou quase nada, despertou o interesse ou movimentou as mídias, redes sociais e a opinião pública. O desastre, considerado a mais grave tragédia humanitária da Grécia, não teve qualquer relevância.
Tão diferente da onipresença da notícia do desaparecimento do submersível Titan, cujos quatro dos cinco ocupantes pagaram ingressos a uma bagatela de um milhão e duzentos mil reais! Isso diz muito da seletividade da percepção da tragédia, diz muito da categorização de pessoas, de nós, diz muito sobre o que somos e sobre o que necessitamos avançar como humanidade.
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