As tragédias de três naufrágios e o sentido da vida

"A seletividade da percepção da tragédia diz muito sobre o que somos e sobre o que necessitamos avançar como humanidade", avalia Florestan Fernandes Júnior

Submarino
Submarino (Foto: Divulgação/OceanGate Expeditions)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Desde o início da semana, o mundo acompanha o drama dos passageiros do submersível Titan. Compartilho da angústia e preocupação com as vidas dos excêntricos turistas, mas existem pontos de necessária reflexão.

Há uma turma de excêntricos endinheirados, quem sabe frustrados com a miudeza das próprias vidas, que decide buscar adrenalina, em cada vez mais bizarras e perigosas aventuras. Como os turistas astronautas, que são lançados ao espaço em foguetes privados, ou os passageiros de um minissubmarino que submerge nas águas profundas do oceano Atlântico à procura de boas selfies ao lado dos destroços do Titanic.

continua após o anúncio

Nos dois casos, o custo financeiro das viagens é na casa dos milhões de reais, com riscos significativos à segurança e à vida dos passageiros. 

No caso do submersível “Titan” da operadora de turismo OceanGate Expeditions, o provável aconteceu. A cápsula se perdeu na imensidão do mar profundo. O minissubmarino de 10 toneladas e seis metros de comprimento, mergulhou num abismo aquático de quatro mil metros, sem sinal de GPS e sem comunicação com o barco guia que repousa na superfície oceânica. Ou seja, tudo indicava uma possível tragédia. 

continua após o anúncio

O Titanic, que em 1912 naufragou, matando 1517 pessoas, sempre foi explorado comercialmente. As buscas pelos destroços, a reprodução do naufrágio nas telas do cinema, a fetichização da tragédia desta viagem tenebrosa ao fundo do mar. Tudo isso muito diz do poder sedutor da tragédia sobre o imaginário de todos nós. Mas nem todas as tragédias ganham a mesma repercussão. O apelo midiático é seletivo. 

Prova disso são dois fatos trágicos recentes que tiveram diferentes abordagens e interesse midiático. Há cerca de uma semana, houve um naufrágio, na Grécia, de uma embarcação que levava mais de 700 refugiados. Uma das maiores tragédias humanitárias, que pouco, ou quase nada, despertou o interesse ou movimentou as mídias, redes sociais e a opinião pública. O desastre, considerado a mais grave tragédia humanitária da Grécia, não teve qualquer relevância.

continua após o anúncio

Tão diferente da onipresença da notícia do desaparecimento do submersível Titan, cujos quatro dos cinco ocupantes pagaram ingressos a uma bagatela de um milhão e duzentos mil reais! Isso diz muito da seletividade da percepção da tragédia, diz muito da categorização de pessoas, de nós, diz muito sobre o que somos e sobre o que necessitamos avançar como humanidade.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247