As paradas de Lula
Lula, quase cinco anos depois de sair da presidência, está muito mais maduro politicamente, com muito mais clareza dos objetivos pelos quais é preciso lutar
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(originalmente publicado na Carta Maior)
Lula é o grande estrategista político da esquerda brasileira. É nessa qualidade que ele se movimenta com muita cautela. Sabe que é fundamental que o governo da Dilma dê certo, pelo país, e para que ele, uma vez candidato, possa defender esse governo e se colocar como sua continuidade e aprofundamento.
No primeiro mandato da Dilma, ele considerou que ela tinha o direito de realizar seu governo e, inclusive, de ser candidata à reeleição. Diante dos rumos assumidos pelo segundo mandato, Lula se mostrou de acordo com o ajuste proposto, embora considerando-o unilateral nos custos a pagar pelos problemas e, principalmente, se incomodou em que o governo prolongasse tanto o tema do ajuste e so anunciasse medidas negativas durante meses.
No plano político, seu tema reiterado de restabelecer alianças com o PMDB fez com que ele discordasse das posturas e planos políticos que prejudicassem essa aliança. Sua incomodidade com a coordenação política do governo veio basicamente daí e foi atendida com as mudanças recentes no ministério.
O outro tema central para Lula é o da politica econômica. Ele é um firme adepto das medidas anticíclicas, como as que seu governo colocou em prática no momento do início da crise internacional, em 2008, com grande sucesso. Como ele costuma dizer, “pobre não é problemas, pobre é solução”. Colocar dinheiro na mão dos pobres mediante políticas redistributivas é acionar um circulo virtuoso de crescimento econômico. A preocupação maior de Lula, desde o inicio do segundo mandato da Dilma foi a de virar a página do ajuste e passar a uma fase de retomada da expansão econômica.
Sua obsessão neste ponto é o da expansão do crédito, como motor da retomada do crescimento econômico. Como ele sempre diz, por exemplo, o BNDES se especializou em emprestar muito dinheiro para poucos, agora é necessário passar a uma fase em que é preciso emprestar pouco dinheiro para muitos. O governo precisa reativar a economia a partir da expansão do credito, sob diferentes formas, de maneira criativa.
Depois de fazer uma dura crítica das politicas econômicas centradas no ajuste na sua viagem à Argentina, Lula retomou, no Congresso da CUT, esse discurso. O de que nenhum país que tenha feito o ajuste saiu melhor do que quando entrou. Que o discurso do ajuste é o da oposição, que o governo não pode aparecer abandonando o discurso vitorioso nas eleições, para assumir o dos derrotados.
Coerente com o que tinha afirmado há algum tempo, se dispõe a concorrer de novo à presidência, para evitar o risco dos tucanos voltarem à presidência. É possível detectar sua disposição dessa disputa, da mesma forma que ele preferiria ter outro candidato, mais jovem, para a disputa de 2018. A necessidade de renovação não apenas de pessoas, mas da incorporação de novas gerações de movimentos de jovens, é outra das suas obsessões. Ele tem a sensação premente de que é preciso abrir caminho e espaço para uma nova geração, realmente contemporânea de todas as imensas transformações – sociais, mas também tecnológicas e culturais – que o Brasil vive.
Entre suas preocupações está, também, evidentemente, o PT. Ele tem plena consciência da debilidade em que se encontra o partido que ele fundou e não encontra soluções mágicas que possam resgatar a imagem do PT. Mas tem sempre na sua cabeça o tema do resgate do partido da situação de enorme fraqueza em que se encontra agora.
Lula, quase cinco anos depois de sair da presidência, está muito mais maduro politicamente, com muito mais clareza dos objetivos pelos quais é preciso lutar, consciente do que seu governo não conseguiu fazer e que é necessário realizar ainda no Brasil. É um Lula que lê muito, que multiplica as reuniões para ouvir e para divulgar novas propostas.
Para ele, as utopias de 2002– basicamente as de justiça social, – foram em parte realizadas e em parte incorporadas na agenda nacional. É preciso avançar para novos grandes objetivos, mobilizar os jovens, renovar os quadros da esquerda e do PT. Ele tem consciência de como o futuro depende da sua capacidade de reorganizar as forças que ele soube tão bem articular em 2002 e que agora precisam um novo ordenamento para dar continuidade no projeto iniciado por ele.
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