As Mulheres e a CPI

Cartunista Miguel Paiva diz que dois aspectos ficaram evidentes na CPI da Covid. "O caráter do governo Bolsonaro e todos os crimes que cometeu contra o povo brasileiro e o papel fundamental das mulheres na comissão", afirma

(Foto: Miguel Paiva)


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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Desde quando comecei a trabalhar como cartunista e jornalista que criei uma admiração pela linguagem feminina. Comecei percebendo o quanto as mulheres tinham um senso de humor diferente do masculino, sobretudo porque tinham autocrítica, o que falta até hoje aos homens. As mulheres vinham, sobretudo naquela época, de uma situação de opressão estrutural. Não era só o machismo. Era o descaso, o desprezo, a anulação. Quem conseguia um espaço sabia o valor dele e se mostrava de um modo bem mais verdadeiro e sincero. Não tinham poder a defender nem mentiras a contar para manter essa situação. As mulheres daí passaram a ser muito mais transparentes e com isso muito mais criativas em relação à própria vida.

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Acho que essa é uma característica feminina, entre muitas outras. Não se levar tão a sério assim, no sentido do poder já era uma vantagem. Hoje as mulheres se levam a sério, justamente, porque conquistaram um lugar de fala e isso hoje é poder. Mas naquela época o que elas precisavam era começar a falar. Essa não formalidade, esse não compromisso com uma imagem ou uma postura acabou criando uma linguagem bem mais moderna e menos preconceituosa. 

Mesmo tendo trabalhado com personagens femininos por muito tempo, hoje me reservo ao direito de ficar calado sobre a condição feminina. Elas têm o seu espaço garantido, apesar de ameaçado por este e outros governos e com isso, a palavra está com elas. Elas sabem se defender e sabem onde lhes dói o calo.

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Isto está sendo mostrado e demonstrado pela atitude das mulheres na CPI. Não importa o partido e eu as vezes até esqueço qual é, e sim a posição unificada da bancada feminina para ajudar a desvendar esse imbróglio institucional que é o governo Bolsonaro e a saúde. Elas não têm rabos presos, pelo menos aparentemente. Mesmo a senadora do PSL, Soraya Thronicke se diz apoiadora do governo, mas acho que ela imagina que a posição política do Bolsonaro deveria se parecer mais com a do ex-presidente argentino Mauricio Macri ou até mesmo do presidente francês Emanuel Macron. Os parecidos com Bolsonaro estão hoje no lixo da história. A senadora é de direita e acha que isso é apenas uma posição política. Deveria ser se o presidente não fosse quem é e sua eleição não fosse resultado de tramoias escandalosas. Ela briga pelo que parece ser honesto para ela e o tempo mostrará quem de fato ela apoiou. 

As outras senadoras são bem mais combativas que os homens. Elas fazem par com a determinação do Randolfe Rodrigues e do Humberto Costa. Se divertem com as tiradas do presidente Omar Aziz e com isso até esquecemos algumas histórias recentes. A Senadora Tebet e a senadora Eliziane Gama dão prazer ao nosso senso democrático ao assistirmos elas falarem. Pena que não estão efetivas na comissão, resultado ainda do machismo estrutural da nossa política. Mas elas cavaram seu lugar na comissão. Falam como efetivas e ajudam como ninguém a desvendar os crimes que foram cometidos. 

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Elas quase não demonstram vaidades por estarem sob os holofotes. Talvez Simone Tebet tenha alguma ambição eleitoral que se aproveita dessa performance, mas não compromete. Ela combate o bom combate sem querer agora discutir o que fez no passado ao apoiar o derrubada da Dilma. Erros acontecem e ela, como muitas outras pessoas, devem ter percebido o mal que causaram. Se não perceberam ainda está em tempo. 

O que importa, mesmo que essa CPI não dê em nada e seja engavetada é que algumas coisas ficaram claras. O caráter do governo Bolsonaro e todos os crimes que cometeu contra o povo brasileiro e o papel fundamental das mulheres na comissão. De Simone a Leila, de Eliziane a Soraya e a Zenaide, elas dão um recado unânime que nos lembra como a visão feminina do mundo é fundamental nesses tempos de feminicídios, machismos e fanatismos religiosos que excluem as mulheres. Não seria por outro motivo. As mulheres têm um jeito diferente de ver o mundo. Mas não posso mais falar por elas. Só espero poder ouvi-las.

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