As minhas contradições e a escolha do vice de Lula

(Foto: Ricardo Stuckert, site do PT)


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Rasguei a carteira de filiado ao Partido dos Trabalhadores em algum momento não registrado na memória entre os anos de 2004 e 2005, logo após a minha migração interna do Rio de Janeiro para o Recife, para assumir uma vaga de professor adjunto no Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco.

Como não tomei a iniciativa de filiação ao Psol, junto a inúmeros colegas e amigos decepcionados com a Carta ao Povo Brasileiro e o projeto de reforma da previdência, continuo formalmente inscrito no PT de acordo com a base de dados do TSE, não obstante me sentir progressivamente mais identificado com as posições assumidas pelo Partido Socialismo e Liberdade.

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Com isso, da mesma forma que me sinto hoje mais recifense que carioca, apesar da nostalgia das tardes de domingo no Maracanã, enxergo-me mais como psolista do que como petista, sem, no entanto, nunca ter pedido a desfiliação do PT e deixado de votar nos seus candidatos à presidência da república: Lula, Dilma e Haddad.

Tais contradições pessoais em suspenso que dão forma a um movimento dialético inconcluso me farão, outra vez mais, apoiar a campanha de Lula em 2022, votando nos candidatos a deputado estadual e federal e senador apresentados pelo Psol pernambucano – isso, ainda que o Psol se decida pela indicação de candidatura própria à disputa presidencial.

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Tendo o ex-governador Geraldo Alckmin como vice na sua chapa, ou não, apoiarei e votarei em Lula, tendo, porém, a clareza crítica de que tal escolha incidirá de maneira determinante sobre a elaboração do seu programa de governo e, caso venha a ser eleito, sobre seu ímpeto transformador em termos sociais e políticos.

Defendo a necessidade da formação de uma Frente Ampla a fim de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, em 2022 e nos próximos anos que ainda virão, mas com um núcleo estratégico de esquerda suficientemente capaz de, junto aos movimentos sociais, reconstruir a democracia política e combater todas as modalidades de desigualdade existentes no país.

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Com ou sem Alckmin como candidato a vice, são grandes as chances de Lula vencer a eleição presidencial do ano que se inicia em breve, impondo uma derrota muito aguardada a Bolsonaro e ao bolsonarismo. Porém, para que tal vitória resulte num governo orientado ao enfrentamento das desigualdades por meio da ruptura com o neoliberalismo, a escolha do vice será decisiva.

Dito de outra maneira, tendo como base as categorias gramscianas, saber se um eventual terceiro governo Lula poderá ser analisado como um importante passo dado na direção de uma “guerra de posição” anticapitalista ou como mais uma volta no parafuso de uma “revolução passiva” que modernizou o Brasil conservando as suas iníquas estruturas sociais, dependerá da escolha do vice.

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Finalizo, pois, o último texto desse sofrido ano de 2021, afirmando um duplo desejo. Por um lado, manter as minhas contradições em suspenso, já que elas alimentam o meu espírito crítico. Por outro lado, ver reunida em torno de Lula rumo à derrota de Bolsonaro uma Frente Ampla que também pavimente o caminho da reconstrução da democracia e dos direitos sociais no Brasil.

Os limites e as possibilidades de realização do segundo desejo dependerão da presença, ou não, do nome de Geraldo Alckmin e tudo aquilo que ele representa em termos sociais e políticos, ao lado do de Lula em 2022.

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