As mil virgens no paraíso
Andreas Lubitz não é um pobre coitado com depressão. Eu já tive depressão, milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo inteiro. Andreas só queria sair do anonimato, nem que isso lhe custasse a vida e a vida de outras pessoas
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Os assassinos dolosos são psicopatas, latrocidas, vingadores ou caçadores de recompensa. Sobre os suicidas Émile Durkheim escreveu um tratado longo, criterioso e completo; o li ainda na universidade. Não há nada ali onde se encaixe Andreas Lubitz, o homicida alemão.
Tenho visto muitas análises comoventes, ingênuas e superficiais sobre a queda do avião da Germanwings na terça-feira passada, vitimando 150 pessoas. Os jornalistas e comentaristas de ocasião parecem predispostos a sentir pena do copiloto alemão.
Por que diabos?
É enorme o esforço para tentar compreender as razões de seu "suicídio". A depressão parece ser a causa em que todos apostam. Pra mim ela é um bom subterfúgio, o mais conveniente, para se sentir pena do copiloto e tentar compreender suas motivações e, por que não, tentar perdoá-lo.
Eu, de minha parte, acredito que o senhor Lubitz, antes de ser um suicida, é um assassino frio, cruel e impiedoso.
Andreas Lubitz teve tempo de sobra para pensar no que faria, calculou. Frio, ouviu da cabine em que estava seu colega implorar para não morrer. A desesperados golpes de machado, o piloto lutou pela sua própria vida e pela vida dos demais que com ele viajava no fatídico voo 4U 9525.
Enquanto isso, o copiloto alemão, respiração tranquila, atirava a aeronave contra as rochas nos alpes franceses, indiferente à angústia dos demais, tripulantes e passageiros, e nenhum pouco preocupado com a dor de familiares e amigos dos que iriam morrer com ele.
Teve tempo de sobra para pensar sobre isso.
Andreas, tal como um homem-bomba, parecia ter a certeza que a sua morte, e a morte dos demais, garantiriam a ele trezentas virgens no paraíso. O que temos que fazer aqui é tentar compreender o que significava para o copiloto, simbolicamente, essas trezentas virgens.
Pra mim é simples, sair do anonimato, mesmo morto, triunfar nas páginas de jornais, temos milhares de casos parecidos, tornar-se uma celebridade efêmera e infame. Olha aí as virgens.
Todos os que matam, se matam, ou matam e se matam por uma recompensa merecem o nosso desprezo e repúdio; não importa se ele é muçulmano, ateu ou cristão. Branco ou preto.
Não nos esqueçamos, o senhor Andreas é um assassino.
A depressão é a causa? Huuummm. Engraçado, nunca dizem que a depressão é a causa que leva milhares de jovens europeus a entrarem para os grupos extremistas do Oriente Médio, para matar ou morrer, ou para matar e morrer.
Ninguém diz que são maníacos depressivos os homens bombas, são sempre fanáticos ou lunáticos em busca de uma recompensa, as virgens do paraíso.
A depressão parece só servir como desculpa para este piloto alemão.
Vou gritar a plenos pulmões, o suicida, atentai bem, é o cabra que dar cabo à própria vida, aquele que tira a vida dos outros é um homicida, ainda que ele se mate depois.
Pra mim, o senhor Lubitz buscava a vida eterna, a popularidade post-mortem: as capas de jornais e sites, os comentários no noticiário do mundo inteiro, análises sobre a sua vida, sua infância, a celebração do seu infame artifício para se tornar uma celebridade instantânea.
Pra mim, essas foram as razões que levaram Andreas a cometer um assassinato em massa, um planejado crime espetacular, que chocaria o mundo, que comoveria senhoras em seus sofás e arrancaria lágrimas de âncoras de jornais.
Andreas Lubitz não é um pobre coitado com depressão. Eu já tive depressão, milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo inteiro, nem por isso ciclistas depressivos estão a atropelar velhinhas e babás nas calçadas, não vejo motoristas depressivos chocando-se com outros veículos pelas nossas avenidas, Emos não se explodem em shows do Restart.
Andreas só queria sair do anonimato, nem que isso lhe custasse a vida e a vida de outras pessoas.
A fama instantânea tem o sabor de mil virgens. É por isso que mocinhas entram em biquínis minúsculos e tomam torta na cara em programas de auditório, é para isso que jovens gravam vídeos provocando acidentes em si mesmos e os enviam para as Tvs; tudo pelo espetáculo e pela visibilidade.
O resto é fuleiragem.
Palavra da salvação.
Lelê Teles
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