As mentiras da vez sobre Venezuela e China

É insano o pronunciamento do ministro Ricardo Salles, a propósito de velar o evidente descaso de alguma empresa privada beneficiária da privatização dos poços de petróleo brasileiro



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Este espaço, esta semana, terá de discutir dois temas, ante a imensa quantidade de bobagens ditas pelo Governo Brasileiro. A começar pela questão do óleo nas praias do Nordeste brasileiro e a insanidade política, econômica e geográfica que é atribuir o desastre a um suposto “ataque venezuelano”, como se a Venezuela estivesse em condições de realizar um ataque químico contra um vizinho militarmente poderoso (relativamente, mas, ainda assim, uma potência regional), desfazendo-se de seu principal patrimônio e, a despeito disso, como se houvesse condições de fazer aquela quantidade de óleo chegar propositalmente a metade do litoral brasileiro. 

Ora, se fosse o caso, seria necessária uma imensa estrutura de dutos submarinos para que a explosão de poços de petróleo na Venezuela não atingisse também o Caribe e os litorais das Guianas e do Suriname, sendo conduzidas exatamente ao Brasil. Os quais a Marinha brasileira teria descoberto, claro, mais ainda em se tratando da Venezuela. Ou centenas de petroleiros abrindo suas comportas em plenas águas territoriais brasileiras, que deixariam rastros óbvios, a começar por testemunho de quem os visse, da vigilância da Marinha e, mais que isso, imagens de satélite.

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É insano o pronunciamento do ministro Ricardo Salles, a propósito de velar o evidente descaso de alguma empresa privada beneficiária da privatização dos poços de petróleo brasileiro.

Além disso, essa foi a semana em que Bolsonaro, buscando sofismas para evitar a associação de sua imagem de anticomunista à incontestável economia socialista chinesa, afirmou estar em visita a um “país capitalista”. O presidente Xi Jinping, assim como a solidamente pragmática diplomacia chinesa, fez pouco caso das palavras de um dos presidentes menos ouvidos no mundo, ademais porque conhece o sistema de seu país e sabe que há, sim, padrões capitalistas no modelo econômico chinês, que, todavia, segue socialista. Ou comunista, como o querem os mais ortodoxos, ou socialista com características chinesas, o que Bolsonaro quis chamar de capitalista.

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“Não importa a cor do gato, desde que coma os ratos”, disse o ex-líder Deng Xiaoping diante de uma plateia de jovens em 1978, quando assumiu o timão de Mao Tsé Tung, após governo de transição de Hua Guofeng, referindo-se a estratégias que a China precisaria adotar para lograr desenvolvimento e fugir à estagnação já experimentada, àquela altura, pelas outras potências socialistas. Foi a chamada Reforma Econômica. 

Desta forma, Deng inaugurou o que se chama de “socialismo com características chinesas”, isto é, mantém-se um sistema público e atenção ao povo e à economia nacional, mas integra-se o capital nacional chinês ao internacional, adaptando-se a economia interna às regras internacionais do mercado (não intervenção do Estado nos negócios, direitos individuais e à propriedade privada, permissão de atuação de empresas estrangeiras, dentre outras). 

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Isto sem falar no modelo “um país, dois sistemas”, implantado pelo presidente Jiang Zemin no final dos aos 1990 para receber os territórios outrora colonizados de Hong Kong (devolvido pelo Reino Unido) e Macau (devolvido por Portugal), além da província rebelde de Taiwan, que por décadas viveram no liberalismo e cujo choque com o modelo chinês poderia dificultar a assimilação. 

Tal modelo de adequação às regras do capitalismo com fortes estruturas internas de atenção popular o proteção à economia nacional, portanto, é o que já existiu no Brasil governado por Lula (PT, 2003-2010) e Dilma (PT, 2011-2016), cujo golpe que alijou Dilma do poder e prendeu Lula foi arranjado por forças que os diziam “comunistas”. Aliás, aquele modelo era mais flexível que o chinês. Assim o é, também, na Venezuela, e seria em Cuba, se ambos os países não vivessem sob boicote dos Estados Unidos e das potências da Europa Ocidental, que lhes são vassalas.

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A China não vive um momento econômico melhor que o brasileiro por ser capitalista, “ao contrário do comunismo que governou o Brasil nas últimas décadas”. A China assim está porque o Partido Comunista Chinês, ainda que se considere seus defeitos e excessos, mantém alinhadas as forças econômicas do país, estatais ou privadas, na busca pelo desenvolvimento com rendimentos à economia nacional, construção de infraestrutura, distribuição de renda, expansão dos serviços etc. Cerca forma de especulação, na China, pode ser enquadrada como crime de corrupção, e as penas são altas. Aqui, a mesma atitude é corriqueira por parte de bancos e grandes acionistas.

Aliás, o sistema bancário Chinês é protegido e hegemonizado pelo Bank of China, não se estabelecendo por lá as empresas financeiras privadas, principalmente europeias, que tanto vemos por aqui, vendendo serviços obscuros de investimento.

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Portanto, ainda ante a dificuldade se argumentar em duas frentes diferentes, só se reforça a ideia de que o atual Governo é feito de sofismas e mentiras, criação de inimigos imaginários e, quando impossível visto a imensa necessidade do Brasil em manter relações com uma economia socialista, risível tentativa de enganar. 

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