As máscaras do Dr. Queiroga
O Dr. Queiroga disse na CPI que construíram um relacionamento respeitoso, sem motivos de queixas do subordinado. Foi bem até que, num rompante de falta de educação, dos que lhe atacam com relativa frequência, o Presidente, prevendo problemas com o Ministro da Saúde, declarou-se disposto a convencê-lo a abolir as máscaras
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Que uma das principais polêmicas do atual governo diga respeito ao uso de máscaras, além de forte ironia, revela a pobreza da conjunção política em que, de repente, resvalamos. O uso das máscaras se incorporou aos nossos costumes como meio de defesa, uma vez que, cercados por uma epidemia que se instala nos organismos por vias respiratórias, e na falta de outras medidas ou iniciativas oficiais, não nos restavam alternativas. Depois de quatro ministros, sendo um militar, o último, o Dr. Queiroga, rendeu-se à lógica das evidências e, superadas fortes hesitações, difundiu a utilização desses apetrechos faciais como uma condição para a nossa existência. Não o fez com o agrado dos centros de poder. O lá de cima, cabe reconhecer, sempre se mostrou avesso a quaisquer estratégias em defesa da saúde pública, enquanto o número de mortes aumentava e logo, no quesito, batíamos recordes mundiais. Ao capitão, agrada o estilo dos fortões, embora ele próprio haja contraído a doença e se curado, segundo conta, com doses cavalares de cloroquina. O que não dá resultados no Planeta, pelo visto, para ele, deu.
A relação dos dois, do que manda e do que obedece, aparentemente, caminha bem. O Dr. Queiroga disse na CPI que construíram um relacionamento respeitoso, sem motivos de queixas do subordinado. Foi bem até que, num rompante de falta de educação, dos que lhe atacam com relativa frequência, o Presidente, prevendo problemas com o Ministro da Saúde, declarou-se disposto a convencê-lo a abolir as máscaras. A pequena proteção não lhe parece compatível com os eventos de massa dos quais gosta de participar. Com quase quinhentos mil óbitos, apesar da vacinação (ainda precária), de acordo com todos os pareceres, não dá para bater continência a tamanha irresponsabilidade. Era o que se esperava de uma possível reação do Ministro, no comando dos esforços de uma instituição estatal posta na linha de frente, como David contra Golias, na luta contra o coronavírus. A verdade, entretanto, é que, mais uma vez, tivemos de nos decepcionar. Na CPI, frente a um quadro de senadores da república, ele se mostrara tímido. Defendeu-se, com todas as letras, a qualquer probabilidade de enfrentar o patrão no quesito das opiniões. O fato de um não passar de um mero capitão e o outro de um cardiologista vitorioso em sua profissão, não representava a seus olhos algo digno de registro. Pois, no capítulo das máscaras, o capitão se referira a ele como “o tal do Queiroga”, um tratamento indevido para autoridades a quem o cerimonial exige um pingo de respeito. Outro consideraria o episódio um desrespeito. Pediria as contas e partiria. Grudado em seu cargo, o Queiroga não esboçou nenhum gesto de rebeldia.
No tema das humilhações, manda a dignidade que o atingido se lembre de sua trajetória pessoal e a defenda. Quando isso não ocorre, o humilhado o é duas vezes, pelo superior e por si mesmo, que pôs o rabo entre as pernas e fingiu que não viu. Lamentavelmente, foi o que se passou. O “tal de Queiroga”, declarou que estudaria o assunto. E imaginar que somos nós, que usamos máscaras, que constituímos o sujeito da História. Numa próxima manifestação, é o caso de gritar a plenos pulmões: “Viva a vida! Abaixo o genocídio!” Talvez assim escapemos da maldição que paira sobre nossas cabeças.
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