As mãos estavam sujas

Aos nostálgicos das ‘mãos sujas’ na operação lava-jato, um número de juristas, advogados e inocentes úteis na iniciativa de perseguir e botar na cadeira mesmo sem provas, diremos que a figura da justiça anda de olhos vendados



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A justiça não caminha a passos largos. Quando o faz, devemos desconfiar. Foi, aliás, uma constatação que a defesa do ex-Presidente Lula enfatizou constantemente. Por algum motivo, os seus processos pareciam ágeis, comparados com a maioria do que passavam nas varas. É que, em Curitiba, um juiz, do ponto de vista do relógio, agia com desembaraço, rápido em julgar e condenar, com ou sem provas, apenas, com frequência, por meras deduções. Por isso, chegaram a compará-lo à “operação mãos limpas” da Itália, pela maneira como lá se rompiam as expectativas e se colocavam conhecidos bandidos (de colarinho branco) na cadeia. Infelizmente, as comparações não iam longe. Aqui as mãos estavam sujas, envolvidas com disputas políticas que logo se declarariam evidentes e levariam Sérgio Moro ao cargo de Ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro. Falava-se nele como herói nacional, um nome certo para as próximas eleições, no espectro que frequentava: o da direita. Quem observava com atenção, não se enganava. Como alguém poderia ser condenado com base num triplex no Guarujá, em São Paulo, sem qualquer documento que lhe afirmasse a propriedade? E pegou uma pena de 12 anos, a cumprir nas dependências da Polícia Federal, no Paraná! 

Com a passagem do tempo, um par de verdades se associou a esses fatos. Mais recentemente, ainda, soube-se que o louvado herói, já não mais na magistratura, assumira um cargo de sócio-diretor na Alvarez & Marsal tendo a Odebrecht como um dos seus clientes. Entre parênteses, para rápido registro, vale a pena acrescentar que a Odebrecht se situa à beira da extinção exatamente pelas pressões exercidas contra ela pelo então juiz: Sergio Moro. A lava-jato, que doravante poderia ser chamada de operação mãos sujas, em conluio com o Procurador Deltan Dallagnol, com quem compactuava em todas as suas intenções, sofre um momento de desgaste diante das decisões do STF e, em particular, dos pareceres dos ministros Gilmar Mentes, Ricardo Lewandowski e Carmem Lúcia. Esses juristas provaram por a + b, para um cliente disposto a fazê-lo, a imprudência de comprar um carro de Sergio Moro ou de Deltan Dallagnol, tão inconfiáveis se revelam. Em resposta, depois de largo silêncio, o ex-juiz, em nota, disse que se encontra ‘tranquilo’ pelas decisões tomadas, nada tendo a se arrepender. Está e esteve tranquilo desde o início de sua antiga notoriedade, quando, sem hesitar, não mediu as consequências de seus atos processuais e conferiu culpa a um réu inocente. Por sua responsabilidade, interferiu na política nacional, em favor de um dos candidatos, contra, segundo as pesquisas, aquele com reais condições de ser o mais votado. Mesmo assim, se considera ‘tranquilo’ – ele e boa parte de manipuladores da historiografia nacional, movidos pelo princípio do oportunismo, com condições de sucesso.

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Aos nostálgicos das ‘mãos sujas’ na operação lava-jato, um número de juristas, advogados e inocentes úteis na iniciativa de perseguir e botar na cadeira mesmo sem provas, diremos que a figura da justiça anda de olhos vendados. Não se põe a serviço de interesses imediatos. As contradições no sistema muitas vezes bastam para desmascarar as manobras urdidas em gabinetes de gente ansiosa para ocupar espaços vagos por sua própria iniciativa. Que chorem o leite derramado, mas que, pelo menos, reconheçam que essa trama, desmontada, já não deve ser usada. Foi assim com Collor, o “caçador de marajás”, festejado pela da imprensa e, em seguida, derrubado como corrupto. Milagreiros e videntes, ao contrário do que se supõe, têm fôlego curto. Cuidado com eles. 

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