As guerrilheiras do aborto

Um grupo de mulheres ativistas fez mais de 11 mil abortos ilegais nos EUA dos anos 1960/70. Um belo documentário conta a história das "Janes: Mulheres Anônimas"

(Foto: Divulgação)


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Um dos episódios menos conhecidos da luta pelos direitos civis nos EUA dos anos 1960 tem um nome de mulher. The Janes era o codinome de um grupo de ativistas de Chicago que se arriscaram a apoiar mulheres necessitadas de interromper a gravidez em época de criminalização. Uma história que ganha enorme atualidade agora que a direita estadunidense conseguiu que a Corte Suprema suspendesse os efeitos da decisão conhecida como "Roe contra Wade", de 1973, que legalizava nacionalmente o aborto até os três meses de gestação. Desde o dia 24 de junho, cada estado pode decidir se permite ou não o aborto legal.

"Roe contra Wade" foi uma conquista de mulheres como as retratadas no documentário Janes: Mulheres Anônimas (The Janes), de Tia Lessin e Emma Pildes. Elas militavam pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã, mas achavam o ambiente das lutas muito machista. As mulheres em geral não eram levadas em consideração. Foi quando descobriram a vertente de facilitadoras do aborto ilegal. Montaram uma rede de acolhimento para mulheres com gravidez indesejada.

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Naturalmente, não era fácil encontrar médicos dispostos a atuar na clandestinidade. Por um tempo elas trabalharam com um certo "Mike", ex-operário improvisado em aborteiro que participa do filme de maneira desconfortavelmente divertida. Mais tarde, aprenderam elas mesmas a lidar com os instrumentos e resolver as paradas. 

Essa situação ambivalente fazia das Janes heroínas e ao mesmo tempo loucas imprudentes. O risco e a responsabilidade eram gigantescos. Elas "atendiam" em casas suas ou de amigos, em regime doméstico e nômade, conforme permitisse a ocasião. Não tinham experiência para solucionar imprevistos, muito embora cuidassem para que tudo fosse limpo e o mais seguro possível. Chegaram a realizar 30 abortos por dia, três vezes por semana. No total, foram mais de 11 mil intervenções. 

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Além da lei, elas desafiavam a proibição da Igreja e a concorrência da máfia dos abortos, que explorava o desespero das mulheres. Opunham-se, ainda, ao controle dos médicos homens sobre os corpos da mulheres, alguns dos quais as chantageavam por sexo. 

O filme tem a participação de diversas Janes, algumas de suas ex-clientes, médicos e policiais. O modus operandi do grupo é contado em detalhes, onde não faltam drama, firmeza política e humor.   

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"Grávida? Precisa de ajuda? Ligue para Jane" – era como elas se anunciavam. Os dados sobre as mulheres assistidas eram compilados em cartõezinhos que as Janes exibem com orgulho e nos emocionam. Cada "cliente" contribuía financeiramente com o que pudesse, de maneira a cobrir os gastos com aquelas que não tinham dinheiro nenhum. Muitas eram parentes de policiais, razão pela qual a polícia costumava fazer vista grossa até o dia em que finalmente elas foram caçadas e presas junto com prostitutas. Uma famosa advogada dos Panteras Negras as defendeu. Em 1973, veio a vitória com a legalização nacional.

Essas militantes anônimas recordam com alegria seu papel corajoso. Uma magnífica pesquisa de arquivos recolhe a diversidade das imagens femininas na década de 1960 e 70, situando visualmente cada minúcia relatada. O sopro de liberdade que varreu os EUA nos anos 1970 foi substituído nos últimos anos pelo avanço do ultraconservadorismo. Em pouco tempo, o país vai estar precisando de novas Janes. 

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>> Janes: Mulheres Anônimas está na plataforma HBO Max.  

Trailer com tradução automática opcional:

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