As Forças Armadas contra o Brasil
"Desde a fundação da República, sempre que um fardado exerceu o poder civil o resultado foi violência, atraso social, miséria e mortes", escreve Carla Teixeira
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A República foi fundada, no Brasil, a partir da articulação entre poderosos latifundiários escravocratas e militares, ciosos pelo poder, que buscavam garantir os seus interesses pessoais às custas de toda a população. O golpe militar, de 1889, foi o primeiro de muitos que marcaram as diversas fases do republicanismo brasileiro. Nosso pecado original – a ruptura constitucional via tutela militar – é a chaga que macula e inviabiliza a construção de qualquer projeto de soberania nacional ancorada no poder civil.
Se nos quartéis e em missões as Forças Armadas mostraram suas melhores qualidades, todas as vezes que se aventuraram na política as consequências foram desastrosas. Desde a fundação da República, sempre que um fardado exerceu o poder civil o resultado foi violência, atraso social, miséria e mortes. A imagem de eficiência, probidade e competência dos militares junto à gestão pública é, certamente, fruto de algum surto psicótico e não confere com a realidade de qualquer momento em que eles estiveram no poder.
Desde a Guerra do Paraguai, passando pelos massacres de Canudos e Contestado, da Ditadura Militar até o atual governo, o principal papel político desempenhado pelas Forças Armadas ao longo da história nacional foi garantir o domínio da elite escravocrata e oligarca (hoje financeirizada), reprimir manifestações populares por justiça social, matar brasileiros, destruir a democracia e a soberania nacional, e impor a servidão do país aos Estados Unidos.
Com o apoio militar ao golpe de 2016, à prisão ilegal de Lula e à eleição de Bolsonaro, o resultado atual é a destinação de mais recursos fiscais ao setor financeiro do que ao combate à pandemia – que segue matando aos milhares -, a crescente militarização do governo e a milicianização da sociedade através de facilidades para o acesso a armas de fogo. Oficiais das três Forças se sujeitam ao papel de “damas de companhia” do presidente em sua gestão tresloucada, utilizando Bolsonaro e o bolsonarismo como alternativa de alpinismo político-institucional até o poder.
Tudo isso sem contar as inúmeras denúncias de corrupção. Muito ainda há por saber, principalmente sobre a utilização de efetivos e recursos das Forças Armadas na compra, produção e distribuição de medicamentos, como a cloroquina, sem eficácia contra a Covid-19. O consequente genocídio fica na conta do Ministério da Saúde, comandado pelo General Pazuello, o pesadelo no sonho de longevidade e bem estar dos brasileiros.
A crise sanitária, política, econômica e social que abate o país sob o atual governo de militares é mais uma demonstração da incompetência histórica das Forças Armadas na gestão pública, assim como da sua incontestável adesão às práticas dos conservadores e parasitas do Estado, em detrimento de milhares de vidas. Qualquer projeto de democracia, desenvolvimento, inclusão social e soberania nacional apenas terá êxito se passar pela organização e mobilização popular, pelo respeito às suas decisões soberanas e o necessário retorno dos militares aos quartéis, de onde nunca deveriam ter saído.
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