As falsas vestais da moralidade
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Lula ainda não assumiu a presidência, mas os que sempre se julgam fiscais da coisa pública já começaram a atacá-lo.
O ex-presidente foi convidado a participar da COP27 e, para poder viajar ao Egito, fez uso de um jato pertencente ao empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.
O ato foi ilegal?
O general Hamílton Mourão se apressou em dizer que a escolha de Lula fere o princípio da moralidade previsto na Constituição, mas se esqueceu que ele próprio, investido no cargo de vice-presidente, viajou de jatinho durante a campanha eleitoral e, por isso, pode ser denunciado. E que Lula ainda não é presidente e, portanto, não presta contas quanto ao mesmo princípio.
Havia outras alternativas, como viajar em avião de carreira, mas a equipe de policiais federais que fazem sua segurança, descartou, temendo riscos.
Outra possibilidade seria o PT pagar um voo fretado, mas, além do alto custo, o recurso viria do Fundo Partidário, dinheiro público. Seria crime de desvio de finalidade.
Por fim, restaria a Lula usar o barquinho de lata da dona Mariza para atravessar o oceano ou declinar do convite. Porque para ele nada pode.
Neste ponto, pergunto: o que seria mais danoso ao país?
Lula, mesmo antes de assumir a presidência em janeiro do próximo ano, já está azeitando as relações com outros países, enferrujadas após 4 anos de desgoverno Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Uma das consequências disso é o retorno da contribuição ao Fundo Amazônia por parte da Noruega e da Alemanha, que perfaz a quantia nada desprezível de 3,6 bilhões de reais.
Além disso, seu discurso na COP27 foi de estadista. Todos comemoraram que o Brasil voltou à comunidade internacional.
Portanto, Lula foi para o Egito para o bem do país (e do mundo) e não para o bem dele.
Seripieri pode reivindicar futuramente a contrapartida pelo seu gesto?
Quem sabe, mas aí entramos no terreno das conjecturas. Também não podemos afirmar que o novo governo algum dia ceda aos interesses do empresário. Esperemos que não.
Mas, na verdade, o ponto a que quero chegar é a marcação cerrada a Lula, faltando ainda um mês e meio para assumir a presidência, o que já indica o que virá em 2023.
E ela, pasmem, vem muito mais do PL, o partido de Bolsonaro, daqueles mesmos deputados que se lambuzaram com as verbas do orçamento secreto utilizadas sem fiscalização ou prestação de contas.
Vem dos mesmos deputados que não viram problema algum na utilização escandalosa de muito dinheiro público na campanha de Bolsonaro.
Portam-se como falsas vestais em casa de tolerância.
A imprensa, que temia que se instalasse por aqui uma teocracia que duraria indefinidamente e que teria, por conta disso, que viver anos de mordaça devido à censura, uniu-se, nas semanas que antecederam o pleito, em torno da candidatura de Lula e respirou aliviada depois da derrota do capitão, mas agora, assesta seus canhões para seu alvo preferido que sempre foi e será o petista. Ele foi útil só até 30 de outubro.
Lula não errou, como diz a imprensa e, pasmem, até alguns petistas.
Não pensou em si, mas no país.
Por isso, antes mesmo de 1º de janeiro de 2023, começa a pagar um preço alto pelo que não deve.
Como sempre, aliás.
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