As comorbidades de Guedes e Bolsonaro
É importante que se combata a hipocrisia do desgoverno Bolsonaro: não é a pandemia que derruba a economia. Ela, tal como o vírus, afeta mais terrivelmente os organismos debilitados. E a “comorbidade” do Brasil chama-se ultraliberalismo obsessivo
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Um dado chama a atenção na pesquisa de desemprego do IBGE: o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar foi de 49,5% no trimestre encerrado em maio. Caiu cinco pontos percentuais em relação ao trimestre anterior (fevereiro a abril). É menor nível da ocupação desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Esse é um dado terrível, que absorve o impacto da redução da atividade econômica decorrente da pandemia.
No entanto, a leitura apressada da pesquisa pode levar a um grave engano. A situação dramática do mercado de trabalho do Brasil tem dois fatores principais: um, já disse, é a pandemia. Cujos efeitos são maiores e mais prolongados pela irresponsabilidade do presidente da República e de parte dos governadores e prefeitos, que agiram de maneira vacilante e irresponsável diante da grave crise sanitária. Outro é a política desastrosa de Paulo Guedes e sua equipe. E vem de antes do surgimento do novo coronavírus.
A obsessão por cortes orçamentários, a aplicação irracional da Emenda Constitucional do teto de gastos é visível e destrutiva, pois impacta as políticas sociais e os investimentos públicos. Chama a atenção, principalmente, a ausência de qualquer projeto de desenvolvimento nacional. Sem política industrial, reduzindo o apoio à agricultura familiar, sem foco na infraestrutura de logística e energia e com desinteresse pelo programa, criado por Lula e Dilma, Minha Casa Minha Vida, não há como expandir a geração de empregos. E é sempre bom lembrar que, em um país como o Brasil, sem o “motor de arranque” do orçamento público, o “carro” da economia não ganha velocidade.
Portanto, sem um plano de investimentos públicos que atraiam o instinto empresarial não haverá saída da crise. Isso vale para o momento da pandemia, por óbvio, mas valia também para o mês de fevereiro, quando não tínhamos esse terrível cenário, mas a economia dava mostras de uma terrível anemia.
O mundo está abandonando toda a retórica de controle de contas públicas para colocar fatias de até 25% do PIB a serviço do reaquecimento da economia. Aqui, corremos o risco da pandemia servir de argumento para mais privatizações, que enfraquecerão, se consumadas, a capacidade de governança do estado brasileiro.
Por isso, é importante que se combata a hipocrisia do desgoverno Bolsonaro: não é a pandemia que derruba a economia. Ela, tal como o vírus, afeta mais terrivelmente os organismos debilitados. E a “comorbidade” do Brasil chama-se ultraliberalismo obsessivo. Essa doença deixou sequelas terríveis no Brasil de Collor e FHC, no Chile de Pinochet e Piñera, na Argentina de Menem e na Inglaterra de Tatcher. Guedes quer usar a crise para amputar direitos e patrimônio público. E a democracia brasileira exige mais que cuidados com as instituições democráticas. Exige que cuidemos dos direitos e do patrimônio público.
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