As Cartas da Mira Mar
Com a venda deste patrimônio do povo, os Correios, ninguém espere que a Mira Mar volte a funcionar em qualquer parte do Brasil, ou que a iniciativa privada ao adquirir uma empresa que dá lucro, não queira ganhar ainda mais. O que pode acontecer é que eles retirem serviços que hoje são prestados a população e que para tê-los, nós precisemos pagar a mais por isto
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O anuncio de que os Correios vão ser privatizados me chamou a atenção para um tempo onde cidades do interior do Brasil não tinham nem agências instaladas e mesmo assim, as cartas chegavam aos seus destinatários. E ainda há regiões que isto acontece. Lá pelo interior do Nordeste, do Sul e do Sudeste, lá pela região norte onde barcos são o meio de transporte mais rápido e levam semanas para chegar aos seus destinos.
Pelo idos de 1975, a hoje, Rua Manoel Novaes, era conhecida como “rua do esgoto”. Eram mais de dois quilômetros correndo a céu aberto. As águas buscavam os declives e desciam ocupando boa parte das terras. E era lá que ficava a Mira Mar. Eu nunca entendi o porquê do nome, mas aquele serviço de alto falante, instalado em um primeiro andar entre a “Rua da frente e a São Francisco” levava informação antes mesmo de qualquer rádio ser instalada na cidade de Paulo Afonso na Bahia.
Na Vila Poty ficavam alguns de seus alto-falantes que tocavam as músicas de sucesso da época. Os discos chegavam primeiro lá. E era assim que a cidade acordava e anoitecia, sempre com aquele som para todos. E nem adiantava querer o silêncio, todos ouviam assim mesmo.
Recados eram dados pelos microfones. “Atenção Seu Antônio Barbeiro, sua filha que está em São Paulo ligou e quer falar como Sr. hoje Ás 14h”. E assim quem ouvia estava informado da vida pessoal do homem. Recados de paqueras eram lidos antes das músicas serem executadas. E a chegada de cartas era anunciada pelo locutor do horário.
“Atenção, atenção para a Sra. Maria dos Prazeres, chegou carta de sua filha Elenita dos Prazeres. Venha buscar aqui na Mira Mar”. E as pessoas faziam fila na frente do prédio para pegar suas encomendas. Ao retirar, pagavam uma quantia pelo trabalho dos profissionais da comunicação.
Ainda hoje, mesmo com mais de uma agência dos Correios na cidade, pessoas se deslocam para ir buscar mercadorias. Já as cartas, mesmo diminuindo o seu volume de envio, agora são entregues por carteiros nas residências, mesmo que isto tenha que acontecer em povoados da cidade, em locais muito distantes e de difícil acesso, mesmo assim, os Correios prestam o serviço à população.
Com a venda deste patrimônio do povo, os Correios, ninguém espere que a Mira Mar volte a funcionar em qualquer parte do Brasil, ou que a iniciativa privada ao adquirir uma empresa que dá lucro, não queira ganhar ainda mais. O que pode acontecer é que eles retirem serviços que hoje são prestados a população e que para tê-los, nós precisemos pagar a mais por isto.
Vender empresa que dá lucro é só para traidores da pátria.
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