As águas correm para Lula

"Não foram apenas as expectativas da economia que mudaram. Nas cartas de navegação da política, as águas correm para Lula", diz Helena Chagas

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)


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Assim como os rios correm para o mar, boa parte do mundo político, dos empresários e até de setores do mercado costumam apoiar governos que acenam com bons resultados na economia — mesmo quando, até a véspera, eram seus adversários. Dá-se o dito pelo não dito, passa-se uma borracha no passado e esses setores correm para celebrar novas alianças. Afinal, o coração de uns está guardado no bolso; o de outros, na próxima campanha eleitoral. Após seis meses de resistência, ceticismo e má-vontade, os sete dias que foram da decisão do TSE de tornar Jair Bolsonaro inelegível à aprovação, pela Câmara, da reforma tributária podem ter marcado esse ponto de inflexão no Lula 3.

É cedo para se falar em aproximação consistente e duradoura, até porque mal começaram a aparecer os números positivos da economia e ainda há muito a se fazer. Mas hoje o establishment econômico vê suas previsões catastrofistas malograrem e saúda a reforma nos tributos. Os políticos, por sua vez, farejam quando um governo parece que vai dar certo.

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O melhor termômetro do momento é o Centrão. O entendimento do Planalto com esse grupo, até então restrito à turma mais próxima de Arthur Lira (setores do PP + União), passou a incluir a cúpula do PP, embora a legenda seja presidida pelo bolsonarista Ciro Nogueira. Entrou na roda também o Republicanos, partido de Tarcísio de Freitas e da Igreja Universal. Na negociação da pauta econômica, os dois partidos apresentaram suas listas de ministérios e estatais ambicionadas ao Planalto. O PP quer o Desenvolvimento Social — um sonho quase impossível — mas pode acabar aceitando outra coisa. O Republicanos mira na pasta dos Esportes.

O que explica isso é que o cálculo político dos partidos de direita, baseado na pequena diferença com que Lula se elegeu, e que previa a chance de volta de Bolsonaro diante de um suposto fracasso do petista, parece estar fazendo água. Esses setores são também extremamente sensíveis às mudanças de humor do mercado. O dólar cai, a bolsa sobe, a economia começa a apresentar números positivos — que devem ser potencializados com a aprovação da reforma e outros projetos. Lira, Nogueira e outros caciques ligados ao mercado e a outros setores da economia dificilmente serão contrários a seus desígnios.

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O Republicanos, que em tese tem no governador de São Paulo um candidato em potencial para 2026, é também o partido da Igreja Universal e da TV Record. Dificilmente fica contra governos quando eles se mostram viáveis. Na aproximação, oferecem também a Lula uma ponte com o público evangélico, no qual, segundo as pesquisas, está sua maior rejeição. Sem contar o apoio da segunda maior rede de televisão, que, junto com a terceira — o SBT, também ex-bolsonarista — entrou no barco que navega rumo ao Planalto.

Não se sabe como Lula vai negociar a entrada desses partidos no governo e driblar reivindicações inadequadas, como a do controle do Bolsa Família pelo PP. Tudo indica que dará um jeito, ainda que reduza a fatia do PT e de aliados próximos na Esplanada — o que, obviamente, vai provocar reações.

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Essa será a agenda de julho e agosto, e ainda há muito chão a percorrer: a reforma tributária no Senado, a votação do arcabouço fiscal na Câmara e sua implementação no orçamento 2024, a pressão sobre o Banco Central para redução dos juros em ritmo razoável, o lançamento do novo PAC. Por sim, fatores decisivos como a manutenção das expectativas positivas na economia, a necessária percepção da população em relação aos programas sociais, à queda da inflação e à melhoria de vida.

Muito trabalho pela frente, mas não restam dúvidas de que, agora, o governo controla a agenda. E seu debate encontrará o presidente da República politicamente mais fortalecido do que tempos atrás, quando teve que rebolar para aprovar uma prosaica medida provisória reestruturando seus ministérios. Novos tempos? Pode ser que sim, pode ser que não. Mas não foram apenas as expectativas da economia que mudaram. Nas cartas de navegação da política, as águas correm para Lula.

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