Artistas e seus públicos entraram na campanha e só saem das ruas e das redes em outubro

"A tentativa de censura pode ter catalisado numa espiral de repulsa os diversos tons e matizes de insatisfações da juventude", escreve o jornalista

Fresno grita 'fora Bolsonaro' no Lollapalooza
Fresno grita 'fora Bolsonaro' no Lollapalooza (Foto: Reprodução)


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Ao estabelecer conflito direto com a organização do 1º grande festival de música pop do ano -- o último, antes das eleições, será o Rock'n Rio, que termina em 11 de setembro, três semanas antes do 1º turno -- Jair Bolsonaro, seus ministros, defensores e o espectro de partidos que o apoia iniciou uma escalada cuja dinâmica ser-lhe-á totalmente desfavorável.

Quanto mais ousada uma ação polêmica em campanhas eleitorais polarizadas, mais dura e potencialmente contagiante a reação. Correr riscos está no job description de quem se aventura por pleitos majoritários. Seguramente cientes dos reveses que podiam advir do pedido de censura feito ao Tribunal Superior Eleitoral, os advogados do PL bolsonarista puseram sobre a mesa do cassino eleitoral o cacife que criam ter em mãos e pediram a censura a manifestações de artistas que se apresentavam no festival Lollapallooza em São Paulo. 

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No fim da manhã de domingo, eles exibiam em êxtase a decisão liminar e monocrática do ministro Raul Araújo, do TSE e integrante do Superior Tribunal de Justiça, concedendo parte dos pedidos do partido do presidente. Ao mesmo tempo, promoviam ato que pode ser considerado "de campanha" (o que é ilegal e tem o condão hipotético de ensejar punição do polo denunciado, no limite da decretação de inelegibilidade) travestido de promoção de filiações partidárias. No fim da noite do mesmo domingo, sem que a decisão liminar do ministro Araújo tivesse sido eficaz -- erro de descrição do CNPJ dos promotores do festival de música impediu a citação das mesmas e não houve notificação dos artistas ou promotores, fazendo que a reação no palco, do público e a repercussão delas nas redes sociais e na mídia ecoasse as provocações contra Bolsonaro e o governo dele muito além do que ocorrera na 6ª feira, no 1º dia do Lolla --, os bolsonaristas e o próprio Bolsonaro amargavam a explosiva e contagiante reação adversa. Erro capital. Em campanhas, erros capitais têm custo enorme e deve ser este o caso. 

A tentativa de censura pode ter catalisado numa espiral de repulsa os diversos tons e matizes de insatisfações da juventude e de formadores de opinião em amplo espectro da sociedade contra o presidente da República e a administração dele -- de resto, pessimamente avaliada como indicam as pesquisas pré-eleitorais (tema abordado na análise da última sexta-feira).

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Os shows do domingo, do 1º ao último artista que pisou em quaisquer dos palcos, guardaram momentos para odes anti-bolsonaro. Replicadas nas redes sociais, converteram-se em minicomícios. A foto de capa do jornal Folha de S Paulo, com imenso "Fora Bolsonaro" projetado no telão do evento e ocupando 20% da publicação na 2ª feira, consolidaram o estrago à imagem do candidato à reeleição ao Planalto e a inutilidade do gesto impensado de reivindicar censura a uma Corte eleitoral.

O grande problema para os estrategistas do bolsonarismo é correr para circunscrever tamanhos erros ao evento pretérito: em abril, durante os feriados do dia 21 (Tiradentes) e da Semana Santa, vários eventos carnavalescos retardados pela pandemia tomarão as ruas de metrópoles como Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Na capital paulista e no Sambódromo do Rio haverá até desfile de escolas de samba. Blocos sairão pelas ladeiras de Olinda e pelas ruas coloniais de lá, de Salvador, do Recife, de Ouro Preto. Fogo morro acima, água morro abaixo e grito de protesto que tentaram silenciar por ato estapafúrdio de censura costumam ser incontroláveis. 

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A partir do mês de maio, e também correndo atrás de retardamentos e remarcações às quais se viram obrigados pela pandemia, artistas de imenso potencial de público como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa (talvez Chico Buarque) e bandas pop diversas, além de Anitta, iniciam turnês nacionais. O que se espera que seja gritado de cima dos palcos, contagiando o público? Ou, seja filmado e aspergido pelas redes sociais de dentro de teatros e arenas multieventos? 

Enfim, o ápice desse calendário cuja antevisão parece ser apocalíptica para as pretensões governistas, dar-se-á entre 2 e 11 de setembro, na Barra da Tijuca, no Rio, com transmissão ao vivo por canais de TVs abertas e fechadas: é o Rock'n Rio. O roteiro da pauta de eventos antibolsonaro está dada. Muito antes de refletir sobre ela, advogados e estrategistas do presidente que tenta a reeleição açularam público, movimentos sociais, juristas, artistas e mídia contra ele. Certamente, há arrependimento nas coxias do bolsonarismo.

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