Armínio dá a mão à palmatória: Lula tinha razão
"Poucas vezes eu vi um entrevistado tão para baixo como Armínio Fraga ontem à noite", relata o jornalista Alex Solnik. "A surpresa da noite foi ele dizer que diminuir a desigualdade deveria ser a prioridade número um e que 'a desigualdade impede o crescimento'. Parecia Lula falando. A surpresa foi tal que Miriam Leitão disparou: 'O senhor é de esquerda'? ", acrescenta
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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia - Poucas vezes eu vi um entrevistado tão para baixo como Armínio Fraga ontem à noite. Seu desalento era tão palpável que contaminava o time de entrevistadores do programa Central Globo News e certamente os telespectadores. Embora se rotulasse como otimista.
Poucas vezes eu vi um entrevistado falar muito menos que seus entrevistadores. Eles – Merval Pereira, Valdo Cruz, Miriam Leitão, João Borges, Natuza Nery e Heraldo Pereira - faziam longas e implacáveis exposições acerca da situação política e econômica e ele apenas confirmava.
“Está pior do que antes”?
“Está”.
“Está vendo melhora no horizonte”?
“Não”.
Estava ali um ex-presidente do Banco Central e atual gestor de fundos milionários, de dentro e de fora do país. Um homem do mercado. Alguém que conhece os dois lados do balcão.
Seu quadro depressivo deve ter a ver com as cobranças dos clientes. Ele apostou em Bolsonaro; apostou as fortunas de seus clientes; e agora está vendo a fria em que meteu seus clientes e ajudou a meter o país. Me lembrou aquele quadro de Munck, O Grito. Desesperado. Mas seu desespero era um grito murcho, lacônico.
Ninguém perguntou em quem Armínio votou em 2018, mas não deve ter sido em Fernando Haddad, a julgar por suas opiniões pretéritas acerca do PT.
Se os entrevistadores não tivessem uma pergunta engatilhada atrás da outra o silêncio tomaria conta: para cada pergunta de dois minutos ele respondia em dez segundos.
“As declarações do presidente e de seus filhos prejudicam o ambiente de negócios”?
“Prejudicam”.
“Quais? Sobre a Amazônia? Sobre a mulher dom Macron?
“Todas... aquela do dia sim, dia não...”
Citou preocupação no exterior com a Amazônia, com a incapacidade de o país crescer e com a “qualidade da democracia” brasileira, que também o preocupa. “Não há que vá ter um golpe” arriscou.
A surpresa da noite foi ele dizer que diminuir a desigualdade deveria ser a prioridade número um e que “a desigualdade impede o crescimento”. Parecia Lula falando. A surpresa foi tal que Miriam Leitão disparou: “O senhor é de esquerda”?
Ele admitiu ter adotado a tese depois de ler relatórios recentes com números do Brasil comparados aos de outros países e constatar que o nosso país é campeão na modalidade:
“Sem diminuir a desigualdade não há como crescer. E a desigualdade sequer está na pauta do governo”.
Depois de duas horas de clima de velório o apresentador Heraldo Pereira encerrou com uma brincadeira para desanuviar o ambiente:
“E o senhor disse no começo que era um otimista”...
“Imagina se eu não fosse” respondeu Armínio.
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