Armas para a Ucrânia: a armadilha ocidental a Lula

O envio de armas à Ucrânia poderia envolver (ainda que indiretamente) o Brasil no conflito

Lula e explosão na Ucrânia durante a guerra
Lula e explosão na Ucrânia durante a guerra (Foto: Ricardo Stuckert | Governo da Ucrânia)


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Não é segredo que a Guerra na Ucrânia se tornou um negócio lucrativo para os Estados Unidos. Desde fevereiro de 2022, a cifra de ajuda militar ocidental ao exército ucraniano já ultrapassou 10​​0 bilhões de dólares. O complexo industrial-militar norte-americano nunca lucrou tanto nos últimos anos, transformando o flagelo na Ucrânia em um local fértil para lavagem de dinheiro, superfaturamento de contratos e desvio de dinheiro que não são essencialmente novos quando se trata das relações entre o ocidente e Kiev. A mobilização vultosa desses recursos para o esforço de guerra vem acompanhada por uma narrativa midiática que trata o tema a partir de simplificações e maniqueísmos cujo fito principal busca sustentar as hostilidades "até o último ucraniano" e retroalimentar a máquina de guerra da Otan. Tais fatores ajudam a explicar o prolongamento do conflito.

O debate em torno do caso ucraniano se esvaziou de tal modo que só se fala em mais armas à Ucrânia e mais sanções à Rússia, mesmo que esses mecanismos tenham se provado ineficazes para a solução do conflito. Nessa cruzada belicista para derrotar a Rússia (seja lá o que isto signifique), o ocidente convida o mundo para caminhar a passos largos rumo ao abismo. Se a única linguagem entendida pelas elites ocidentais é a do escalonamento pelo envio de armas cada vez mais sofisticadas à Kiev, não estamos diante de uma visão racional, mas sim diante de um sintoma da falta dela.

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Em um debate irrefletido e intoxicado pela hostilidade e demonização da Rússia, a paz tem sido uma palavra rara no léxico ocidental e ucraniano. Nesse contexto, posições ponderadas e voltadas ao diálogo são tidas como "pró-russas", isso porque as tratativas de paz ou de diálogo com Moscou foram oficialmente proibidas por Kiev e todos os partidos de oposição à Zelensky foram colocados na ilegalidade. O destino para quem ousa pensar de outra forma muitas vezes é o mesmo que o de Denis Kireev, negociador ucraniano executado pelo serviço de inteligência da Ucrânia. Estes são apenas alguns casos que elucidam uma certa duplicidade ocidental no que tange à defesa de valores democráticos tendo na bandeira azul e amarela o seu mais novo arauto. 

Na visita oficial do Chanceler Alemão Olaf Scholz ao Brasil, o Presidente brasileiro apontou seu desacordo com a consecução de tal política em relação ao conflito. A negativa de Brasília em fornecer armas à Ucrânia segue os princípios tradicionais do Itamaraty e mantém a neutralidade do Brasil. Em um mundo cada vez mais desafiador e cercado de clivagens, o pragmatismo deve continuar sendo peça fundamental da diplomacia brasileira no novo mandato de Lula. A manutenção de uma política externa autônoma buscando o protagonismo do Brasil no cenário internacional não pode esbarrar em alinhamentos momentâneos e nas relações hierarquizadas de outrora. 

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O envio de armas à Ucrânia poderia envolver (ainda que indiretamente) o Brasil no conflito, potencializando eventuais reações negativas do Kremlin com impacto direto na nossa produção agrícola. Tal fator possivelmente prejudicaria a imagem de Lula no agronegócio brasileiro, dificultando o apoio desse setor em medidas importantes para o governo. Além disso, estas medidas frustrariam qualquer possibilidade de uma maior coesão nos BRICS, plataforma central para a inserção internacional do Brasil na busca de reformas das instituições de governança global. Um possível alinhamento brasileiro com o ocidente igualmente representaria um recado direto para China em sua relação com Taiwan, repercutindo negativamente nos investimentos chineses no Brasil. O abandono da neutralidade brasileira, em suma, traria efeitos nefastos à nossa economia, cuja contrapartida ocasional do ocidente não seria capaz de suprir. 

A estratégia de Lula para lidar com o conflito ucraniano sugerindo um fórum internacional para tratar do tema parece uma sugestão interessante. É notório que a guerra na Ucrânia não diz respeito à relação entre russos e ucranianos. Antes disso, a conflagração é reflexo direto das interações entre Otan e Rússia, em ordem a que se considere que o ponto central para uma paz duradoura na região deve, obrigatoriamente, passar pela rediscussão da arquitetura de segurança global. O caminho escolhido pelas potências ocidentais parece ser o da inconsequência e não o do diálogo, embora os efeitos dessa política afetem o mundo como um todo. Assim, cabe aos países emergentes tomarem a frente das discussões travadas no contexto da busca de uma solução pacífica do conflito, inclusive pressionando as nações centrais a fim de que estabeleçam um novo concerto de segurança internacional. 

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