Armas ou arroz?

Não há emprego, não há educação, não há saúde. Tais palavras só existem para enfeitar os livros, que aliás na concepção do "governante mor" são desnecessárias, e até podem ser diminuídas, dirimidas dos tais compêndios



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Enclosures, o fechamento dos campos, na Inglaterra do século XVI transformou o relacionamento dos camponeses feudais com os proprietários da terra, ou seja, os últimos se tornaram grandes proprietários, e os primeiros tiveram que se retirar do feudo, se transformando em desvalidos à deriva...

O fechamento dos campos foi um ato de privatização. E o material humano composto de subsistentes plácidos consequentemente foi alçado à condição de mendigo e/ou proletário. Inclusive, com a execução de muitos pela Coroa.

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Hoje, tive a oportunidade de assistir a entrevista que o Brasil 247 realizou com o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores por duas vezes consecutivas, e pressenti sua emoção ao discorrer sobre a questão do desarmamento, da privatização, do alto preço do arroz, do feijão, da carne. Foi aí que me lembrei dos enclosures...

Oitenta por cento da população brasileira está cercada, pressionada por uma política que incita o ódio. Não há emprego, não há educação, não há saúde. Tais palavras só existem para enfeitar os livros, que aliás na concepção do "governante mor" são desnecessárias, e até podem ser diminuídas, dirimidas dos tais compêndios.

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A gasolina mais cara, até parece areia nos olhos, pois o brasileiro possui o fetiche do carro desde o governo Juscelino, que desacelerou a construção de ferrovias, em benefício de um avanço rodoviário desmedido. Homens e mulheres, já nascem com a cultura do carro, como se fosse uma paixão necessária, um verdadeiro símbolo de desigualdade, e não um meio de transporte.

Pierre Bourdieu, o autor francês argumenta que o simples fato de um discurso possuir a sua fixidez na forma de texto impresso faz com que ele sofra alterações e deformações diversas; ainda que, com o passar do tempo, permaneça na exata forma como foi concebido, o texto já mudou. Isso porque sua existência se funda em contatos com o mundo cultural. Se o entorno nunca permanece da forma como está agora, mesmo o texto que permaneceu idêntico a si mesmo já é outro. As alterações surgem ao sabor de novos sentidos. 

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Há um novo sentido no texto do ex-presidente Lula, que ficou transparente: a preocupação com a desigualdade, que hoje é um contexto fantasmagórico, que ganha uma interpretação muito mais dialética; principalmente, quando ele frisa sobre a necessidade que o povo possui de respirar o oxigênio da reivindicação, sobremaneira nas ruas. Ele também ressalta o quanto se sente enjoado das lives, e afirma aguardar ansiosamente pela vacina, para voltar a travar o contato tête-à-tête com o povo. Foi a partir daí que depreendi que a massa esteve e está enclausurada pelas cercanias voluptuosas e alienantes da Quarta Revolução Industrial, com toda a sua sorte de fake news, que transformou juízes e procuradores mercenários em heróis anticorrupção.

#LULA2022

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