Argentina saúda a ciência, de Oxford à Rússia, e fabrica a vacina anti-Covid19 com o México
A fabricação antecipada desta vacina conjunta entre a Argentina e o México, não responde a uma corrida especulativa e de negócios típica da indústria farmacêutica multinacional em giro pelo mundo
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No meio de uma duríssima batalha contra a Pandemia que, não obstante uma acertada política de rápida contenção e atenção sanitária do Estado desde o seu surgimento em março na Argentina, assume proporções preocupantes, o governo saúda as vacinas da Rússia e de Oxford e toma fôlego com a decisão, de acelerar a fabricação da vacina anti-covid19 com o México.
Alberto Fernandez e seu Ministro da Saúde, Ginéz Garcia, acabam de anunciar um acordo com o consórcio da Universidade de Oxford e a empresa Astrazenica, incluindo a transferência da tecnologia da vacina da Covid19 ao país, através da Empresa nacional MAbxience Biotech Argentina (Grupo Insud) para a fabricação de 150 a 250 milhões de vacinas anti-covid19 destinadas a todos os países da América Latina, com exceção do Brasil. Após 1100 provas realizadas e entrando na fase 3 em laboratórios de pesquisa de alguns países (onde se inclui a Anvisa do Brasil), foram escolhidos a Argentina e o México para a fabricação imediata desta vacina, e em grande escala. O princípio ativo de anticorpos monoclonales covid será fabricado pelo Grupo Insud na Argentina e será enviado a granel para o México onde será enfrascado e embalado para distribuição na região latino-americana. A participação mexicana é através da Fundacão Slim, que financia o projeto, sem fins de lucro, junto ao laboratório Liomont. O presidente Lopez Obrador, em conferência de imprensa matinal, saudou a participação bilateral com o governo argentino e anunciou que a vacina será gratuita para o povo mexicano.
Enquanto a vacina na Argentina terá um preço relativamente baixo de 3 a 4 dólares, o dono do Grupo Insud, Hugo Sigman, empresário nacionalista e considerado popular, anunciou a fabricação imediata de 150 milhões e a distribuição de 22,4 milhões para o primeiro semestre de 2021, ou já no final deste ano, dando prioridade ao pessoal médico e da segurança, professores, anciãos e pessoal de risco. Ao mesmo tempo, esclareceu que se as provas finais da mesma (Fase 3), que se estão realizando paralelamente em outros países, falharem, e não forem aprovadas (data prevista para outubro deste ano) todas as doses produzidas serão descartadas. Portanto, tudo indica que a fabricação antecipada desta vacina conjunta entre a Argentina e o México, não responde a uma corrida especulativa e de negócios típica da indústria farmacêutica multinacional em giro pelo mundo, particularmente nos EUA. E se bem certificada, Alberto e Obrador pensam brindá-la como um bem público e como uma primeira reconquista da integração latino-americana.
A antecipação na fabricação desta vacina Oxford-Aztrazenica visa ganhar tempo para evitar maiores hecatombes e mortes, sem excluir certificações científicas. Nada a ver com o procedimento anti-científico da cloroquina de Bolsonaro. A avaliação que se faz é que a escolha pela Argentina como fabricante da vacina, se deve a um reconhecimento internacional diante de um Estado cumpridor. O fato é que a MAbxience Biotech da Insud argentina é altamente conceituada e conta com a participação de cientistas da CONICET (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas). A infame turma do Macri (que está de férias na França) diz que o laboratório onde se fabricará a vacina de Oxford é seu mérito. Não passa de fakenews desmentida por um vídeo de Cristina Kirchner em 2012 saudando a Hugo Sigman pela inauguração do mesmo, como parte da primeira empresa na América Latina para a fabricação de produtos de anticorpos monoclonales. Além disso, os outros dois laboratórios que fabricarão a vacina foram inaugurados em fevereiro de 2020 por Alberto Fernandez e Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires.
E a vacina Sputinik-V onde entra no contexto argentino?
A Argentina assume a urgência de conter a Pandemia ganhando tempo na fabricação da vacina da Oxford, mas deixou as portas abertas para acordos com outros provedores, inclusive com a Rússia, assim que terminar a fase dos testes da Sputinik-V. Aliás, o governador da província da Terra do Fogo já se dispôs frente ao governo russo em fabricar a Sputinik-V através de uma empresa estatal local. Leia.
Ao ser anunciada a descoberta da vacina russa, rechaçada ideologicamente pela campanha da mídia internacional alinhada com os políticos da indústria farmacêutica multinacional e do imperialismo, Alberto Fernández dirigiu uma carta de saudação ao presidente russo, Vladmir Putin: “Recebi seu anúncio de hoje, assim como milhões de argentinos, com um agradecido sentimento de esperança. No meu nome e dos meus compatriotas, rogo-lhe bem transmitir aos homens e mulheres de ciência russos, que trabalharam na vacina contra o coronavirus, que foi hoje registrada, as felicitações por uma conquista que ficará entre as páginas inapagáveis da história da medicina mundial.”
O surgimento da Sputinik V, boicotado na imprensa mundial foi bem explanado por Kirill Dmitriev, o presidente do Fundo Russo de Investimentos Diretos, financiador da pesquisa da vacina, e foi publicado nos blogs progressistas da Argentina e do mundo. Uma boa informação sobre o Centro Nacional de Pesquisa e Epidemiologia Gamaleya e a sua vacina registrada no Ministerio de Saúde russo foi publicada no site do Brasil247. Consta que, à diferença das demais vacinas em prova, a Sputinik-V é baseada em adenovirus humanos e aplicada em duas doses, consideradas pela ciência russa como mais efetivas.
O que nos falta?
Como realizar, no meio da catástrofe mundial da Pandemia, agravada no Brasil pela política econômico-sanitária genocida de Bolsonaro, um debate objetivo baseado na ciência, é uma séria questão inadiável. Como deter esse envenenamento mental, esse ataque ideológico anti-Venezuela, Cuba, Rússia, da mídia hegemônica histérica e sem escrúpulos debatendo-se no colapso do poderio econômico dos EUA capitalista frente à China socialista? É de se tirar o chapéu ao escritor Fernando Morais que antes do infortúnio de desativar o seu blog Nocaute, teve a inteligência e a nobreza política de compartilhar com a TVT os 4 capítulos da entrevista de Oliver Stone ao presidente Putin. A TVT dos trabalhadores, cuja criação foi estimulada por Lula presidente, deu uma chance ao povo brasileiro de conhecer (no meio do fascismo circulante) o verdadeiro rosto do estadista Vladmir Putin, de tradição comunista, sério, justo, sereno, e defensor da paz, mas decidido a lutar com todas as armas pela dignidade do povo russo que soube derrotar o monstro do nazi-fascismo e não renunciar aos ideais de justiça da ex-União Soviética. Isso se evidenciou nas recentes comemorações em Moscou da derrota do nazismo pelo Exército soviético na 2a. guerra mundial. Enfim, é bom retransmitir e repetir a dose destas entrevistas a Putin na TVT: uma vacina contra o ódio para abrir alas à vacina Sputinik-V.
O grande passo dado pelo governo argentino rumo à fabricação antecipada da vacina, como advertido pelo mesmo, dá uma esperança, mas não detém a expansão mortal da Pandemia agora, nem substitui o esforço institucional e social necessário para evitar o contágio, respeitar os isolamentos, cumprir as flexibilizações parciais com extremo cuidado. Portanto, não há que baixar a guarda. Apesar da esperança que traz a fabricação da vacina, o crescente contágio atual e as mortes por Covid-19 na Argentina, arriscando o colapso hospitalar e do pessoal médico-sanitário, a previsão de mortes até o fim do ano é catastrófica. Por isso, o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, advertiu energicamente aos irresponsáveis não solidários, aos da “gripezinha”, aos desestabilizadores que em nome da “liberdade” protestam contra o que chamam de “infectadura” ou “quarentena eterna” (irreal, dado que 75% por cento da atividade produtiva foi retomada). São os dessa minoria macrista e golpista, donos da mídia hegemônica, os que se opõem à reforma judicial e à taxação das grandes fortunas, que se manifestam pela bilionária propriedade privada, desafiando protocolos anti covid-19, e propagando mortes. Macri, o fugitivo em férias na Costa Azul da França é quem os instiga a manifestar-se no Obelisco da capital.
Por isso, vacina sim, mas é preciso a vacina anti-ódio também. A determinação de dinamizar a intervenção do Estado na economia, em medidas de apoio social aos pobres e marginalizados, junto ao reforço à estrutura pública e ao pessoal médico-sanitário, continua sendo o melhor antídoto. Ao mesmo tempo, reforçar a mídia pública e independente, buscar as melhores vias de comunicação e informação verdadeira ao povo, “desanestesiar” a classe média, continua sendo uma vacina anti-ódio imprescindível para neutralizar o vírus do fascismo e salvar vidas.
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