Argentina pede ajuda ao Brasil e a China avança

A Argentina hoje depende do Brasil para aliviar seus próprios desequilíbrios econômicos. Enquanto isso, os chineses aceleram o passo

Lula e Alberto Fernández | Xi Jinping
Lula e Alberto Fernández | Xi Jinping (Foto: Reuters)


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O presidente Lula recebeu seu amigo Alberto Fernández, da Argentina, nesta semana, no Palácio da Alvorada. Fernández e seus ministros detalharam, numa longa reunião, qual é a situação econômica do seu país. A Argentina não tem dólares para pagar as importações que realiza e no ritmo atual de incertezas política e econômica, agravadas por uma seca histórica, poderia não ter divisas para continuar importando. “A reunião foi longa, difícil, e ainda vamos fazer muitas outras reuniões desta”, disse Lula aos jornalistas, na coletiva ao lado de Fernández.

O fato de Lula ter recebido o presidente argentino no Alvorada foi interpretado como gesto de amizade, na visão de diplomatas dos dois países. A cinco meses do primeiro turno da eleição presidencial, em outubro, a meta de Fernández é concluir o mandato em paz. Os dados econômicos não contribuem. Somente a inflação de março foi de 7,7% e, em doze meses, o índice chegou a 104%.

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Acompanhado pelos possíveis presidenciáveis – os ministros da Economia, Sergio Massa, e o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli -, Fernández pediu apoio político ao amigo Lula. Apoio político para que uma negociação que vem sendo realizada há cerca de três meses, entre técnicos dos dois governos, vire logo realidade. A negociação é sobre um mecanismo financeiro que permitiria ao Brasil financiar, em reais, os empresários brasileiros que exportam para a Argentina e a Argentina não teria que raspar o tacho das suas magras reservas do Banco Central. A medida poderia ser respaldada ou ser realizada pelo BNDES, de acordo com fontes dos dois governos, e a Argentina reduziria o prazo atual com o qual as mercadorias brasileiras entram no país. A falta de divisas levou o país a um permanente – e crescente – comércio administrado e seletivo das suas importações.

Do lado brasileiro, a dúvida é sobre que garantias os argentinos dariam de que este financiamento seria honrado. A discussão está na mesa. Uma das alternativas poderia ser o gás que a Argentina deverá passar a exportar para o Brasil a partir do gasoduto que nasce no Complexo energético de Vaca Muerta, na região da Patagônia, no sul do país, e que levará o combustível para o mercado brasileiro, contaram fontes.

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A Argentina tem uma dívida bilionária com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi um empréstimo recorde concedido pelo organismo ao então governo do ex-presidente Macri. Após o encontro, Lula disse à imprensa, na coletiva ao lado de Fernández, que conversaria com o Fundo “para tirar a faca que está colocando no pescoço da Argentina”. O governo Fernández espera que o Fundo antecipe desembolsos para o antes possível. Uma negociação difícil, admitem no Ministério da Economia. Aqui em Buenos Aires, é comum ouvir, entre economistas de diferentes tendências, que o país tem dólares, mas eles só não estão no Banco Central.

Com o histórico de inflações e incertezas do país, aquele que pode continua comprando a moeda americana para tentar “proteger” suas finanças. Mas sem reservas, o governo passou a restringir ainda mais as importações. Faz importações “seletivas”, ressaltam economistas que costumam ser ouvidos pelo governo argentino.     Nos últimos dias, a Argentina e a China acertaram que as importações chinesas feitas pelos argentinos não precisarão passar pela moeda americana. Alívio para a Argentina. Mas uma possibilidade ainda maior de as exportações industriais chinesas continuarem ampliando presença na Argentina, ocupando um lugar que parecia cativo do Brasil.

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A Argentina hoje depende do Brasil para aliviar seus próprios desequilíbrios econômicos. Enquanto isso, os chineses aceleram o passo, observam economistas especializados nesta relação comercial. “Nós achamos que o acordo (Brasil e Argentina) vai sair do papel. O problema é que a Argentina tem pressa”, disseram no governo brasileiro. Segundo estimativas de consultorias econômicas, a partir de dados oficiais, somente no ano passado foram “desviados” para a China cerca de US$ 6 bilhões que antes teriam ido para o comércio brasileiro. Não faz muito tempo, a China passou o Brasil como principal parceiro comercial da Argentina. Uma revista semanal publicou, então, na capa “Argenchina”.

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