Argentina: o dia é hoje
"A expectativa neste domingo é palpável no ar. Todos esperam com ansiedade adolescente não só o resultado das urnas, que começará a ser divulgado lá pelas nove da noite, mas também qual o tom e o conteúdo que Alberto Fernández e Cristina Kirchner darão ao seu discurso de vitória", escreve Eric Nepomuceno, Jornalista pela Democracia, sobre as eleições na Argentina
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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Os argentinos acordaram este domingo sabendo duas coisas. A primeira: é quase impossível Mauricio Macri escapar de uma derrota esmagadora e ir para o segundo turno, para então ser esmagado de vez.
A segunda: amanhã, dia seguinte ao das eleições, o governo moribundo de Macri deverá decretar novas medidas para controlar a venda de dólares. Quais, e com que alcance, ninguém se arrisca a prever.
Como é tradição no país, cada vez que aparece uma crise todo mundo corre para comprar dólares e se proteger. Isso vale tanto para os bilionários como para os trabalhadores que mal e mal ganham para sobreviver. Por isso a firmeza com que o candidato favorito, Alberto Fernández, que tem a ex presidenta Cristina Kirchner como companheira de chapa, garantiu que não tocará nas poupanças em moeda norte-americana. Ainda assim, na sexta-feira houve uma corrida a bancos e casas de câmbio.
No que vai deste outubro turbulento, o Banco Central argentino teve que vender quase três bilhões de dólares para tentar, em vão, conter a desvalorização do já tão desvalorizado peso. Só na sexta-feira foram um bilhão e 750 milhões, dos quais a maior parte foram vendidos a bancos que, por sua vez, revenderam para compradores ávidos. E como ainda faltam quatro agitados dias para o mês acabar, será preciso adotar medidas para estancar a sangria padecida pelas reservas do país.
Na sexta-feira, essas reservas rondavam a casa dos 44 bilhões de dólares. Com isso, a moratória passa pouco a pouco a deixar de ser uma previsão para se tornar algo inevitável.
O resto, todo o resto, é uma incógnita, pelo menos no que se refere ao que pode ou vai acontecer daqui até o dia 10 de dezembro, quando termina o malfadado mandato de Mauricio Macri. Ele tentará adotar alguma medida para debelar a crise descabelada que se abateu sobre o país? Buscará abrir diálogo para uma transição com a equipe de Alberto Fernández? Irá negociar medidas básicas que depois poderão ser aprofundadas pelo futuro governo?
Na sexta anterior a este domingo decisivo soube-se que a equipe econômica de Macri conversou com emissários do mesmo setor da equipe de Alberto Fernández.
Uma das medidas que estaria sendo estudada pelo atual governo seria baixar drasticamente o teto autorizado para compras mensais de dólar, que passaria dos atuais dez mil para cinco ou, em caso extremo, dois mil. Também se estuda a possibilidade de um controle ultra-rigoroso nas casas de câmbio, além de pôr limite às remessas de pessoas físicas a contas no exterior. Outra hipótese que estaria em estudo seria a abrupta decretação de um feriado bancário nesta segunda-feira.
Em suma: alguma medida será tomada. Qual, e até que ponto drástica, só se saberá quando o resultado das urnas tenha sido divulgado e o país desperte numa segunda-feira misteriosa.
O que vai acontecer com os preços de tudo, que não param de subir?
Um anúncio do supermercado Carrefour estampado neste sábado ilustra bem o estado das coisas na Argentina: “Não vamos aumentar os preços dos alimentos por 15 dias. Convidamos as outras empresas a fazer a mesma coisa”.
Ou seja: o preço dos alimentos anda subindo a cada 15 dias.
Uma cadeia concorrente, a Coto, não seguiu o exemplo: preferiu lançar seu próprio pacote.
Sua oferta: “Na compra de um segundo produto alimentar, você tem 80% de desconto”. Traduzindo: se, digamos, um pacote de macarrão custar cem pesos, você leva dois por cento e vinte. Pouco mais da metade do que custariam normalmente.
A expectativa neste domingo é palpável no ar. Todos esperam com ansiedade adolescente não só o resultado das urnas, que começará a ser divulgado lá pelas nove da noite, mas também qual o tom e o conteúdo que Alberto Fernández e Cristina Kirchner darão ao seu discurso de vitória.
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