Argentina: as primeiras medidas depois da derrota de Macri

"Desde agosto, quando Macri perdeu feio nas prévias obrigatórias, seu governo dilapidou nada menos que estrondosos vinte e dois bilhões e oitocentos milhões de dólares", diz Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia, sobre as medidas adotadas pela Argentina para estancar o agravamento da crise econômica

Presidente da Argentina, Mauricio Macri
Presidente da Argentina, Mauricio Macri (Foto: REUTERS/Agustin Marcarian)


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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia - Por volta das dez e meia da noite de domingo, 27 de outubro, foi confirmada a vitória irremediável da dupla Alberto Fernández-Cristina Kirchner sobre Mauricio Macri.

E se é verdade que a diferença de votos (oito pontos) entre vencedor e derrotado foi menor que a esperada (uns doze, pelo menos), mais inesperada ainda foi a medida anunciada pelo Banco Central por volta da meia-noite. Estava mais que previsto que o teto permitido para compra de dólares iria cair de dez mil para cinco ou, na pior das hipóteses, dois mil dólares por mês. 

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Pois bem: a partir desta segunda-feira, e até o final de dezembro, o novo teto é de duzentos dólares para depósitos bancários na moeda norte-americana, e de cem dólares em espécie. Por mês.

A razão da medida é de uma claridade cristalina: só na semana passada o Banco Central vendeu pouco menos de quatro bilhões de dólares de suas reservas, para impedir que o câmbio explodisse. 

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Desde agosto, quando Macri perdeu feio nas prévias obrigatórias, seu governo dilapidou nada menos que estrondosos vinte e dois bilhões e oitocentos milhões de dólares. 

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Foi o mecanismo encontrado para evitar que o câmbio (que, aliás, passou de 40 para 65 pesos por dólar entre as prévias e a sexta passada) explodisse de vez, com consequências ainda mais funestas sobre a inflação (que deve fechar o ano rondando a casa dos 55 por cento). 

Na abertura do câmbio nesta segunda-feira não houve oscilação alguma em relação à sexta passada: 60 pesos por dólar na compra, 65 na venda. Já no câmbio negro, uma explosão: cada dólar era vendido por 78.

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Constatada que a diferença entre Fernández e Macri, apesar de sonora, era inferior à prevista, o atual presidente fez um discurso reconhecendo a derrota e assegurando que buscaria uma transição pacifica pensando no país e no bem de todos. E aproveitou para alfinetar que a oposição que seu grupo fará a partir do dia dez de dezembro será firme.

Se no Senado o bloco maioritário será formado por seguidores do novo presidente, na Câmara de Deputados o governo será minoria. Por pouco, mas minoria. E é nesse ponto que Fernández poderá encontrar resistência. O que não se sabe é qual será a força dessa resistência.

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A tempo: a reação descabelada de Jair Bolsonaro à vitória da dupla Alberto Fernández-Cristina Kirchner superou o esperado. A grosseria de assegurar que não cumprimentará o novo presidente eleito foi ridicularizada até nos meios macristas. O mínimo que se espera é uma tensão elevada nas relações entre os dois países, o que seria péssimo para a nossa economia.

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Como se recorda, a tremenda crise que abala a Argentina já tem mostrado efeitos contundentes na economia brasileira. Neste tumultuado 2019, por exemplo, o PIB do Brasil perderá meio ponto graças à queda abrupta nas exportações para a Argentina. 

De repente me veio à memória uma estupidez – outra – disparada por uma aberração chamada Paulo Guedes. 

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Há algum tempo, ele lançou a pergunta mais que prepotente: “Desde quando a economia brasileira depende da Argentina?”. 

Desde sempre, como sabemos todos. 

Quer dizer: todos, não. Os idiotas sem remédio não sabiam... 

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