ARBEIT MATCH FRIE (Frase encontrada no pórtico do campo de concentração de Auschwitz)

Deve, sim, haver uma razão uma razão na morte e nos caos, na destruição da vida de milhares de pessoas. Mas essa forma de razão deve ser denunciada e combatida por quem ama a vida, as pessoas e o direito que elas têm



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Foi o filósofo alemão Walter Benjamin o primeiro a declarar que a sociedade moderna (iluminista) – apesar de sua aparência de novidade histórica – era o retorno do arcaico e do primitivo. Inspirado na poética de Charles Baudelaire e na filosofia do revolucionário Frances August Blanqui (a eternidade pelos astros), referiu ele à temporalidade do capitalismo como “a temporalidade do inferno” ou do tempo “do sempre-igual”, empregando para isto a teoria marxiana do “fetichismo da mercadoria”. A leitura benjaminiana da modernidade parisiense do século XIX é uma alegoria que se refere às sociedades em crise. Daí ter ele relacionado a crise do capitalismo no século XIX à emergência do nazismo no século XX, que apesar de sua aparência de pardieiro político, muito contribuiu para a conclusão do capitalismo monopolista na Alemanha de Hitler. 

Como lembrou meu colega Fábio Bezerra, “a modernidade de que fala o filósofo alemão é (contudo) anterior: ela tem início com a colonização, com a descoberta, com a invasão e o saque. A razão violenta, a negação da humanidade no debate de Ginés de Sepúlveda e Bartolomé de Las Casas sobre o índio e depois sobre o negro escravizado. No trabalho forçado nas minas de ouro e prata no Peru, mas também nas plantações de cana de açúcar e café no Brasil. Essa lógica, da razão violenta da modernidade, da qual fala Walter Benjamin, se aperfeiçoa na forma dos campos de concentração, no trabalho forçado para os índios e negros de antes e para os judeus, homossexuais , na época do nazifascismo dos tempos recentes...A razão violenta de sempre da modernidade ocidental aqui ganha ares de selvageria e barbárie. Não é a toa que o presidente e seu vice – ainda durante a campanha- , referiam-se aos negros e indígenas como preguiçosos e indolentes”.

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Agora, voltando ao Brasil esse “retorno do reprimido” (do arcaico, bárbaro e primitivo como política social de estado) aparece se afirmar plenamente neste governo em frangalhos que aí está. Nunca, como numa luva, coube a tese da simbiose medonha entre o antigo e o moderno, dentro da temporalidade do inferno, como agora. Estamos vivendo uma espécie de “eterno retorno” do mito, da irracionalidade, da política de destruição da sociedade, ou pelo menos de parte dela. Pode-se argumentar que o tosco e macabro presidente não tem nada de bobo ou desarticulado, que sabe bem o que faz. Que há uma lógica bem calculada (econômica e política) em seu trabalho de sapa das instituições políticas e judiciárias. No entanto, é sempre bom lembrar que a racionalidade burocrática e econômica do nazismo se expressou através do genocídio contra os judeus, comunistas, ciganos e homossexuais.

Deve, sim, haver uma razão uma razão na morte e nos caos, na destruição da vida de milhares de pessoas. Mas essa forma de razão deve ser denunciada e combatida por quem ama a vida, as pessoas e o direito que elas têm. Não podemos usar a teoria como meio de justificação da loucura homicida. Compreender não é justificar nem perdoar. É uma forma de combater e resistir.

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PS. A frase-título desse artigo significa: “o trabalho pode libertar”. E foi vista numa postagem da secretaria de comunicação do governo, chefiada por um judeu.

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