Aranha me representa
Aranha tem um grau de politização e articulação de ideias muito raro no futebol brasileiro. Desde que foi ofendido por manifestações racistas pela torcida do Grêmio, tem dado uma aula de lucidez e cidadania à sociedade brasileira
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Algumas coisas têm me chamado a atenção, a partir desse episódio que envolveu a torcida do Grêmio e o goleiro Aranha, do Santos.
A primeira e mais importante delas: Aranha tem um grau de politização e articulação de ideias muito raro no futebol brasileiro. Desde que foi ofendido por manifestações racistas pela torcida do Grêmio, tem dado uma aula de lucidez e cidadania à sociedade brasileira, no todo, e aos jornalistas, no detalhe.
Nessa entrevista, ele foi achacado por quatro microfones da TV Globo e submetido à essa indigência quase natural ao jornalismo esportivo da emissora, que é incapaz de fazer uma avaliação minimamente crítica do papel que tem.
Um casal de repórteres perguntar, nessa altura do campeonato, que diferença tiveram as vaias de então, nos leva a duas circunstâncias: ou a dupla é burra, ou sofre de grave deficiência de caráter.
Outra coisa que está cada vez mais clara é o viés culturalmente racista da torcida do Grêmio. Claro, há gremistas horrorizados com o comportamento de seus pares em Porto Alegre, mas parecem ser uma minoria cada vez mais condenada ao silêncio.
O técnico do time, Luiz Felipe Scolari, é talvez o principal emblema desse engessamento moral do Grêmio em relação ao caso.
Essa semana, Felipão pediu ao assessor de imprensa do time para perguntar aos jornalistas se ele iriam "cair na esparrela" de Aranha, novamente. Referia-se à insistência do goleiro santista em não se submeter à vontade da mídia, sobretudo a gaúcha, de deixar o assunto morrer.
Aranha, além de tudo, recusou-se a se encontrar com torcedora Patrícia Moreira da Silva, flagrada pelas câmeras no momento em que o chamava de "macaco". Patrícia aposta, agora, na própria vitimização e na cultura do deixa-disso que tanto agrada o jornalismo brasileiro, principalmente quando se trata de uma moça branquinha disposta a se entregar a atos de contrição cristã.
Aranha, seguro de si e de seus direitos, disse que perdoa a moça, mas ela que se entenda com a Justiça.
Ainda assim, a torcida do Grêmio preferiu se apegar à deixa de Felipão e foi ao estádio vaiar Aranha.
A tal vaia que os repórteres da Globo não conseguiram decifrar.
Mas a maioria do povo brasileiro entendeu, muito bem, o que significaram essas novas vaias: de que o racismo continua vivo e bem nutrido lá pro lado dos Pampas.
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