Apoio exclusivo a Freixo pode isolar o PT no gueto das pautas identitárias e abrir caminho para Ciro se firmar como terceira via

"Turbinado por Paes, Ciro poderia romper os limites de sua restrita força política, se impondo no Brasil como o tercius da peleja", escreve Ricardo Bruno

Ciro Gomes
Ciro Gomes (Foto: Reprodução)


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Mais do que delimitar campos de aliança no Rio, a decisão do PT de apoiar a candidatura de Marcelo Freixo (PSB) pode consubstanciar um erro estratégico, com preocupantes consequências nas eleições presidenciais. O resultado imediato da deliberação petista foi o movimento de Eduardo Paes em direção a Ciro Gomes, que, confirmado o apoio, passaria a ser competitivo no Rio, se firmando, finalmente, como terceira via.

Turbinado por Paes, Ciro poderia romper os limites de sua restrita força política, se impondo no Brasil como o tercius da peleja, a partir da musculatura eleitoral adquirida em terra fluminense. A pesquisa Ipespe mostra Ciro ainda no jogo, rigorosamente empatado com Moro, em 8% das preferências. O apoio de Paes pode ser suficiente para lhe garantir cerca de dois ou três pontos percentuais a mais necessários a sua consagração como candidato competitivo. Sem perspectiva de crescimento até aqui, espremido à esquerda por Lula e à direita por Bolsonaro, Ciro pode finalmente ganhar um palanque robusto, a partir do qual terá certamente projeção nacional.

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As especulações de que Eduardo Paes caminha em direção a aliança com PDT trouxeram apreensão na direção nacional do PT, que não contava com o movimento. Pelos vínculos do passado (Paes fora prefeito à época em que Lula era presidente) e pela atual relação harmoniosa com o líder petista, Paes estava sempre nas contas e  projeções do partido como um potencial aliado no Rio.

Há, de fato, muitas afinidades entre ele e Lula. A troca afagos e elogios mútuos nos últimos meses gerou um clima de quase namoro, um romance  com inevitáveis consequências eleitorais.  Contudo, ao assistir Gleisi Hoffmann declarar unilateralmente apoio a Freixo, o prefeito se sentiu liberado para buscar caminho próprio, afastando-se do projeto petista. Em uma questão nitidamente local, Paes jamais caminharia a reboque de uma decisão do PT nacional. Se o objetivo era tê-lo de fato próximo a Lula, as decisões sobre alianças no estado  deveriam ter sido tomadas com diálogo e troca de posições. E não se deu desta forma o apoio a Marcelo Freixo. Paes soube pelos jornais e pelos jornais respondeu anunciando um encontro com Ciro Gomes.

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Aprovada por Lula, a aliança com o candidato do PSB ampara-se na tese defendida pela presidente do PT de que esta seria uma exigência inegociável dos socialistas para a construção da federação. O Rio não poderia ser mais um óbice na negociação, já dificultada em razão de questões eleitorais de São Paulo, do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul. Em nome da conciliação, os petistas fluminenses aquiesceram diante dos argumentos de Gleisi.

Nesta quarta-feira, entretanto, durante reunião virtual para discutir a federação, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, deixou escapar uma frase que trouxe surpresa e inquietação entre os negociadores. Exausto diante das dificuldades de conseguir convergências com o PT, afirmou textualmente: “Vocês só admitem nos apoiar no Rio, onde o candidato nem tem história com a gente; entrou ontem”.

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O entendimento de quem acompanhou a reunião é de que o Rio não seria exatamente uma exigência do PSB. O tom evasivo das referências à candidatura do deputado pessebista foi interpretado como um nítido sinal de que este apoio  seria uma questão secundária na negociação. Neste caso, a versão de Gleisi de que a aliança com  Freixo seria pré-condição ao avanço das negociações não teria fundamento.

Há outras inquietações no PT fluminense diante da perspectiva de apoio exclusivamente a Freixo. O partido teme a possibilidade de ficar aprisionado ao gueto das pautas identitárias, tradicionalmente defendidas com firmeza pelo candidato. Esta associação com temas laterais da campanha, que deve ser desenvolvida com foco na pacificação política do país e na recuperação da economia nacional, pode gerar incômodos desnecessários no curso dos debates.

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Em sua maioria, o PT fluminense desejava definir suas alianças em movimento sincronizado com Eduardo Paes, dado o reconhecimento do peso eleitoral do prefeito no estado. A ideia predominante, vencida por decisão influenciada por Gleisi Hoffmann, seria a construção de palanques múltiplos para Lula no Rio – com Freixo, Felipe Santa Cruz e Rodrigo Neves.

Inesperados, os movimentos de Eduardo Paes podem ainda produzir reviravoltas na estratégia eleitoral do partido no Rio. O jogo ainda está sendo jogado.

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