Apaziguar o jogo político para consolidar conquista social e evitar golpes
O bolsonarismo saiu, praticamente, intacto, derrotado para a disputa do executivo, mas vencedor, de forma acachapante no plano parlamentar
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O clima político voltou a esquentar entre Lula e os quartéis, no rescaldo da derrota dos fascistas em 2022 ainda não totalmente digerida, como mostra reportagem da Veja evidenciando trocas de telefonemas entre militares golpistas inconformados com derrota eleitoral de Bolsonaro que afastou-os democraticamente do poder; por isso, preocupado e sensível em captar tempestades, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, sábio da geopolítica, negociador brasileiro fundamental, como secretário geral do Itamaraty, ao lado do chanceler Celso Amorim, da política externa altiva e ativa do presidente Lula, em 2010, alerta que a principal tarefa imediata do chefe do governo é apaziguar o país. Só com o apaziguamento, diz, será possível tocar os projetos sociais para, em primeiríssimo lugar, matar a fome de mais de 30 milhões de pessoas, fora do mercado de consumo e de trabalho; feito isso, viria a etapa essencial da industrialização.
O resultado eleitoral de 2022, segundo ele, deixou sequelas, pois não expressou vitória significativa da Frente Ampla lulista de modo a remover a direita fascista bolsonarista, cuja função é massacrar a classe trabalhadora.
Pelo contrário, diz, em entrevista, na TV Comunitária, ao repórter Beto Almeida, o placar ficou meio a meio, ou seja, sem vencedores contundentes.
A influência de Lula sobre as massas trabalhadores se revelou incontestável, mas o bolsonarismo saiu, praticamente, intacto, derrotado, sim, para a disputa do executivo, mas vencedor, de forma acachapante no plano parlamentar, com sua proposta neoliberal, sem falar da influência que dispõe nos meios militares.
A defesa de golpe pelo coronel Jean Lawand Junior, junto ao seu colega de patente Mauro Cid, ex-assessor de Bolsonaro, contra Lula, que incendeia os quartéis, evidencia tensões ainda não superadas.
Em termos republicanos, o legislativo é o poder emergente, sem o qual o executivo, também, vencedor, em termos relativos, não garante governabilidade.
Não há como o presidente puxar a corda para o seu lado, na tentativa de forçar a barra, achando que levará vantagem definitiva.
Mas, também, o legislativo, diante das novas expectativas de retomada das atividades produtivas, ancoradas na estratégia política e econômica lulista de priorizar o social frente ao econômico, não pode se arvorar em dono da República.
Contrariaria a vontade popular por intermédio de decisões que seguram as forças produtivas, para atender as demandas do mercado financeiro, como vem fazendo, correndo risco de desgaste político inevitável.
O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), representante do capital financeiro e das grandes indústrias, força a situação a seu favor para dominar o ministério Lula, rompendo com a tradição presidencialista.
Delírio ou prepotência?
Sua disposição de tomar conta do Ministério da Saúde, enquanto já faz o mesmo em relação ao Ministério do Turismo, indica posição favorável às multinacionais farmacêuticas, cuja prioridade é o lucro e não a saúde pública, em primeiro lugar.
A maioria oposicionista na Câmara vai associar-se ao interesse público ou ao interesse privado, que objetiva fragilizar o SUS?
A oposição neoliberal majoritária estará inteiramente unida nesse quesito ou pode ser trincada em suas bases, se contrariar o interesse popular, soberano, mantido seu apoio tanto às multinacionais e ao mercado financeiro, que cerra fileira ao lado do BC Independente, defensor da agiotagem jurista praticada pelo economista bolsonarista Campos Neto?
CONTRADIÇÃO EM CENA
LIRA X PACHECO
Não é à toa que emergem forças contrárias à hegemonia aparente de Lira defensor do neoliberalismo fiscal que se apoia no juro alto do BC Independente, rendido ao mercado financeiro especulativo anti-nacionalista, anti-desenvolvimentista, antiindustrialização, anti-Lula.
O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no jogo de poder republicano, não fecha, inteiramente, com a orientação de Arthur Lira, obrigado que está, institucionalmente, a defender interesses dos estados e municípios, amplamente, afetados pelos juros altos praticados pela política monetária restritiva do BC Independente apoiada por Lira.
Germina, desse modo, choque entre Lira e Pacheco, envolvendo o destino de Campos Neto, que poderia ser demitido pelo Senado, se governadores e prefeitos defenderem mudança na orientação monetarista do BC.
A tendência de Lula a apoiar eventual posição do Senado anti-Campos Neto, para alinhar-se aos governadores, indo à demissão do titular do BC, cria contradição no Legislativo, cuja superação polarizaria Rodrigo x Lira, de modo a extirpar tumor político econômico institucional.
Campos Neto, se não iniciar, já, redução das taxas de juros, no cenário de disputa em ascensão entre Lira e Pacheco, pode virar alvo do Senado, sobre pressão dos executivos estaduais, incertos quanto ao destino da reforma tributária, se os juros não caírem para permitir retomada da economia e aumento da arrecadação sem a qual não governariam; por isso, o senador do Amapá, Randolfe Rodrigues, sem partido, líder de Lula na Câmara Alta, já pede a cabeça do titular do BC.
O apelo ao apaziguamento do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, portanto, bate fundo no cabo de guerra entre Executivo e Legislativo, quando não interessa ao legislativo a recessão econômica que emergiria em decorrência da sustentação do juro alto pelo BC Independente, totalmente, contrário ao interesse público.
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