Apartheid Social – uma realidade brasileira
"É necessário que o cidadão pare de olhar somente para o seu umbigo e passe a olhar para todo o ecossistema social ao qual pertence", defende Cláudio Furtado
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Po rCláudio Furtado
E quem teria a coragem de negar que é um Apartheid a forma como nossa sociedade vive? Sim, vivemos em um sistema de castas, o qual é a maneira pela qual os ricos fazem uma segregação genética das raças através do poder aquisitivo dos cidadãos. Esta é uma estratégia do racismo estrutural implementada ao longo dos séculos no Brasil para oprimir a classe trabalhadora.
Separação das pessoas por seu poder aquisitivo. Classes A, B ou C, ou se preferir, baixa, média, alta. E não podemos esquecer daqueles que em nenhum destes grupos estão, os quais seriam os “dálites” de nossa sociedade, ou como disse Gabriel O Pensador (na canção): “O resto do mundo”; aqueles que nem olhamos nos olhos quando falam conosco nas ruas. O que é isso senão uma segregação? E adivinha quem são os mais pobres? Negros, índios e todos aqueles que foram e que são explorados, discriminados e oprimidos desde a colonização do país.
Notem bem, os territórios já estão divididos pelo poder financeiro. Os mais abastados em condomínios de luxo. Os mais pobres nas favelas e nas periferias das cidades. Já dá para notar que a questão da renda familiar é uma estratégia usada para manter a mesma lógica dos Senhores de Engenho, os quais viviam na confortável Casa Grande e seus Escravos nas torturantes Senzalas. As favelas e as periferias das cidades são as senzalas da atualidade.
Com certeza todos já vimos e ouvimos, às vezes mais perto do que imaginávamos, invasões em favelas pelas polícias com o propósito de combater o tráfico de drogas. E nas “raves”, um local onde todos sabemos que existe venda e consumo de drogas, alguém já viu alguma operação policial? Alguma chacina? Onde é o local onde existe a classe mais pobre, na rave ou na favela? Onde existem mais negros, na rave ou na favela? Está extremamente claro como nosso sistema de castas financeiras é extremamente racista.
Note que a criminalização dos trabalhadores já vem sendo feita a vários anos. Os reais construtores do país vem sofrendo ataques e mais ataques ao logo dos anos por várias autoridades públicas. Podemos lembrar a cena deplorável promovida pelo ex-presidente FHC ao chamar os aposentados de vagabundos. Estes que dedicaram suas vidas a gerar riquezas para o Brasil, quando tem seu descanso merecido, são tratados desta forma. E a bem pouco tempo atrás tivemos o desprazer de assistir o ex-Ministro da Economia - Paulo Guedes - falar que iria colocar uma granada no bolso dos funcionários públicos. Estas são formas de atacar os trabalhadores e de ratificar a intensão de destruir todo o estado em busca do sonhado estado mínimo pregado pelos neoliberais. Só que o estado já é mínimo desde sempre para os favelados, periféricos e para os trabalhadores assalariados de uma forma geral. E ao contrário, para os donos dos meios de produção, o estado sempre é máximo. Estes sempre recebem subsídios do governo, isenções ficais e leis que os favorecem. A consequência desta economia segregacionista é o aumento exponencial da favelização dos trabalhadores.
Uma forma de manipular ideologicamente a sociedade é tratar exceções como regra. Vemos muito isto ocorrer nos filmes Hollywoodianos. Podemos ver esta técnica ser usada, por exemplo, nos filmes “Mãos Talentosas: A História de Ben Carson” e “À Procura da Felicidade”. A mesma história de sempre. O homem negro, pobre que venceu na vida superando todas as dificuldades. São estas tentativas vis que tentam justificar a falácia da Meritocracia, a qual é uma filosofia neoliberal que te aponta o dedo na cara dizendo que você não “venceu na vida” porque não se esforçou o suficiente. Como se neste país não contasse para se ter sucesso profissional a família onde você nasceu, a classe social onde você cresceu, a cor da sua pele, onde você estudou, o seu gênero, a sua opção sexual, onde você morou e a quais oportunidades você teve acesso para se desenvolver. É como se todos partissem do mesmo ponto para disputar a corrida pelo sucesso financeiro. É como se vivêssemos em um país igualitário, onde todos têm acesso as mesmas oportunidades, a mesma qualidade de vida e onde não existe nenhum tipo de preconceito. Ilusão descarada vendida para os incautos, pois sabemos que não é assim que as coisas funcionam. E a proposito, os dois filmes citados foram feitos no país que tem a maior população carcerária do planeta, a qual é composta em sua imensa maioria por negros. É essa mentira que nos tentam vender os donos da grana do mundo.
Para combater toda essa falácia é preciso que os movimentos sociais voltem a se aproximar do povo. Os espaços têm que ser reocupados pelos que lutam pelo bem-estar dos trabalhadores. É preciso conscientizar os trabalhadores sobre a importância dos projetos de inclusão social para combater toda a desigualdade que está massacrando o povo brasileiro. É necessário que os beneficiados pelos projetos de inclusão social tenham consciência que o estado está dando oportunidade para seu desenvolvimento através destes projetos, pois caso contrário a egoísmo vendido pela propaganda capitalista prepondera. A falácia da Meritocracia vende o “peixe podre” de que o sucesso profissional do indivíduo depende somente dele próprio. O indivíduo tem que se esforçar, mas não há esforço suficiente que o faça vencer as barreiras sociais construídas pelo Capitalismo. Por isso os projetos de inclusão social são de extrema necessidade, pois eles nos ajudam a transpassar estas barreiras. A conscientização da necessidade destes projetos tem que ser dada a toda a sociedade, pois todos os problemas sociais que enfrentamos são causados justamente pela desigualdade. O desenvolvimento nacional depende da solução deste grave problema, a desigualdade, a qual é fruto do egoísmo que impera no Neoliberalismo. É necessário que o cidadão pare de olhar somente para o seu umbigo e passe a olhar para todo o ecossistema social ao qual pertence. Ecossistema este que é essencial para o seu almejado sucesso pessoal, pois sem o todo não há a possibilidade de existir o ser. Sem o desenvolvimento de todos os cidadãos não será possível o seu pleno bem-estar social. A desigualdade é responsável por toda a desgraça humana que vemos acontecer diante de nossos olhos. A aniquilação do egoísmo é imprescindível para combater esse mal, o qual é o mal de todos os séculos, a desigualdade.
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