Aos vencedores, as batatas!

Independentemente das novas caras - e graus de parentesco com o chefe ou a sua família - é possível dizer que nós temos em Pernambuco uma nova oligarquia política que vai para terceira gestão

Independentemente das novas caras - e graus de parentesco com o chefe ou a sua família - é possível dizer que nós temos em Pernambuco uma nova oligarquia política que vai para terceira gestão
Independentemente das novas caras - e graus de parentesco com o chefe ou a sua família - é possível dizer que nós temos em Pernambuco uma nova oligarquia política que vai para terceira gestão (Foto: Michel Zaidan)


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Segundo Rosa Luxemburgo, o maior erro que um estudioso dos fatos sociais pode cometer é "transformar a necessidade em virtude". Os fatos ocorridos querem do historiador uma análise ou explicação, não uma racionalização indulgente pelo estudioso do presente. Ontem, em debate na TV Universitária sobre os resultados da última eleição, senti como é verdadeira a frase da revolucionária polonesa, assassinada a mando do Partido da Social-Democracia. Os chamados cientistas políticos não podem se limitar a justificar - a posteriori - os eventos eleitorais, sob pena de engrossarem a fila dos que tomam carona na carruagem dos vencedores de ocasião. Não é este o papel que se espera dos especialistas em eleições, comportamento eleitoral, pesquisas de intenção de voto etc.

O primeiro ponto a destacar é que o vencedor nem sempre está com a razão. Há mjitas formas de vencer e não convencer. E há muitos meios (não necessariamente republicanos) de se chegar a uma vitória, num pleito eleitoral. O sucesso não é o critério de verdade das ações humanas. Pode ser, sim, a chave explicativa da história dos vencedores, a qualquer custo, por qualquer meio. Há muita vitória de "Pirro", que se esvanece muito rapidamente, como uma mentira de pernas curta. Não vai muito longe. Valeria lembrar a frase de um atual vereador do PSDB, dublê de cientista político: "política e eleição, nada a ver".

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É o que estamos vendo nesse final do primeiro turno das eleições em Pernambuco. O velho, muito velho, com cara de novo, muito novo. Respondendo ao sociógo José Arlindo Soares, no debate da Radio Jornal, que apesar de o ex-governador ter promovido o concurso de várias caras novas no governo municipal e estadual, isso não tira ou apaga o caráter oligárquico, quase familiar do método de escolha dos "eleitos" pelo sufrágio popular. Há um inegável sabor continuinista nessa política estadual. Se o procedimento legitima as escolhas, como diz o pensador alemão, então essas escolhas eleitorais estão deslegitimizadas, apesar da vitória eleitoral. É uma questão de método, não de nomes, caras e números.

Independentemente das novas caras - e graus de parentesco com o chefe ou a sua família - é possível dizer que nós temos em Pernambuco uma nova oligarquia política que vai para terceira gestão. Nenhuma oligarquia é preferível a outra. Toda ela é nociva ao interesse público. Existe o risco real de que seus membros confundam facilmente o erário público com o erário de seu grupo, e queiram fazer dele o que bem quiser. Essa campanha mostrou os riscos que corre a chamada vontade política do eleitor (e sua real expressão) quando não se fiscaliza com rigor o financiamento privado das campanhas eleitorais. O abuso (e ponha abuso nisso) do poder econômica vicia, desvirtua, falseia o resultado das eleições, fazendo da vitória do vencedor uma fato consumado e festejado pela mídia e os correligionários do candidato.

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A não se fiscalizar e apurar indícios de irregularidade no financiamento dos candidatos, é melhor se institucionalizar a "bandalheira" e não fazer o jogo da hipocrisia, conforme a imagem dos três macaquinhos: "não vi, não ouvi, e não falei". Seria mais honesto e mais pedagógico para o eleitor que ainda acredita na lei e nos rigores da Justiça.

Não podemos continuar a crêr que a morte - como a vitória - redime todos os pecados cometidos pelos nossos políticos. Mesmo aqueles que já foram gestores, são puxadores de voto ou membros de família ilustre. Todos estão submetidos ao rigor da lei. Ninguém possui imunidade ou passaporte para inimputabilidade eleitoral.

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É preciso dizer que este resultado foi precedido cuidadosamente por uma medida cirúrgica a quebra e a divisão do Partido dos Trabalhadores. Era necessário à estratégia governista eliminar, com a antecedência de 2 anos, um possível competidor que viesse ameaçar essa hegemonia política da família Campos. Isso foi feito com perfeição cirúrgica pelo menino de ouro que coordenou a campanha de Marina Silva. A derrota eleitoral do PT em Pernambuco nessas eleições é fruto dessa estratégia deliberadada de retirar o aliado de cena. A aliança com o PTB de Armando Monteiro - por interferência do comando nacional do petismo - só contribuiu para o estrago.

E a oposição ao governo estadual, alguém ouviu falar dela? Onde se encontra? - no palanque (e apoiada nas benesses eleitorais) do ex-governador. Então, "tá". De manhã (na câmara municipal) é oposição. De tarde (na Assembléia Legislativa) é situação! Essa é a verdadeira dialética da malandragem política. Valeu ter vendido a honra ao diabo? Quem vai acreditar em tal oposição de polichinelo? - Só os idiotas e seus cientistas sociais, no exercício de racionalizarem os seus próprios empregos junto a tais políticos.

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Pernambuco (ou uma parte dele) pelo visto será o berço, a fonte prístina da oposição a Dilma. A oligarquia pesebista deve recomendar o voto na candidatura do amigo e parceiro Aécio Neves, contra a reeleição da presidenta. Afinal, a Dilma perdeu para Marina Silva no nosso estado. Não se surpreenda se, no caso de vitória da Presidenta, o governo estadual vá acusar a nosso dirigente petista de querer retalhar o povo pernambucano. É que ele pensa que todo mundo é como FHC, que deixou morrer a míngua o velho Arraes, quando era governador de Pernambuco!

E para terminar, uma notícia boa: foi eleito pela primeira vez no nosso estado um deputado do PSOL para Assembleia Legislativa: teremos, então, uma oposição de verdade!

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