Ao perseguir Tacla Duran e blindar Moro, desembargador Malucelli é comparado a integrante de "gangue"
Criminalista Cezar Bitencourt diz que métodos de Moro e aliados são típicos de organização criminosa. "Querem esconder a corrupção dentro de casa", afirma
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O desembargador que revalidou mandado de prisão contra o advogado Rodrigo Tacla Durán é um lavajatista com ligações diretas com Sergio Moro. Seu filho, João Eduardo Barreto Malucelli, é advogado na Justiça Eleitoral tanto de Moro quanto da esposa do ex-juiz, Rosângela.
Segundo o jornalista Lauro Jardim, ele é sócio do casal Moro em escritório de advocacia. Antes mesmo que o fato fosse revelado, o advogado criminalista Cezar Bitencourt, que foi perseguido por Moro, comparou a decisão de Marcelo Malucelli à ação de um integrante de gangue. Leia ao final da reportagem.
O filho do desembargador Marcelo Malucelli passou a tocar a banca depois que o casal assumiu mandatos legislativos no Congresso Nacional. E não só isso. João Eduardo Malucelli é namorado de Júlia, a filha mais velha de Rosângela e Sergio Moro.
O conflito de interesses para o desembargador Marcelo Malucelli, da 8a. Turma do Tribunal Federal da 4a. Região, atuar no caso é gritante. A relação de Malucelli com os interesses da Lava Jato já tinha vindo à tona com as mensagens periciadas na Operação Spoofing.
Deltan Dallagnol, quando articulava substituto de confiança para o lugar de Moro, enviou mensagens a outros procuradores em um dos grupos denominados "Filhos de Januário" que compromete o desembargador, então diretor do Fórum da Justiça Federal em Curitiba.
Nas mensagens, Deltan relata que Malucelli participava das articulações e procurava criar estrutura para assegurar que Luiz Antônio Bonat se candidatasse à vaga de Moro. No final do ano passado, Jair Bolsonaro nomeou tanto Malucelli quanto Bonat para o TRF-4.
Malucelli assumiu o lugar de João Pedro Gebran Neto na relatoria dos casos da Lava Jato na 8a. Turma do TRF-4. Gebran, amigo declarado de Moro, havia pedido transferência para outra turma.
Na 8a., também atua Loraci Flores de Lima, irmão do delegado da PF Luciano Flores, aquele que fez a condução coercitiva de Lula em 2016 e depois foi superintendente da da PF em Curitiba quando Lula se encontrava preso.
Outro integrante da 8a. turma é Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, que era presidente do TRF-4 quando o processo com a condenação de Lula deu entrada lá e, mesmo sem ler as milhares de páginas da ação, disse que a sentença de Moro era "irrepreensível".
Tacla Durán comprou passagem para chegar ao Brasil nesta sexta-feira, mas depois da decisão de Malucelli circulou a informação de que ele havia cancelado a viagem. Tacla Durán não confirmou essa informação.
Na relação de mandados de prisão registrados no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não existe nenhum registro de "prisão ou de internação pendentes" contra Tacla Durán. Ele marcou a ida para a 13a. Vara Federal de Curitiba e também depoimento na Polícia Federal em Curitiba.
Sua intenção é entregar provas da extorsão que teria sofrido. Tacla Durán tem prints de tela, documento de transferência bancária e áudio que comprometem diretamente Sergio Moro, Deltan Dallagnol e os advogados Carlos Zucolotto Júnior e Marlus Arns, que tiveram parceria profissional com Rosângela.
Os advogado Cézar Bitencourt, que já atuou no TRF-4 e foi perseguido diretamente por Moro, comentou a revalidação do mandado de prisão contra Tacla Durán pelo desembargador Marcelo Malucelli, e comparou os aliados de Moro na Justiça a uma "gangue".
Segue trecho da entrevista que deu a Luís Nassif, do canal GGN:
É brincadeira, parece piada. Aliás, parece uma gangue, uma gangue. Não é possível. Então, quando sai o mau caráter de lá, um cidadão que transformou um processo em perseguição, que misturava e fraudava a distribuição de processo, porque é impossível um juiz ser competente para processos em todo o Brasil, só fraudando. Então, é um grande fraudador de processo. Quando esse sujeito saiu de lá, então você diz: 'bom, agora tem outros juízes, você vai seguir o ritual. Mas não. Parece que deixou filhotes por lá. E o próprio tribunal, eu concordo, sou gaúcho, sou de lá, trabalhei muitos anos lá no TRF, advogando, grandes turmas, grandes desembargadores. Agora a gente nunca tinha experimentado esse tipo de parcialidade. É uma coisa muita grave, muito séria, porque você conseguiu de repente destruir uma investigação, destruir a imagem do Poder Judiciário lá em Curitiba, destruir empresas multinacionais brasileiras, como se fosse necessário destruir as empresas para chegar até o presidente, para chegar aos diretores. Você poderia investigar todo mundo sem destruir as empresas, a economia, os empregos todos aí. Enfim, parece que é um pesadelo que não termina, não termina. O cidadão sai de lá da forma como saiu, se incorpora a um governo que ele apoiou como magistrado, destruir seu concorrente, decretou prisão indevida, depois assume como ministro da Justiça. Saiu de lá, atirando, recebendo tiro também, tenta se eleger a qualquer cargo político, em qualquer lugar. Presidente, senador, deputado daqui, deputado dali, sei lá onde. Sendo rejeitado aqui e acolá, e conseguiu uma vaga. Mas deixou filhotes. Essa forma de agir, que é a perseguição a Tacla Durán, tem nome: é esconder corrupção doméstica, em casa, na casa dele mesmo. É por isso que o Tacla Durán está fora do Brasil há tanto tempo, sendo perseguido pelo continente europeu, norte-americano. Enfim, o Supremo Tribunal Federal, segundo ele, deu uma liminar, que é um salvo conduto. Você pode vir, você tem direito, tem liberdade assegurada. E eles procuram uma forma, dar um jeito, e usam os mesmos métodos que o Moro usava. Ou seja, pegam um outro processo, e decidiram lá, porque aí seria outro processo, e não aquele que está já no Supremo Tribunal Federal, para desviar, para perseguir, para continuar fazendo as atrocidades que o Moro fez. Olha, o Moro foi useiro e vezeiro em fazer isso. Eu mesmo, como advogado, entrava num processo, tinha uma decisão, ele pegava e dava uma decisão num outro processo, a que você não tinha acesso, e ainda justificava: estou decidindo aqui para que a defesa não veja. Isso daí é lamentável. A gente imaginou: agora, este cidadão está fora do Poder Judiciário, está fora de Curitiba. Agora Curitiba vai seguir o ritual normal, a legislação adequada. E você percebe que a situação tende a continuar. Surpreende negativamente uma posição assumida assim pelo TRF-4.
Cezar Bitencourt teve o sigilo de suas viagens de avião quebrado por Moro, ilegalmente. Em 2006, o então juiz queria prender um investigado, que estava foragido. Para localizá-lo, decretou a quebra do sigilo dos voos de Bitencourt e de outro advogado, Andrei Zenkner Schmidt. Rastreando os voos, Moro pretendia descobrir a localização do investigado.
A decisão atentava contra a inviolabilidade do exercício legítimo da advocacia. Por conta disso, em 2013, ao julgar recurso, o ministro Celso de Mello anulou processo sentenciado por Moro, por parcialidade. Decano, Celso de Mello foi voto vencido. Se sua decisão tivesse sido seguida pelos colegas, o mito do herói não teria sido colocado de pé.
Naquela época, o Judiciário ainda era visto como uma instituição razoavelmente íntegra. Com Moro, esse mito também caiu. É hora de investigar também os filhotes de Moro, principalmente na região Sul, onde atua Malucelli, o co-sogro do ex-juiz e atual senador.
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