Ao demitir general que protegeu golpistas, Lula se enreda na retórica legalista do corrupto Alto Comando

"Ao demitir o general que protegeu os golpistas, Lula tenta enviar um recado de comando às forças armadas", avalia Carla Teixeira

General Arruda, presidente Lula e primeira-dama Janja
General Arruda, presidente Lula e primeira-dama Janja (Foto: Exército/Divulgação | Agência Brasil)


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Por Carla Teixeira 

A essa altura, qualquer pessoa que tenha acesso à Internet e até mesmo as pedras de Marte já perceberam o envolvimento do Exército Brasileiro (EB) nos atentados terroristas do último dia 8 que destruíram a sede dos Três Poderes, em Brasília. Apesar dos inúmeros vídeos publicados que mostram a conivência das forças de segurança e de militares do Exército com a quebradeira, atuando para proteger os manifestantes de serem presos, o Ministro da Defesa José Múcio, teve a cara de pau de vir a público dizer que não se arrepende de ter se referido aos acampamentos como “manifestações da democracia” e que atualmente entende que “não houve envolvimento direto das Forças Armadas” nos atentados contra a República.

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O ministro Múcio parece não gostar de ler jornais, por isso não deve ter visto que os Comandantes das forças armadas publicaram carta em apoio aos acampamentos, ainda em novembro de 2022, depois de terem passado o ano todo questionando o processo eleitoral; também não deve ter smartphone, por isso não ficou sabendo que havia convocações para invasões, naquele dia 8 – seus amigos e familiares que frequentavam o QG também não devem tê-lo alertado; provavelmente sem acesso à Internet, o pobre ministro ignora as imagens dos militares do Palácio do Planalto recebendo os terroristas com as portas abertas; tampouco assistiu ao famoso vídeo em que o major do Exército Paulo Jorge Fernandes da Hora, comandante do Batalhão da Guarda Presidencial que recebe remuneração de R$ 25.625,08, mostra a saída do prédio para os terroristas enquanto tenta impedir a ação da PMDF que cumpria ordens para prender todos os vândalos.

A demissão do general Júlio Cesar Arruda acontece um dia após a reunião de Lula com os comandantes das forças armadas para falar sobre política de Defesa e geração de emprego. E uma semana depois do jornal Washington Post revelar que, ainda no domingo (8) à noite, o general Arruda avisou ao ministro da Justiça Flávio Dino que “vocês não vão prender ninguém aqui”, posicionando blindados para impedir que a PMDF cumprisse decisão judicial enquanto centenas de golpistas escapavam da prisão. Como se vê, até a imprensa internacional consegue evidenciar o envolvimento do Alto Comando do EB nos atos terroristas, mas a miopia política (ou será má-fé?) do ministro da Defesa, não.

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O substituto escolhido, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, ingressou no Exército em 1975 (durante o pior período da ditadura militar) e formou-se aspirante a Oficial em 1981. Em 2014, o general Paiva era o comandante da AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) na ocasião em que Jair Bolsonaro foi ovacionado por militares e lançou sua candidatura à presidência da República para 2018. Àquela altura, Jair Bolsonaro recebia passe livre dos Comandantes para circular nas instalações da AMAN. Não obstante, Paiva tornou-se general e passou a integrar o Alto Comando em 2019, primeiro ano do governo genocida.

Ou seja, apesar do discurso sedutor de defesa da democracia do atual chefe do EB, trata-se de sujeito da mesma turma do Comandante sainte. Como todos do Alto Comando, atuou para eleger e garantir o governo Bolsonaro, é responsável pela atuação genocida na pandemia, pela permanência de general da ativa no ministério da saúde, pela produção e distribuição de cloroquina superfaturada ao país enquanto o presidente se recusava a comprar vacina: “tudo a mesma sopa” (diria Mino Carta). Na prática, Lula troca seis por meia dúzia, além de reafirmar a tradição de colocar Oficiais “legalistas” que se apresentam como “solução” para os problemas que eles mesmos criam à nação. Trata-se, portanto, de mais um logro das forças armadas sobre a sociedade civil neste histórico jogo de cena em que os militares nunca perdem.

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É evidente que, ao demitir o general que protegeu os golpistas e dar o cargo para o general que (ao menos no discurso) se compromete com a democracia, Lula tenta enviar um recado de comando às forças armadas, ainda que não possa exercê-lo a ponto de demitir o ludibriado (?) ministro da Defesa, dissolver o Alto Comando ou então escolher um Comandante fora do critério de antiguidade. Sem uma mudança drástica nos valores e na mentalidade dos integrantes das forças armadas, dificilmente o país se livrará da “tutela militar”. Após décadas de uma República autoritária, o Brasil tateia a passos lentos a busca pela democracia em que as forças armadas sirvam ao país e ao seu povo, não o contrário. A palavra de ordem deve seguir sendo: “Sem anistia!”. Viva a democracia brasileira!!

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