Ao construir farsa contra Lula, Judiciário e mídia foram na jugular da democracia

O jornalista Aquiles Lins, editor do 247, utiliza o conceito de enquadramento para analisar como o Ministério Público, a pedido do juiz Sérgio Moro, construiu o argumento falso de que Lula pôs a culpa de seu suposto crime em dona Marisa Letícia; "As novas revelações do The Intercept Brasil mostram, de maneira inequívoca como duas das mais importantes instituições da República, o Judiciário e a Mídia, se uniram numa guerra contra um líder político popular, solapando a democracia", diz Lins  

Ao construir farsa contra Lula, Judiciário e mídia foram na jugular da democracia
Ao construir farsa contra Lula, Judiciário e mídia foram na jugular da democracia (Foto: Ricardo Stuckert | ABr | Reuters)


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Por Aquiles Lins, editor do 247, e para o Jornalistas pela Democracia

As novas revelações do The Intercept Brasil, de que Sérgio Moro pediu a procuradores da Lava Jato para atacarem o ex-presidente Lula e sua defesa na imprensa, após o primeiro depoimento de Lula a Moro, em 10 de maio de 2017, mostram, de maneira inequívoca, como duas das mais importantes instituições da República, o Judiciário e a Mídia, se uniram numa guerra contra um líder político popular, solapando a democracia.

Em conhecido artigo acadêmico de 1993, o pesquisador Robert Entman, professor de Mídia e Assuntos Públicos da Universidade George Washington, fez uma das definições mais aceitas para o termo enquadramento ("framing") na mídia. Para Entman, enquadrar é "selecionar algum aspecto de uma realidade percebida e torná-lo mais saliente num texto comunicativo, de tal forma a promover uma definição de um problema particular, interpretação causal, avaliação moral e/ou uma recomendação de tratamento para o item descrito".

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No caso do depoimento de Lula na ação do tríplex do Guarujá, o que o Intercept mostrou, além do conluio entre juiz e Ministério Público, foi a construção do enquadramento do tema pelos procuradores, obviamente a partir de premissas falsas, a pedido de Sérgio Moro. Nas mensagens reveladas, Carlos Fernando dos Santos Lima, então decano da Lava Jato, diz: "Eu iria direto na jugular, falando que culpar quem morreu é uma tática velha de defesa". Ele defendeu o enquadramento – e a consequente avaliação moral para o público -, de que Lula, de maneira sórdida, culpou sua esposa, que já morreu, para se livrar do crime que supostamente cometera.

As conversas mostram que houve resistências entre os procuradores, mas a tese de Santos Lima venceu. No mesmo dia, começaram a sair, praticamente em unívoco, reportagens nos principais veículos de comunicação massificando o argumento de que Lula colocou a culpa em dona Marisa Letícia para se livrar da acusação de que o tríplex do Guarujá, reformado pela OAS, seria dele. Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Istoé, Veja, Jornal Nacional... enfim, a totalidade da mídia adotou o enquadramento sugerido pelo procurador Santos Lima, para atender a um pedido do juiz Sérgio Moro. E assim uma mentira virou "verdade", e uma realidade foi construída para manipular a opinião pública.

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No livro "Como as Democracias Morrem", o renomado professor de Harvard Steven Levitsky defende que as democracias modernas estão morrendo por meio da eleição de líderes políticos demagógicos, que usam instrumentos previstos na democracia para enfraquecer as instituições e seus "checks and balances". Tudo "por dentro". As novas revelações do Intercept reforçam o argumento que venho defendendo, de que as democracias também podem morrer pelas mãos das próprias instituições, quando elas se aliam contra determinado líder político, forjando narrativas para elimina-lo da disputa eleitoral e democrática pelo comando de uma nação. Resta comprovado, e restará cada vez mais, que foi o que fizeram o Poder Judiciário e os veículos de comunicação contra Lula.

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