Antineoliberalismo e pós-neoliberalismo
"A possível eleição de presidentes anti-neoliberais na Colômbia e no Brasil projeta uma maioria nunca antes existente no continente", escreve Emir Sader
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Por Emir Sader
Assim que surgiram governos que se opunham aos governos neoliberais, se colocou a discussão sobre que caráter tinham esses governos.
Eu logo propus que os chamássemos governos antineoliberais. Com quatro características que os diferenciam dos governos neoliberais: - a prioridade das políticas sociais no lugar da prioridade dos ajustes fiscais; a prioridade dos processos de integração regional e das relações Sul-Sul, em particular com a China, ao invés todos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos; o resgate do papel ativo do Estado, na indução do crescimento econômico e na implementação de políticas sociais; além de regulação da economia, ao invés da centralidade do mercado e livre comércio.
Surgiram vários governos – Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador – que, de uma forma ou de outra, se opunham ao neoliberalismo, em geral com essas características. A esses se somaram depois o México, Honduras, o Peru, o Chile.
Formaram um conjunto único no mundo de governos que se opunham ao neoliberalismo, depois da América Latina ter sido o continente com mais governos neoliberais e com suas modalidades mais radicais.
Foram caracterizados como governos antineoliberais, pelas razões apontadas acima. Mas ainda não podemos caracterizá-los como governos pós- neoliberais. Por que razões?
No mundo ainda prevalece, amplamente, o modelo neoliberal, apesar de alguns governos tomarem medidas que, de alguma forma, saem do figurino neoliberal. A economia capitalista mundial segue sendo neoliberal. A direita não dispõe de outro modelo. E governos da social democracia tampouco dispõem de uma política econômica que supere o neoliberalismo.
Quando a direita, depois de ser deslocada do governo – como ocorreu com Mauricio Macri no caso da Argentina -, retorna ao poder, retoma a mesma política neoliberal da década de 1990, revelando como esta é a sua política para este período histórico.
Os governos antineolibeais não podem ainda ser caracterizados como pós- neoliberais, porque a economia dos seus países é dominada pelo capital financeiro, com suas atividades centralmente especulativas.
Países que têm políticas econômicas distintas, com papel de destaque do Estado, com prioridade das políticas sociais, que privilegiam os processos de integração regional, se diferenciam nitidamente dos outros, mas não têm força suficiente para construir um modelo distinto, de superação do neoliberalismo. Ainda reagem ao neoliberalismo.
Nos governos progressistas, até aqui, na América Latina, sobrevivem os elementos econômicos característicos do neoliberalismo. Não se conseguiu quebrar o papel hegemônico do capital financeiro, com suas características marcadamente especulativas. Sem quebrar esse eixo da economia, que define um período de recessão, não será possível retomar um ciclo expansivo, indispensável para resgatar políticas de distribuição de renda.
A possível eleição de presidentes anti-neoliberais na Colômbia e no Brasil projeta, na terceira década do século, uma maioria nunca antes existente no continente. Haverá uma forte aliança política entre esses governos, com o México, o Brasil e a Argentina, unidos, pela primeira vez.
Mas essa aliança tem que ser base para a construção de um modelo não apenas de resistência ao neoliberalismo, mas de superação do neoliberalismo, não apenas anti-neoliberal, mas pos-neoliberal.
O que significaria isso? Significaria economias que desloquem a predominância do capital financeiro, em sua modalidade especulativa, como eixo da economia. Significa a passagem a um período histórico em que se avança na construção de Estados centrados na esfera pública. Significa a construção, na América Latina, de economias integradas, com políticas econômicas comuns, com moeda comum, com Banco Central comum.
Se valer da aliança política da grande maioria dos governos do continente, para passar do anti-neoliberalismo ao pós-neoliberalismo.
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